É triste ver uma série tão longeva e que tanto divertimento já nos proporcionou cair em franca decadência. Ao longo dos anos, desde a época do PS2, a produtora Rainbow Studios fez um excepcional trabalho com a linha de jogos MX vs. ATV, tornando-a um marco entre os games de corrida off-road. Acontece que em algum ponto dessa trajetória algo foi perdido e já não é de hoje que a qualidade da franquia vem caindo a cada novo lançamento. MX vs. ATV Supercross, lançado em outubro de 2014 para PS3 e Xbox 360, foi recebido com muitas críticas tanto por parte dos fãs quanto pela imprensa. Gráficos ruins, controles complexos demais e falta de conteúdo foram as principais queixas.
Exatamente um ano depois, temos em mãos MX vs. ATV Supercross Encore, o remake para a nova geração de consoles do Supercross original. Com a promessa do corrigir as falhas do jogo anterior, resta saber se essa nova versão é realmente encore ou apenas mais uma tentativa da distribuidora Nordic Games de capitalizar em cima das franquias adquiridas após a falência da THQ (MX vs. ATV, Red Faction e Darksiders).
Nesse jogo, houve a adição de uma vasta gama de conteúdo, como novas motos e acessórios de marcas famosas no universo do motocross, novos modos de jogo e algumas pistas. Há também mais de sessenta pilotos com os quais podemos competir.
Enquanto na primeira versão as corridas eram restritas ao supercross indoor, disputado em arenas fechadas, na versão Encore temos a possibilidade de correr em circuitos outdoor, que foram resgatados de MX vs. ATV Alive. Ao lado do Supercross temos outras quatro modalidades, Nationals, Waypoint, Free Ride e a inédita Rhythm Racing. No modo Nationals corremos apenas em circuitos outdoor. Em Waypoint somos colocados em um ambiente aberto, totalmente explorável e devemos correr de checkpoint em checkpoint no menor tempo possível. Free Ride é exatamente o que você está imaginando, podemos escolher qualquer das pistas disponíveis para praticar nossas habilidades. Já Rhythm Racing é como jogar Excitebike em 3D, parece divertido? Acredite, não é. Explicaremos adiante.
Os modos de jogo são aqueles velhos conhecidos existentes em todo jogo de corrida. Carreira, corrida única e multiplayer, tanto online quanto local. É importante a produtora ter se lembrado do multiplayer de sofá, um modo capaz de proporcionar horas de diversão entre amigos e que vem sendo cada vez mais esquecido nos jogos atuais.
O modo carreira mescla o conteúdo original com o conteúdo adicional e permite escolher como preferimos correr, apenas com quadriciclos, apenas com motos ou nas duas categorias. Há várias opções de customização para os veículos: podemos escolher pinturas, guidões, pneus, exaustores, etc. Algumas opções melhoram a performance do veículo, mas a maioria é puramente cosmética. O piloto também pode ser completamente personalizado, há um sem número de opções de roupas, capacetes, óculos e demais acessórios que podem ser utilizados.
Um ponto que chama a atenção negativamente é a falta de profundidade do modo carreira. Uma sequência infindável de corridas que logo se torna cansativa e não proporciona a mínima sensação do que é ser um piloto profissional. Falta motivação para seguir adiante. Lógico que novos veículos vão sendo desbloqueados à medida que avançamos, mas nenhum deles parece ser mais efetivo que aquele com que começamos o jogo. A relação custo/benefício é muito alta, você tem muito trabalho para pouca recompensa.
O modo multiplayer não apresentou problemas em nossos testes. Foi fácil nos conectar e iniciar uma sessão de jogo. Também não experimentamos nenhuma desconexão. O ponto negativo é que a comunidade de jogadores é muito pequena e esparsa, o que dificulta a tarefa de encontrar companhia para o multiplayer. Inúmeras vezes corremos sozinhos durante um bom tempo até que outro jogador se juntasse à sessão. O número máximo de jogadores que vimos em uma mesma sessão foram quatro, e isso aconteceu uma única vez.
Quanto aos controles, ah os controles… Parece que a produtora não escutou as críticas à versão original do jogo. Não percebemos evolução alguma nesse aspecto do game. Eles continuam extremamente complexos e quase impossíveis de se dominar. Apenas se manter na pista pode ser considerado uma tarefa sobre-humana.
Toda essa dificuldade se deve ao sistema de Rider Reflex. Para controlar a direção, ao invés de utilizarmos apenas o analógico esquerdo, precisamos utilizar as duas alavancas. Com o analógico esquerdo controlamos apenas o movimento do veículo, com o direito controlamos o corpo do piloto e a distribuição do seu peso para frente, para trás ou para os lados. Por exemplo, para conseguirmos fazer uma curva mais fechada é preciso movimentar ambas as alavancas na mesma direção. O problema é que a sensibilidade do sistema de Rider Reflex, controlado pela alavanca direita, é extremamente alta, de forma que qualquer movimento a mais feito pelo seu dedão vai resultar em um giro de 90 graus em cima do competidor que estiver ao seu lado.
Pra piorar, a mecânica de pre-load, marca registrada da série e que sempre funcionou perfeitamente nos jogos anteriores, foi remapeada para trabalhar em conjunto com o sistema de Rider Reflex. Sempre que formos efetuar algum salto, enquanto estivermos subindo a rampa devemos puxar o analógico direito para baixo para ganhar mais impulso, uma vez no ar temos que empurrar a mesma alavanca para cima de forma a balancear o peso do piloto para a aterrissagem. Ao mesmo tempo em que nos preocupamos com isso, devemos ficar atentos ao movimento do analógico esquerdo para não perdermos o controle do veículo quando ele tocar o chão. Essa mecânica é extremamente complexa e por vezes sofremos quedas sem ao menos entender o que estava se passando.
Pior ainda, o sistema de movimentos especiais também teve seu funcionamento atrelado ao analógico direito, mas esse sistema se mostrou completamente inútil durante as corridas e não irá lhe proporcionar nenhum benefício. Ainda por cima, executar os truques é uma tarefa muito difícil: depois de saltar, devemos apertar R1 e mover a alavanca da direita em três direções diferentes para fazer uma manobra. Além de extremamente complicado e nem um pouco gratificante, é quase impossível executar um truque e aterrissar sem se esborrachar.
Quanto aos gráficos, poucas melhorias foram feitas em relação à versão original. O jogo sofre com quedas bruscas de framerate, o que é estranho, uma vez que o game não conta com gráficos estonteantes, que justifiquem essas quedas. Os modelos de personagem mais parecem bonecos de pano quando sofrem quedas. A moça que segura a tabuleta antes do início das corridas possui a animação mais robótica já vista nos jogos dessa nova geração de consoles. As texturas que compõem o ambiente são pobres, desbotadas e à distância parecem um amontoado de frames, fazendo parecer que estamos jogando o remake de um game de PS2, não um jogo de PS3 lançado no fim de 2014. Para não ficarmos só criticando, a iluminação é decente e a roupa do piloto se suja e reage ao vento à medida que sua velocidade aumenta.
Veredito
MX vs. ATV Supercross Encore é um exemplo de remake que não deveria ser lançado. Apesar de uma boa dose de conteúdo adicional, o jogo não escapa de ser muito repetitivo. Controles péssimos, gráficos ruins e modo carreira superficial e cansativo acabam por torná-lo um fracasso. Aos fãs que torciam por uma guinada nos rumos dessa série tão querida, é melhor esperar que a Rainbow Studios desenvolva um novo MX vs. ATV específico para os consoles da atual geração.
Jogo analisado com cópia digital fornecida pela Nordic Games.