[PSN] 2064: Read Only Memories

 


 

O poder de contar histórias sempre foi uma das mais valorosas formas de entretenimento da humanidade. Em quase tudo que nos cerca, seja nos contos infantis que ouvimos (ou contamos), músicas, livros, filmes e jogos possuem alguma narrativa por trás. Por sua natureza interativa, videogames são meios especialmente poderosos para se contar histórias, especialmente por meio de gêneros como adventures point-and-click.
 

É na esteira do renascimento do gênero, com jogos como os da Telltale ou com o relançamento das remasterizações dos jogos da Lucas Arts, este tem reencontrado força e servido como um dos meios de contar novas e interessantes histórias. E é com claras influências desses jogos, em especial dos adventures clássicos, que a MidBoss lançou 2064: Read Only Memories para PlayStation 4 nesse começo de 2017.

 


 

2064: ROM faz algo que o diferencia da maioria dos adventures e o aproxima muito mais das visual novels tão comuns no oriente: redução da quantidade de puzzles ao mínimo e se focando exclusivamente na narrativa e nos diálogos, mas mantendo a liberdade do jogador de interagir com o cenário e com as pessoas ao seu redor, explorando o ambiente a seu bel prazer.
 

O jogo se passa em 2064 na cidade de Neo-São Francisco, uma versão cyberpunk da metrópole americana, com direito a pessoas melhoradas através de partes cibernéticas e “híbridos”, seres humanos que passaram por terapia genética e adquiriram características de outras espécies (dos já esperados gatos e cachorros a até insetos) e tanto os diálogos quanto os pequenos detalhes que se captura explorando o cenário passam a impressão de se estar diante de uma gigantesca cidade em um período de inimaginável avanço tecnológico.
 


 

O jogador se depara com uma história cujo esqueleto é bem clichê: no papel de um jornalista com dificuldades para se manter, o jogador acorda e encontra uma ROM (Relationship Organisational Manager ou Administrador Organizacional de Relacionamentos) de um amigo que não vê há algum tempo e que precisa da sua ajuda para desvendar o mistério do desaparecimento do dono dessa ROM chamada Turing.
 

Essa estrutura nada inovadora funciona à perfeição, não só pelo quão bem escrita a história e os diálogos do jogo são, mas pelo enorme carisma de (quase) todos os personagens. Turing em especial, uma pequena ROM que aos poucos se mostra importante não só para o seu criador, mas para a humanidade como um todo, é um companheiro fantástico e ótima personagem, cujo crescimento ao longo da história é um atestado do quão bem a escrita do jogo é.
 


 

Os desenvolvedores também fizeram um ótimo trabalho em utilizar o visual futurista com doses cavalares de neon e sua trilha sonora recheada de sintetizadores (a estética do jogo parece saída de um filme de sessão da tarde produzido nos anos 80) e dar uma energia e vivacidade aos personagens, mantendo as longas horas de leitura prazerosas. Tudo isso ainda é ajudado pela equipe de dubladores (que, inclusive, conta com a participação de YouTubers como o Jim Sterling interpretando… ele mesmo) que entrega um produto muito superior ao que o (aparente) baixo orçamento leva a se esperar.
 

Por mais que o grande destaque deva ser dado a ótima história principal do jogo, cujo mistério mantém o jogador curioso a cada novo diálogo e cujas várias reviravoltas continuam a aumentar a escala da trama (e cujo final possui o timing correto), há muito mais nas sub-tramas e nos detalhes do cenário. Das motivações de grupos que se opõem à terapia genética às razões das pessoas que procuram esses tratamentos, passando por breves discussões sobre a cultura das empresas de tecnologia e de imprensa, o mundo de 2064: ROM parece real e as discussões que o jogo traz, através de alegorias, são muito atuais e pertinentes (o que era de se esperar, já que a MidBoss é uma das responsáveis pela GaymerX, evento voltado a comunidade LBTGQ).
 


 

Apesar do quanto isso possa afastar alguns jogadores, 2064: ROM é fantástico em mostrar ambos os lados dos argumentos em todas as situações e apresentar os diferentes tons e razões por trás das ações dos envolvidos que, em um mundo cada vez mais dualista e dividido, estimula o jogador a refletir. Não há um tom militante, mas sim a brilhante apresentação de todos os personagens, sejam eles puristas, híbridos, humanos, robôs ou pessoas com implantes, como personagens críveis e cheios de nuance e motivações distintas e críveis.
 

Por mais brilhante que a narrativa de 2064: Read Only Memories seja, seus puzzles são muito mais The Walking Dead do que Day of the Tentacle. A maior parte do desafio vem das escolhas dos diálogos, com os puzzles se limitando a “pegue o item x e use/entregue no ponto y” ou a guiar um dos personagens até um ponto ativando nódulos. Não há muito desafio nos puzzles e as escolhas de diálogo ficam muito óbvias logo de cara (além disso, o jogo não te pune por “falhar”), então a progressão pela história é bem simples.
 

A grande razão para se jogar 2064: ROM realmente é a sua história e a ambientação. O jogo possui ótimos personagens, trilha sonora impecável e um visual único (por mais “pixel art” que seja, buscando evocar os adventures de PC – inclusive, utilizando o touchpad como um “mouse”). Se o jogador busca por desafios que exijam raciocínio e testar diversas combinações de itens até encontrar a solução, não vai ser aqui que se encontrará. Existe alguns outros pequenos problemas, como a baixa velocidade dos diálogos (que incomoda principalmente num segundo playthrough) e a falta de um auto-save, mas há uma maravilhosa e envolvente história que merece ser apreciada por quem busca narrativas envolventes, do jeito que só videogames sabem como proporcionar.
 


 

 

Veredito

2064: Read Only Memories é um ótimo adventure, com um estilo visual e identidade cyberpunk saída direta dos anos 80. Conta uma das melhores histórias dos últimos anos, mas falha em entregar um gameplay cativante ou desafiador.

 

Jogo analisado com código fornecido pela MidBoss.
 

 

Veredito

92

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Veredict

2064: Read Only Memories it’s a great adventure, with a nice visual style and cyberpunk identity straight out of the 80s. It delivers one of the best stories of the last few years, but fails in crafting a challenging or captivating gameplay.