Moonlighter

Componentes fundamentais da progressão em qualquer RPG são a coleta de itens de suporte e a melhoria dos atributos do herói, assim como de seus equipamentos. O fracasso é praticamente inevitável em uma aventura sem preparo. Moonlighter aborda tal temática com outros olhos, ao entregar como protagonista um mercador que fornece os materiais e itens essenciais aos heróis. No entanto, o personagem principal, Will, também sonha em percorrer os mesmos passos desse grupo, se aproveitando de seu tempo livre para investigar calabouços em busca de suprimentos e de glória.

A dupla vida do protagonista se traduz em dois tipos de gameplay totalmente distintos, algo que traz uma diversidade necessária ao jogo. Pelas manhãs, o jogador pode gerir a loja moonlight e, pela noite, se aventurar nas masmorras que ficam nos arredores de Rynoka – vilarejo de Will. Os dois aspectos estão interligados e, para vencer os obstáculos impostos, é preciso ter sucesso nas vendas e avançar bastante nas dungeons.

Sem dinheiro, não há como comprar poções, novas armas e armaduras. Sem tais itens de suporte, o jogador não consegue chegar longe em sua jornada e, consequentemente, fica sem acesso às mercadorias mais valiosas e raras. Portanto, inicialmente é preciso ser mais contido e coletar os suprimentos nos locais mais seguros de um calabouço. É um lento processo de melhorias, que gratifica os pacientes.

Para que Will se torne de fato um herói, é preciso investir o dinheiro também em novas construções no vilarejo de Rynoka. Poções, encantamentos, armas e ferramentas diversas estarão ao dispor do jogador com o tempo. A loja moonlighter também pode ser melhorada, possibilitando mais espaço para os clientes, novas decorações e algumas surpresas. Investir em seu negócio é uma boa ideia, visto que o retorno financeiro é relativamente rápido.

Paralelo aos afazeres cotidianos, há uma história sobre as dungeons que é contada por meio de anotações de antigos exploradores. Um grande portão que fica no centro de uma área isolada, próximo dos quatro calabouços do jogo, é um dos maiores mistérios da trama e cabe ao herói-mercador descobrir como acessá-lo.

Das quatro dungeons disponíveis, cada uma tem seu próprio tema, com materiais, inimigos e chefes únicos. Há três andares e as salas são geradas proceduralmente, ambientes estes que lembram vagamente a estrutura de The Binding of Isaac por conter salas de formatos retangulares, podendo conter entradas/saídas no centro de cada reta.

Moonlighter é um jogo que se sobressai no quesito técnico, visto que sua pixel art é muito bonita e a atenção aos detalhes na animação é impressionante. Implementações como pequenos insetos se locomovendo nos cenários ou o simples ato de uma personagem amarrar os cabelos demonstra o cuidado com as pequenas coisas. Há uma grande variedade estética de NPCs, algo que provavelmente surpreenderá o jogador a cada dia de trabalho na loja.

A música é igualmente boa. Além das belíssimas melodias, existem arranjos para praticamente todas as músicas do jogo. Nas dungeons, por exemplo, os andares subsequentes possuem uma versão remixada. As batidas, o tempo e os instrumentos ou sintetizadores mudam. No vilarejo, ao se aproximar de cada uma das lojas disponíveis, a música varia conforme o estabelecimento.

Toda a minúcia característica dos visuais, sons e efeitos sonoros infelizmente não se propaga ao gameplay do jogo. Moonlighter não traz muita complexidade em seus sistemas. A simplicidade nos mecanismos de gestão da loja cansam com um tempo de jogo e abrir a moonlighter se torna uma tarefa para juntar dinheiro o mais breve possível. As possibilidades de upgrade do herói são poucas e o combate só empolga contra os chefes de labirinto – o que, infelizmente, é uma ocorrência rara.

Ainda que não traga um gameplay inovador e profundo, Moonlighter é um ótimo jogo. Não há muitos incentivos para voltar ao game após desvendar o mistério final dos labirintos, mas enquanto a campanha durar, vale o investimento. No entanto, há uma ressalva a se fazer: o jogo em seu estado atual é repleto de bugs.

Não parece ser uma questão de azar, visto que ocorreram cinco travamentos durante a sessão de jogo. Para piorar, o jogo não possui um auto-save, o que pode resultar em perda de progresso e na coleta de loot. Fora os congelamentos, houve problemas visuais significativos como inimigos invisíveis e cenários que eram substituídos por um fundo preto. Foi presenciado diversos outros bugs menores também, mas que felizmente não comprometeram tanto a experiência. Talvez seja um caso isolado do PS4 Pro, ainda assim é uma pena o jogo ser lançado desse modo.

Jogo analisado com código fornecido pela Digital Sun.