Need for Speed Unbound – Review

A série Need For Speed teve diversos altos e baixos e, dependendo de quem você pergunte, uma época de ouro diferente para cada fã. Independente das opiniões gerais, NFS nunca foi uma série com medo de se reinventar e Unbound é, simultaneamente, um título familiar e uma nova e brava direção para a série. O título é uma agradável surpresa que constrói uma nova experiência de corrida utilizando da base de seu predecessor e o resultado é um dos melhores jogos de corrida dos últimos anos. 

A história de Unbound se inicia com Jaz e o personagem do jogador correndo pela cidade de Lakeshore com um carro que ambos trabalharam para restaurar. A dupla tem o objetivo de se tornar lendas das ruas e conseguir uma vida melhor, mas um evento inesperado interrompe esses planos e o jogador perde esse veículo. Dois anos depois, um grande evento de corridas de ruas é anunciado em Lakeshore e o jogador se vê com a oportunidade de recuperar seu veículo e se tornar uma lenda na cidade. 

Como muitos outros Need for Speed, a história é bastante previsível e serve como pano de fundo para as corridas, no entanto, os diálogos de sua equipe e os eventos clichê a tornam bastante divertida. Essa seria uma versão moderna e menos séria do que Most Wanted fez na época do PS2 e digo que os desenvolvedores conseguiram fazer um bom trabalho com a história. Ao contrário de muitos outros NFS, a história também impacta drasticamente como o progresso do jogo foi construído. 

O grande evento de Lakeshore acontece durante 4 semanas e todo sábado acontece uma eliminatória e, no último, a corrida derradeira para decidir o campeão. Assim como Need for Speed Heat, Unbound é dividido em ciclos de dia e de noite e, cada um, contém eventos diferentes com prêmios financeiros e até mesmo carros. O dinheiro é usado para customizações visuais do carro e do personagem, comprar peças para melhorar seus veículos, novos carros e, também, para a inscrição de eventos pela cidade e para as eliminatórias. 

Uma das novidades mais audazes de Unbound é que a grande maioria dos eventos (as eliminatórias inclusas) cobram uma taxa de entrada e, dependendo da posição do jogador, é possível perder dinheiro em eventos. Naturalmente, uma colocação maior garante um retorno maior e, mesmo não chegando em primeiro colocado, o jogador ainda pode sair com um lucro considerável. Com exceção de eventos de alto risco e alta recompensa, usualmente, somente as últimas colocações costumam perder dinheiro. 

Para evitar que os jogadores repitam os eventos até ganharem, o número de repetições de corridas é limitado de acordo com a dificuldade escolhida. Na dificuldade normal, é possível repetir eventos até 4 vezes em um dia e na dificuldade difícil somente 2 vezes. Como esse número limitado de repetições é carregado do dia para a noite, o jogador, mais cedo ou mais tarde, vai ter que começar a aceitar derrotas com o intuito de utilizar essas repetições em eventos maiores e mais importantes. 

Seja de dia ou de noite, há uma boa variedade de eventos e que será praticamente impossível do jogador tentar todos eles. Os eventos são divididos por categorias de carros e variam entre B, A, A+, S, S+ e o jogador necessita ter pelo menos um veículo da categoria correta para participar. Em NFS anteriores, o jogador facilmente obtinha uma grande variedade de veículos para dirigir, mas a economia de Unbound não permite isso tão facilmente. Além disso, uma vez que o jogador saia no mapa, retornar a garagem irá passar o tempo do dia para a próxima fase, portanto, é necessário ter todos os carros prontos de antemão. 

Outro fator, também, é que todos os eventos aumentam a pressão policial no jogador, portanto, quanto mais eventos participar, mais agressiva a polícia será. A pressão policial só retorna ao normal após concluir a noite, ou seja, a pressão adquirida de dia será transferida para a noite. As perseguições policiais carecem das várias opções que vemos em jogos passados da série (spike strips, EMPs, etc.), portanto, é usualmente uma caça mais simples de um grupo de viaturas policiais e helicópteros contra o jogador. A AI da polícia é bastante pegajosa e com um rubberband difícil de se despistar, o que, às vezes, torna as perseguições mais cansativas do que intensas. Também não ajuda que os policiais são muito facilmente provocados mesmo fora de corridas e eventos. 

Com todas essas diferentes dinâmicas em jogo, o jogador precisa planejar com cuidado cada ciclo de dia/noite. Arriscar em eventos com alta recompensa, mas também com alta pressão policial. Ou em eventos que pagam menos e permitem entrar na próxima etapa de maneira mais tranquila. Focar em eventos de dia e fazer somente os mais importantes durante a noite ou vice-versa. As opções são muitas e, com o limitante de tempo dos dias/semanas, o jogador também precisa planejar muito bem o uso de seus ganhos financeiros em peças, veículos e customizações. Isso torna a experiência de jogo interessante pelo planejamento, intensa pelo fato de não ter repetições infinitas e consequências palpáveis por ganhar e perder e também frenética quando você está escapando de todo um departamento de polícia após ganhar uma enorme bolada. 

A jogabilidade segue o que foi construído desde o NFS 2018 com ampla capacidade de customização do veículo e uma jogabilidade arcade, mas que não é exagerada para o mesmo. O manuseio dos carros teve um polimento considerável se comparado com Heat e as diferenças são facilmente perceptíveis mesmo fazendo poucas mudanças nas opções de cada veículo. 

O design da cidade também preza por ruas amplas, sem muitos carros nas estradas, boa visibilidade e com caminhos alternativos com saltos e/ou off-road para trazer alguma variedade às pistas de corrida. A AI foi trabalhada para trazer um desafio moderado e na dose certa, sem um uso abusivo de rubberband ou outros “truques” clássicos em jogos de corrida. De certa forma, a jogabilidade foi uma evolução compreensiva e natural do que vem sendo feito desde o reboot. A única característica que gostaria que melhorasse é a sinalização dos caminhos a serem percorridos e que eram muito mais chamativos em Heat do que em Unbound. 

O multiplayer por sua vez assume a característica de uma campanha separada, mas sem a pressão por tempo do modo história. O jogador inicia com um veículo básico e, correndo com outros jogadores em eventos, ganha dinheiro para investir em peças, outros veículos e customizações. Ao contrário do modo história, caso o jogador não tenha um carro da categoria correta, o jogo empresta um veículo sem penalidades. É uma forma adequada de garantir que todos tenham pelo menos uma forma de competir num nível mais básico. Mesmo os jogadores com classificações inferiores ganham dinheiro, portanto, sempre há um progresso em cada corrida. Em minha experiência, consegui jogar corrida com jogadores do PS e PC, sem atrasos e encontrei eventos facilmente. 

Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Electronic Arts.