[PSN] Brothers: A Tale of Two Sons

Entender o porquê do surgimento de um  jogo como Brothers: A Tale of Two Sons parece tarefa difícil. Não adianta buscar compreensão de sua totalidade e significações apenas indo em busca dos históricos da Starbreeze Studios e do diretor de cinema sueco Josef Fares, partes integrantes deste ambicioso e singelo projeto. Tudo que encontramos se resume a alguns jogos de tiro em primeira pessoa com qualidade questionável por parte da Starbreeze e comédias de boa qualidade, porém, por vezes, de conteúdo controverso por parte de Fares. Tendo este cenário em mente, seria difícil alguém imaginar que um jogo como Brothers poderia brotar desta parceria. Mas aconteceu.



Acontecimento singular. A jornada dos irmãos Naiee e Nyaa em busca da água da vida para recuperar o pai de ambos, que se encontra adoentado, nos remente à simplicidade de como um jogo de videogame pode ser concebido, porém predestinado a nos oferecer uma narrativa profunda e, por vezes, brutal em como ela mexe com questões emocionais. Entretanto, para o jogador entendê-la, ele deve se entregar totalmente a ela. Sem isto, ele pouco notará.

A inventiva mecânica de jogabilidade nos presenteia com uma espécie de modo cooperativo nas mãos de somente um jogador. No início do jogo, após o irmão mais novo (Naiee) se lamentar pela morte de sua mãe em frente ao simbólico túmulo, o irmão mais velho (Nyaa) o chama para ajudá-lo a carregar seu pai, já em estado de enfermidade. Aparece uma pequena instrução de como controlá-los. O irmão mais velho é controlado pelo analógico esquerdo e o irmão mais novo é controlado pelo analógico direito. Além disto, existem apenas os botões de ação R2 (para o irmão mais novo) e L2 (para o irmão mais velho. Para finalizar, a câmera pode ser rotacionada via R1 e L1. 



Mas só? Sim. Entretanto, as possibilidades proporcionadas por esses poucos comandos são inúmeras e de vital importância para o agregado do enredo e da narrativa. Não se confunda. Estamos diante de um jogo que consegue de forma fantástica manter a essência do que é jogar videogame e, ao mesmo tempo, trazê-la para o entendimento da história. Esses poucos comandos não são exibidos na tela a cada novo puzzle ou a cada nova interação com um NPC em um determinado cenário.

Descubra por si só o que fazer e como fazer. E funciona. De início, parecerá confuso sincronizar a dupla via analógicos. Um se distanciará do outro em alguns momentos, aí eles chamarão um pelo outro, num alerta ao jogador de que alguma coisa errada está sendo feita e, o mais importante, de que os irmãos não devem se distanciar porque…  porque eles são irmãos. As diversas interações que Brothers propicia, no entanto, servem para uma assimilação gradual da diferenciada jogabilidade.

Os ambientes de Brothers são ricos e variados. Lugares que esbanjam vivacidade e ambientações mórbidas apresentam uma rara beleza técnica, fazendo bom uso da Unreal Engine 3, nos trazendo texturas ricas, boa modelagem de personagens e bons efeitos de iluminação como destaques. No PlayStation 3, no entanto, há uns alguns pequenos problemas, como loadings demorados e, em algumas oportunidades, quando esses acabam, o jogo demora alguns segundos para carregar texturas em algumas áreas (não todas). Há uma trilha sonora com faixas singelas, mas que ajudam a embalar os diversos momentos presentes no jogo, assim como o silêncio também é aliado para os diversos contextos durante a caminhada.


 

De fato, o que brilha nos cenários dessa jornada são os elementos que conferem riqueza ao mundo, fazendo o fator técnico apenas complementar o serviço. Passar por vilas e interagir com pessoas nos dá de presente a construção da personalidade dos irmãos. Enquanto temos um irmão mais velho focado nos objetivos, forte e sério, há um irmão mais novo brincalhão, peralta, porém evidenciando a inocência típica de uma criança. Provavelmente é isto que faz de Brothers uma experiência tão bonita e comovente: são crianças e partilham de uma infância pura e plena, apesar dos problemas.

Na resolução dos puzzles, necessária para seguir em frente, a diferença entre os irmãos também se torna taxativa. O irmão mais velho é mais forte, portanto, pode mover alavancas com maior facilidade, consegue nadar, dentre outros atributos. Já o irmão mais novo, por sua vez, consegue passar por partes íngremes, por exemplo, o que será primordial na aventura. Tudo no jogo privilegia o raciocínio.

Em Brothers, os personagens precisam escalar paredes e outras estruturas quase frequentemente. As escaladas são bem contextuais, apresentando uma mecânica eficiente de alternância entre os irmãos. Por vezes, você verá ambientes dessas escaladas se deteriorando, apresentando um empecilho a ser resolvido. Juntos. Há algumas batalhas no jogo, mas são baseadas inteiramente em raciocínio, em que são primordiais ações da dupla para serem vencidas, praticamente não existindo um combate direto por assim dizer, com uma exceção apenas…



Josef Fares talvez tenha experienciado ICO e sua primeira investida em um jogo de videogame deixa clara a inspiração. Os vários bancos presentes no jogo, nos quais ambos os irmãos podem sentar e contemplar a vista maravilhosa do lugar onde estão, possivelmente são um indício. A ambientação medieval, se mesclando com elementos de fantasia , é outro ponto notório. Entretanto, ousamos dizer que, em vários pontos, Brothers consegue superar ICO por sua maior variedade e por sua profundidade mais acentuada, mesmo sendo um jogo mais fácil (puzzles simples, porém geniais e salvamento automático com muita frequência). 

 

Veredito

Brothers: A Tale of Two Sons é o impensável que se tornou real. Com uma jogabilidade que convida o jogador a sentir a importância de cada irmão dentro da narrativa, vemos uma jornada épica que poderá provocar o riso fácil e inocente, assim como a emoção ou o choro diante de um drama profundo e brutal. Junto a isto, ele consegue se manter como um jogo de videogame puro, negando a concepção de que emoções só podem ser passadas por meio de filmes interativos e regados a QTEs. Será uma experiência curta para quem se aventurar, mas que poderá ficar em sua memória durante muito tempo. Talvez para sempre.



Jogo analisado com cópia digital adquirida na PlayStation Store americana.

Veredito

97

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