NASCAR Arcade Rush – Review

Sejamos todos sinceros: a NASCAR, nomenclatura que deriva de National Association for Stock Car Auto Racing, nunca chegou a ser um esporte que possamos chamar de popular aqui no Brasil. Claro que há seus entusiastas, pessoas que acompanham o automobilismo como um todo, mas é uma categoria que fora dos domínios estadunidenses, não parece encher os olhos de muita gente. Eu cresci tentando me conectar com aquelas corridas em circuitos normalmente ovais e confesso ter assistido mais corridas da Stock Car – estrangeira e brasileira – do que deveria, mas na prática, as únicas coisas parecidas com aquilo que realmente me importam são a cinessérie de animação Carros, da Disney/Pixar, e o game Daytona USA do SEGA Saturn, mas esse é mais pela nostalgia do que pela marca em si.

Os jogos baseados na franquia, por sua vez, tiveram lá seus altos e baixos, mas pareciam sempre versões engessadas que em nada traduziam a adrenalina de games arcade como Need For Speed, nem a simulação da direção mais dedicada de Gran Turismo ou Forza. Seja a série numerada da EA do início do século ou mais recentemente a linha Heat, passando pela derivação Rumble da era do PSOne ou o malfadado Unleashed de PS3, nunca houve um jogo que se mostrasse uma verdadeira unanimidade mesmo dentre os fãs do esporte original. A corrida em carros de turismo é das mais populares do mundo dos games, mas a categoria em si jamais decolou de verdade no mundo dos videogames.

NASCAR Arcade Rush, criado pela Team6 Game Studios e distribuído pela GameMill Entertainment, é a mais nova aposta da consagrada marca no mundo dos jogos, desta vez partindo de um olhar muito distinto da sisudez de outrora. O game aposta no tom totalmente arcade de se correr, e se parece com uma mistura entre games de kart e clássicos como Top Gear ou Horizon Chase, um encontro que pode agradar bastante uma parcela do público que sempre torcia o nariz para as longas corridas em ovais pouco diversificados que acabaram marcando os games anteriores, mas que deve distanciar quem gosta de sujar a mão de graxa e fazer as coisas da forma mais próxima do mundo real. O objetivo está, portanto, na captura de um jogador que busca experiências mais casuais, pautadas pela diversão descompromissada.

Há basicamente uma série de pistas famosas redesenhadas e reconfiguradas para o novo estilo. Saltos, passagens especiais, trechos fora dos circuitos tradicionais, temas coloridos, tudo faz parte de um espetáculo mais vibrante e saturado. Para o single player, são nove torneios, cada qual com quatro corridas em pistas diferentes, com uma contagem de pontos de acordo com a posição final, modelo que fãs de games do estilo reconhecem sem esforço, e há também opções para corridas solo e um Quick Play para tomadas de tempo, corridas abertas e coisas assim. Não há qualquer tentativa de incluir uma narrativa ou mesmo qualquer contextualização, e senti falta até de ver mais sobre pilotos, equipes e elementos característicos da NASCAR, porque se a ideia é popularizar a marca, ela fica só no título. É como se nem o jogo nem a própria categoria adicionassem algo um ao outro.

O multiplayer online faz parte do pacote, mas não consegui encontrar partidas disponíveis para testar conectividade e competitividade por lá. Como o período de análise englobou o lançamento, creio que havia pouca gente se aventurando pelo modo, mesmo em horários mais comuns. Ainda assim, por não ser um título de alto orçamento e de marketing agressivo, precisará conquistar fãs aos poucos, pelo boca a boca, para aí sim ter um ecossistema povoado de fato. Potencial para isso há, então resta esperar para saber se haverá um apelo ao nicho para que a coisa funcione. Para mim, foi o multiplayer local que trouxe a oportunidade de competir com alguém, e me diverti bastante já que sem muitos pré-requisitos, as corridas contra a família e amigos tendem a ser disputadas mesmo correndo ao lado de quem tem menos familiaridade com jogos de corrida.

O maior problema de NASCAR Arcade Rush, está, porém, na sua maior potência. Contraditório, eu sei, mas já explico: a simplicidade do jogo, que se prova objetivo em sua totalidade sem quaisquer melindres ou tentativa de profissionalização de ajustes e configurações, também torna a longevidade do título limitada. Todo o seu progresso está pautado em pontos de experiência que se ganha correndo, permitindo que se suba de nível e, com isso, se desbloqueie mais carros e outras perfumarias para customização. Tudo, absolutamente tudo, é puramente estético, então conseguir liberar o carro nível 100 – um fusca todo estilizado, devo acrescentar – só lhe dá mais uma possibilidade de correr as mesmas corridas com uma máquina diferente das anteriores. Aerofólio, rodas e outros elementos idem, permitem que nosso equipamento seja personalizado, tal como capacete e macacão de corrida, mas nada que realmente faça grande diferença de verdade.

Esta simplicidade se traduz em corridas com pouca exigência técnica e uma certa displicência de pilotagem. Para incluir mais jogadores pouco especialistas, há que se tornar tudo menos complexo, não pela dificuldade, já que em certas ocasiões a CPU pode ser bastante agressiva, mas pela dirigibilidade. Dá pra fazer a grande maioria dos circuitos, por exemplo, sem soltar o botão do acelerador, muito menos usando o comando de frenagem, porque são pistas largas, muretas bem confortáveis e poucos pontos de queda. Sair digirindo desembestado vai gerar, no máximo, aquela quicadinha na guia lateral que pouco afeta o desempenho do carro e, não raro, é melhor fazer isso do que usar o freio para uma curva mais limpa. Se o jogador decorar a pista e entender o traçado, com tomadas tangencialmente otimizadas, aí nem mesmo a maior dificuldade é um problema.

