Os Cavaleiros do Zodíaco: Alma dos Soldados é um jogo complicado de se analisar. Primeiro porque ele é basicamente uma atualização de seu antecessor, Bravos Soldados – uma versão "Super" ou "Ultimate", por assim dizer. Mas, ao mesmo tempo, é um jogo novo para os brasileiros por causa de sua dublagem e também pelas novidades vindas como consequência da atualização.
Porém, nada disso é mais importante do que a seguinte pergunta: você gosta de Os Cavaleiros do Zodíaco? Se sua resposta for sim, continue lendo essa análise. Se for não ou se não conhece a franquia, não será este jogo que o fará gostar. Somente fãs gostarão. Não temos aqui um caso no qual as pessoas que não conhecem a obra (principalmente o anime) possam se interessar pelo material de origem por causa do jogo. Longe disso, é capaz de odiarem mais ainda porque em sua essência, Alma dos Soldados é um jogo muito simples, possuindo profundidade apenas para quem gosta da série e principalmente para os nostálgicos.
Alma dos Soldados, como dito, é uma atualização de Bravos Soldados. Antes de falarmos sobre os diferentes modos de jogo disponíveis, vamos entender seu gameplay. Se você jogou o anterior, saberá o que encontrar aqui, pois é basicamente a mesma coisa: são combates 1 contra 1 em ambientes 3D. Quadrado e triângulo são os golpes fracos e fortes, respectivamente, podendo ser combinados para diferentes combos. X pula. Bola lança um simples projétil. Agora, pressionando L1 (defesa), os botões mudam para agarrão e dash. Com R2 e mais um botão, você usa os ataques especiais – no caso de bola, é o big bang. O big bang só pode ser usado quando a barra para o sétimo sentido estiver cheia. Com ela cheia, ou você usa o big bang de uma vez, ou ativa o sétimo sentido com R3 para poder impedir um combo do inimigo e, durante esse período de ativamento, usar o big bang.
Se pressionar L2, o seu cosmo será enchido e, enquanto estiver pressionado, é possível executar os chamados ataques explosivos com quadrado ou triângulo ou andar na velocidade da luz em direção ao oponente com X. Enchendo sua barra de cosmo, os ataques especiais mencionados no parágrafo anterior podem ser usados. Por fim, o R1 pode escapar de um combo inimigo se você tiver cosmo para isso.
Parece muito complicado, mas é simples e você pega o jeito rapidamente. O vídeo abaixo é o tutorial do próprio jogo e pode explicar mais facilmente do que via texto.
Por ser um jogo de luta, a diversão está nos diferentes modos de jogo. O principal, chamado de "Lenda do Cosmo", é onde estão as quatro sagas: 12 Casas, Asgard, Poseidon e Hades. Seguindo a proposta criada pela NetherRealm Studios ainda na época que o estúdio não existia propriamente dito com Mortal Kombat Vs DC, Alma dos Soldados conta a história com cutscenes desta vez (uma das principais críticas de Bravos Soldados era que tudo do modo história era via texto). Infelizmente, as cutscenes são muito simples – até demais, na verdade. As animações não possuem muitas variações: os personagens possuem cerca de cinco poses nelas, mas tudo é compensado pela dublagem. A Bandai Namco finalmente atendeu ao pedido dos fãs brasileiros e usa a mesma dublagem que escutávamos desde a época da Manchete – é simplesmente sensacional.
A dublagem merece muito destaque, pois além de ser muito boa e com a qualidade que esperávamos, ela permanece durante a luta. Ou seja, os gritos de dor e de ataque continuam sendo dos dubladores brasileiros – não é como em Mortal Kombat X, por exemplo, que na hora da luta as vozes são trocadas para os dubladores americanos. De qualquer forma, se você prefere as vozes japonesas, é possível trocar para elas sem maiores problemas.
Ainda sobre o "Lenda do Cosmo", sua mecânica é similar ao jogo anterior: cada luta possui objetivos opcionais a serem cumpridos, assim como um rank, aumentando a "vida útil" do modo.
Um novo modo de jogo aqui é o "Batalha de Ouro". Usando coisas como frases de ajuda (que na verdade são espécies de boost para o personagem), você luta usando um dos 12 cavaleiros de ouro com armaduras divinas e enfrenta outros cavaleiros de ouro ou até mesmo de bronze, também com armaduras divinas. É um modo interessante e que pode ser visto brevemente no vídeo abaixo, mas acaba se tornando monótono, pois as histórias aqui não são tão bem desenvolvidas quanto as presentes no "Lenda do Cosmo".
Já no modo "Batalha", é possível fazer as clássicas partidas versus com seus amigos ou contra a CPU, seguindo diversas regras. Infelizmente, para poder usar os personagens do jogo, é preciso primeiro habilitá-los nos modos mencionados anteriormente. Além desse modo versus, temos os já também conhecidos Sobrevivência (vença uma sequência de lutas sem poder recuperar a vida – a recuperação só acontecerá se cumprir com o objetivo pedido e se ele estiver disponível) e Torneio Guerra Galáctica, que são mais maneiras de você lutar com o seu personagem favorito, sem seguir muito a história do anime.
Temos também a opção de Batalhas Online. Com brasileiros as lutas são fluentes, mas infelizmente se o seu oponente for um pouco mais distante de nosso território, as lutas serão bastante lagadas e baseadas na sorte. Como não há troféus online, você encontrará apenas pessoas dispostas a treinarem e aperfeiçoarem o gameplay; portanto, pode ser frustrante para muitos jogadores que só buscam partidas descompromissadas.
Por fim, temos diversos colecionáveis. E aqui surge um dos maiores problemas do jogo: o "grind". Para destravar todos os itens (que consistem em frases de ajuda para o modo Batalha de Ouro principalmente, inúmeras skins, cenários, trilha sonora, etc), é preciso de muitas moedas, o que fará você ficar jogando determinados modos e lutas muitas vezes, apenas para acumular o que é preciso para destravar tudo. Não que o "grind" seja errado, mas quando ele se torna chato e o único recurso é esse, é um problema.
Outro problema que foi comentado brevemente no parágrafo sobre o Lenda do Cosmo (quando falamos das cutscenes e das animações limitadas dos personagens) são os gráficos do jogo. As animações dos personagens são satisfatórias durante as lutas, assim como seus modelos muito bons e fiéis à arte do anime. Porém, os cenários continuam pobres e sem vida. A música também não empolga, deixando muito a desejar. Um último problema seria o gameplay simples: está mais fácil conectar os ataques big bang agora, inclusive fazer combos com os ataques explosivos seguidos da velocidade da luz. Ainda assim, é um gameplay raso e limitado, que pode deixar muitas pessoas insatisfeitas.
Veredito
Os Cavaleiros do Zodíaco: Alma dos Soldados é o jogo que eu esperei literalmente mais de 20 anos para que existisse. A criança dentro de mim está estourando de felicidade com o produto que tenho em mãos: um verdadeiro jogo baseado no anime e ainda por cima com os dubladores brasileiros. Mas a minha versão adulta é mais crítica e repara em alguns problemas, como a trilha sonora que não empolga e o gameplay limitado e repetitivo. Mas ao mesmo tempo, essa minha versão adulta também repara nas qualidades, como os modelos dos personagens, a dublagem e a variedade de modos. O resultado? A nostalgia falou mais alto. Não jogue se você nunca foi fã ou nunca se interessou por Cavaleiros. Se você é fã, jogue. Com certeza poderíamos receber um produto melhor do que o que temos em mãos, mas a criança de 1994 dentro de mim está falando lá no fundo: "como esse jogo pode ser ruim?".