Ninja Gaiden Sigma Plus

Ninja Gaiden, para o Xbox original, foi um jogo muito à frente de seu tempo. Tão à frente que mesmo hoje, 8 anos depois de seu lançamento, suas mecânicas continuam atuais e poucos jogos do gênero conseguem se equiparar à grandeza da re-imaginação do clássico do NES. Possuidores de um PS3 foram agraciados no início da vida do console com Ninja Gaiden Sigma, uma versão melhorada e em alta definição do jogo, portada agora para o Vita com alguns adicionais, na forma de Ninja Gaiden Sigma Plus (NGS+).

Em NGS+, você é Ryu Hayabusa, um poderoso guerreiro do clã Dragon Ninja. No início do jogo, Ryu tem seu vilarejo destruído por demônios, e a espada maligna que seu clã guardava, a Dark Dragon Blade, é roubada por um demônio samurai chamado Doku. Seguindo seu código ninja, Ryu inicia sua jornada por vingança.

Eu não consigo falar muito do enredo de NGS+. O enredo é o mesmo das versões anteriores,e continua tão sem graça quanto antes: história clichê e mal-contada, diálogos ridículos, personagens unidimensionais e cutscenes risíveis. Quem espera uma história bacana em Ninja Gaiden pode cruzar os braços.

Felizmente, não jogamos NG pela história, e sim pelo combate frenético, pelo desafio elevado e pela sensação de estar no comando de um ninja ágil e poderoso. No que se propõe a fazer, NGS+ é um dos melhores jogos do gênero, mesmo sendo, em sua base, um jogo de oito anos atrás. Ryu faz tudo que você espera que um ninja fictício faz: anda em paredes, corre sobre água, é expert com praticamente qualquer tipo de arma, pula e rola distâncias absurdas enquanto degola ondas infindáveis de inimigos. Tudo isso vem da jogabilidade rápida e divertida, que garante combates frenéticos, desafiadores e de alta satisfação – não existe sensação de alívio maior que entrar em uma sala de 120 inimigos na dificuldade Master Ninja e sobreviver para salvar o jogo.

E já que tocamos em desafio, que fique o aviso: NG já é um jogo famoso pela sua dificuldade elevadíssima, sendo o típico jogo que você consegue entender facilmente, mas só consegue se tornar eficiente com muito treino e morte. A versão Vita conta com um modo chamado Hero Mode, que facilita em muito a vida do jogador, mas qualquer dificuldade acima desta fornece desafio. Se você se frustra facilmente com dificuldade, recomendo que não selecione nada acima de Easy, visto que até o Normal possui seções de enlouquecer os menos hábeis.

O maior desafio de NGS+, porém, está no uso das particularidades do Vita. Num todo, NGS+ tem controles excelentes, mas os momentos em que você deve mirar em primeira pessoa, são agonizantes. Explicando: ao clicar na tela do Vita, em qualquer ponto, você entra na visão em primeira pessoa. Até aí, tudo bem – algumas vezes você pode tocar a tela sem querer ao mexer no analógico direito, mas nada realmente incômodo. O problema vem na hora de mirar e atirar. Algum gênio dentro do Team Ninja achou que seria uma ideia espetacular fazer com que você mirasse usando o giroscópio do Vita e atirasse clicando no inimigo. Outro ser humano ainda mais genial achou que seria de bom grado fornecer os controles clássico (mirar com o analógico e atirar com O), mas sem desligar o giroscópio.