O maior desafio do jogador, durante a peleja, é basicamente se utilizar dos pontos de boost ao máximo. Estas são basicamente marcações em pontos específicos da pista que nos dão um momento de aceleração potencializada, e não são nem um pouco surpreendentes para quem já jogou qualquer Mario Kart ou Sonic Racing da vida. São dois tipos: o primeiro, de cor fria, é mais simples e só dá uma força a mais; e o segundo, de um alaranjado mais quente, além de resultar no mesmo efeito, ainda ajuda a carregar uma barra de turbo que pode ser utilizada parcial ou na totalidade a qualquer momento. Ou seja, além desses potencializadores comuns a todos, há também esse extra que o jogador escolhe quando utilizar. O preenchimento deste elemento é a única informação na HUD que realmente faz diferença de se acompanhar durante a corrida. As demais são meramente protocolares e informativas, e falta um velocímetro, um mapa do traçado, coisas básicas que, por escolha criativa, ficaram de fora.

Via de regra, como o jogo parece ser daqueles que equilibram as coisas e permite que todos os concorrentes estejam mais ou menos sempre na mesma toada, é difícil abrir vantagem para administrar mais pra frente, porque mesmo fazendo uma corrida perfeita, ainda vai ter todo mundo na sua cola esperando a primeira bobeada. Exatamente por isso, me dei melhor acumulando tudo para o final, administrando 80% da corrida para sempre estar ali no pelotão da frente, para só então queimar tudo na reta final, algo que funcionou em praticamente todas as corridas mais complicadas. Só tive mais dificuldade quando as pessoas com quem eu joguei aprenderam este esquema e copiaram. Isso ilustra como, no geral, a questão estratégica e as escolhas são minimizadas a quase nada, o que machuca bastante qualquer vontade de dedicação ao jogo.

Não há dúvidas, porém, que o jogo é extremamente encantador para os primeiros olhares. Pistas vibrantes, carros belíssimos e nenhuma economia em cores e luzes faz desse jogo um espetáculo à primeira vista. O traço consegue misturar um realismo nas formas com algo mais cartunesco na colorização, na animação e na geração de partículas, o que  significa que NASCAR Arcade Rush se distancia da estilização nostálgica de outros, como o já citado Horizon Chase, mas também não está preocupado com o ultra-realismo dos jogos de corrida de maior escopo como Project Cars, encontrando um meio termo interessante. Passados os primeiros encantamentos, entretanto, a pouca diversidade temática nas pistas vai desmontando o fascínio e algumas poucas horas depois, tudo já parece mais do mesmo. Depois que vencemos os nove torneios em umas seis ou sete horas e basicamente desbloqueamos tudo o que há pra se ver nos cenários e traçados, nada mais tem muito efeito.

No que se refere a parte sonora, aí o prejuízo é um pouco menor, mas ainda assim instável. Sem qualquer intenção de emular realisticamente o ronco das máquinas reais e sem um trabalho sofisticado de aceleração e frenagem, o som constante das corridas é basicamente um ruído genérico de motor mesclado com o efeito infinitamente repetido de boost, salvo por uma batida de um punk rock pasteurizado e um tanto quanto esquecível, mas efetivo para o propósito de oferecer uma dose a mais adrenalina para cada corrida. Por suas vez, as canções dos menus são mais elaboradas, trazem uma vibe noventista e valorizam o produto. E se a NASCAR não é tão famosa por aqui a ponto de se importarem em colocar localização para o nosso idioma, não há qualquer problema porque há muito pouco, em texto, o que se entender, então praticamente não faz falta nenhuma ter qualquer elemento em português brasileiro. Até nisso, o estado simplificado extremo do jogo ajuda.

Como um pacote simples feito para dias complicados, NASCAR Arcade Rush é um ótimo jogo de corrida para a família, principalmente para quem quer se importar pouco ou nada com qualquer elemento extra-pista. Pegue, escolha seu carrinho pela beleza, pegue uma pista dentre as possíveis, segure o acelerador e… só vai. Não precisa nem olhar em volta, porque o HUD oferece nada mais do que o mínimo, seu veículo não tem efeitos práticos de colisão e a IA pouco se importa se você está lá ou não, e vai se comportar como se estivesse sozinha. Para quem espera mais do que isso, o game pode não durar mais que algumas voltas, mas para quem quer só estacionar o dedo no acelerador, talvez este seja o primeiro NASCAR onde vale a pena investir.

Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela GameMill Entertainment.

Veredito

NASCAR Arcade Rush é exatamente aquilo que promete, entregando um jogo de corrida simplificado e casual sem quaisquer complicadores especializados ou coisas do tipo. Abusando das cores em um visual encantador, oferece uma jogabilidade leve e descompromissada, perfeita para tardes preguiçosas, mas longe da sofisticação que muitos fãs de esportes a motor esperam.

65

NASCAR Arcade Rush

Fabricante: Team6 Game Studios

Plataforma: PS4 / PS5

Gênero: Corrida

Distribuidora: GameMill Entertainment

Lançamento: 15/09/2023

Dublado: Não

Legendado: Não

Troféus: Sim (inclusive Platina)

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Veredict

NASCAR Arcade Rush is exactly what it promises, delivering a simplified and casual racing game without any specialized complications or the like. Using colors in a charming visuals, it offers a light and simple gameplay, perfect for lazy afternoons, but far from the sophistication that many motorsport fans expect.