Difícil de entender? Basicamente, não importa qual esquema de mira você escolha, o giroscópio é permanentemente ligado. Isso quer dizer que você pode escolher entre a mira imprecisa do giroscópio ou mirar com o analógico e ter sua precisão arruinada pelo sensor ao menor movimento que você fizer. A parte do jogo em que você deve destruir uma torre com suas flechas foi, para mim, pior que qualquer outra. Pior que Alma, pior que o Fiend Challenge do Stadium… Sabemos que é costume os jogos da primeira geração de cada console abarrotar a jogabilidade com o uso das funções “únicas” do hardware, e os resultados geralmente são ruins ou dispensáveis. Aconteceu com o DS, aconteceu com o Wii, aconteceu com o SixAxis do PS3 e acontece agora com o Vita. O que mais incomoda no caso de NGS+ é que se trata de uma decisão de design ridícula e totalmente impensada – bastava desligar o giroscópio quando a opção de mirar com os analógicos fosse selecionada e pronto. Esse erro incrivelmente simples (e estúpido) por si só já torna a versão PS3 amplamente superior à do Vita.

No aspecto gráfico, a versão Vita é surpreendente por ser virtualmente idêntica à do PS3. Embora a resolução no portátil seja 1/4 da vista no console de mesa, o downgrade gráfico é quase imperceptível. Os mesmos efeitos de luz, fogo e sombra, as mesmas animações, os raríssimos momentos de slowdownNGS+ não é de cair o queixo, mas ainda é muito belo. O “problema” gráfico do Vita fica por conta da taxa de frames (ou quadros) por segundo. NGS no PS3 rodava a 60fps fixos, enquanto NGS+ roda a 30. Não é uma diferença monumental, e trata-se de algo praticamente imperceptível para quem não jogou NGS/NGS2 recentemente, mas acarreta alguns problemas.

O problema da diminuição de frames, porém, não é a suavidade do jogo (já que a NGS+ roda muito bem), mas sim o fato de que NG é um jogo de precisão, em que para vencer os maiores desafios, o jogador deve abusar de just-inputs, frame-cancels e outras técnicas avançadas. Essas técnicas avançadas consistem em cancelar uma animação do personagem utilizando-se de outra, algo comum nos famosos combos infinitos em jogos de luta, por exemplo. Assim, se o jogo roda a 60fps, você tem duas vezes mais frames para cancelar do que em um jogo que roda a 30fps. Se você tinha, por exemplo, 10 frames para cancelar um ataque de Ryu em uma posição defensiva em NGS, em NGS+ você dispõe de apenas 5 frames. Em outras palavras, embora a menor taxa de frames não se traduza em visuais piores, ela oferece um pouco mais de dificuldade para quem joga NG em níveis mais avançados.

Nem tudo em NGS+ é inferior à versão PS3, porém. A versão portátil, além da conveniência de ser levada para qualquer lugar, conta com algumas novas missões no Mission Mode e algumas roupas novas para Ryu e Rachel. A maior das adições, porém, é realmente o pacote de troféus. Veteranos de NGS que adoram desafio vão se esbaldar com coisas como terminar todos os capítulos com ranking Master Ninja na dificuldade Master Ninja e outros desafios insanos. Nenhuma outra melhoria significativa foi feita, entretanto – os loadings estranhos ao se adquirir itens, a impossibilidade de se escolher as fases e o sistema de save estranho permanecem, e não custava nada dar uma melhorada nesses aspectos.

Apesar disso, e embora eu considere NGS+ um jogo excelente, não o recomendo muito. A versão do PS3, sem as horrendas decisões de design de sua contra-parte e com a taxa de quadros por segundo duas vezes maior, é vastamente superior (e mais barata), e nenhum dos poucos extras da versão portátil fazem valer a pena comprar o mesmo jogo novamente. Portanto, apesar de ser um jogo de qualidade indiscutível, eu recomendo NGS+ apenas para um grupo restrito de jogadores: os aficcionados por troféus e aqueles que de forma alguma podem jogar a Ninja Gaiden Sigma no PS3.

— Resumo —

+ Adaptação fidelíssima de Ninja Gaiden Sigma.
+ Extremamente desafiador.
+ Jogabilidade rápida, fluida e divertida.
+ Mission mode com algumas novas missões.
+ Ninja Gaiden em qualquer lugar.

Maldito giroscópio.
30 fps comparados aos 60 do PS3.
Nenhuma novidade ou melhoria substancial.
Enredo tosco.

Veredito

70

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