Mirror's Edge Catalyst

Quando Mirror's Edge foi lançado para o PS3, a DICE e a EA tentaram inovar mesclando um gênero popular (tiro em primeira pessoa) com outro mais popular ainda (plataforma). A mistura deu certo, não somente pela mistura em si, mas por tudo que foi criado: a ambientação, os gráficos, a estrutura das fases e principalmente a ideia de um "caminho vermelho" que podia ser desativado mas deixava claro para o jogador para onde ir.

Mirror's Edge possuía algumas falhas, como sua história fraca e o uso opcional de armas (o que ia de encontro com a temática do jogo), algo que uma sequência poderia corrigir facilmente. E, após vários anos, ela finalmente chegou. Será que conseguiu evoluir a franquia?

Vamos começar justamente por um dos aspectos criticados do jogo anterior: sua história. Mirror's Edge Catalyst claramente investiu pesado nesse aspecto, inserindo cutscenes, conversas por rádio, etc.

O jogo começa com Faith saindo de um reformatório. Não é explicado exatamente o motivo de Faith estar lá: para isso, o jogador precisa ler a história em quadrinhos "Mirror's Edge: Exordium". Faith deve a Dogen agora, pois foi ele quem a tirou do local. Livre, mas em condicional, Faith retorna às suas atividades de corredora.

Os corredores não seguem as regras impostas pela sociedade e vivem nos telhados, se juntando em associações, correndo pelas paisagens urbanas, fazendo arrombamentos e entregas a quem quiser pagar. Faith retorna a Noah, que é uma espécie de pai para ela e também um líder dos corredores. A partir daí a história se desenrola, com Faith se envolvendo onde não devia ao tomar decisões erradas. Também ocorrem flashbacks nos sonhos de Faith e ficamos sabendo que a protagonista possui uma irmã, mas não se sabe o seu destino.

E isso tudo é apenas a ponta do iceberg. Há bastante história envolvida aqui e é, de certa forma, interessante. O maior problema de Mirror's Edge Catalyst é a sua narrativa. É difícil se importar com os personagens e tudo o que está acontecendo dado o fato de que o jogador é simplesmente "jogado" no meio da história (ter que saber o que aconteceu antes através de uma HQ é triste). Além disso, as coisas demoram pra engrenar.

A campanha principal de Mirror's Edge Catalyst é relativamente curta: leva cerca de 8 horas para finalizá-la. Nessas 8 horas, somente depois da metade é que as coisas começam a ficar interessantes. Ou seja, não é só a história que demora para ser apreciada, mas também o gameplay.

Mirror's Edge Catalyst possui um gameplay bastante similar ao seu antecessor. Além da movimentação normal de um FPS, Faith pula, escala e dá golpes físicos. Uma das críticas do jogo anterior, o fato de Faith poder usar armas, foi consertado aqui: além de não poder portá-las, todo o gameplay é criado de forma que você ataque os oponentes sem levar tiros.

E é justamente nisso que aparece uma crítica pesada: o combate é monótono, mecânico e estranho. O seu funcionamento é todo através de ataques fortes com chutes (triângulo) e fracos com socos (quadrado). Os inimigos, em sua maioria, atacam fisicamente, existindo alguns que usam armas de fogo. O maior problema de todo esse sistema de combate é que parece que estamos enfrentando os soldados mais burros do mundo – apenas um por vez ataca Faith e, quando você adquire uma habilidade de puxá-los (falaremos da skill tree em breve), as lutas ficam ridiculamente fáceis. Enquanto o gameplay de andar pela cidade (o qual já aprofundaremos melhor também) é funcional, o combate é péssimo. São poucos os momentos de lutas, no entanto.

Uma das novidades de Mirror's Edge Catalyst em relação ao seu antecessor é uma skill tree. Ou seja, Faith adquire experiência completando missões e adquirindo colecionáveis, o que possibilita ao jogador destravar novas habilidades para a personagem. Se você jogou o original, lembra-se da possibilidade de pousar rolando? Isso é uma habilidade destravável agora, por exemplo. Muitos podem achar que a inserção dessa árvore é uma coisa ruim para um jogo que preza a habilidade do jogador, mas pessoalmente achei interessante, pois introduz, de forma pausada, cada habilidade de Faith, inclusive as novas.

Além de habilidades já conhecidas do jogo anterior e que agora viraram destraváveis, temos algumas inéditas, que inclusive algumas vezes não são destravadas com XP, mas sim ao avançar na história. Uma novidade é o Sabotador: serve para desativar hélices de ventilação ou, quando melhorado, atordoar inimigos.

Mas a principal novidade é a corda MAG. Usando um sistema que fica em seu pulso, Faith pode lançar uma corda e se balançar ou ser puxada até um objetivo. Não se assuste, porém – os locais onde isso pode ser usado são limitados e indicados pelo jogo.

Não necessariamente uma habilidade, mas há ainda algo novo chamado de foco. Ao correr com R2, Faith preenche uma barra que funciona como o escudo em um FPS normal. Ao tomar dano, primeiro se esvazia essa barra para daí então começar a remover as barras de vida.

Não foi dito ainda, mas a esse ponto você já deve ter deduzido: Mirror's Edge Catalyst possui um mundo aberto. Ele é relativamente grande (se passando nos telhados dos prédios e dentro de alguns também, ou seja, nada de ir para o chão) e você pode sempre se localizar pelo mapa. Ao marcar um lugar, o famoso trajeto com os objetos em vermelho indicando o caminho aparece novamente.

O que esse mundo aberto tem de sobra são os colecionáveis. Acredite: são centenas de itens a serem pegos. E é aí que está parte da diversão de Catalyst: procurar pelos colecionáveis espalhados pela cidade, escalando e descobrindo como chegar neles.

Além dos colecionáveis e das missões de história, há diversas outras coisas a serem feitas: missões paralelas, corridas (as famosas time trials que continuam mais desafiadoras que nunca), corridas de entrega de itens, etc. Apesar da campanha ser relativamente curta, o jogo oferece bastante conteúdo opcional.

Ainda, Mirror's Edge Catalyst não possui um multiplayer propriamente dito, mas você pode interagir com os outros jogadores de diferentes maneiras. Uma simples é colocar uma posição geográfica no mapa para dizer que você passou por ali. Outra mais complexa são as time trials criadas pelos próprios jogadores: você encontrará pelo mapa determinadas rotas criadas por eles que poderá tentar completar. Ou, se desejar, pode criar uma. É uma forma do jogo ser "infinito".

Mirror's Edge Catalyst conta com uma trilha sonora agradável criada por Solar Fields e gráficos satisfatórios – poderiam ser melhores, considerando que estamos falando da DICE.

Veredito

Mirror's Edge Catalyst demora para engrenar, tanto em sua história que leva tempo para se tornar interessante (e ainda assim pode desapontar muita gente) quanto no gameplay, que só começa a ficar desafiador após horas de jogo. Porém, quando engrena, se torna um título interessante e recomendado. Além disso, há bastante conteúdo single-player apesar da sua campanha relativamente curta. O maior problema se encontra em seu combate mecânico e desnecessário – momentos de fuga já bastariam.

Para quem é fã do original, Mirror's Edge Catalyst é recomendado e ressalto que invista nele, pois como dito inúmeras vezes nesta análise, o seu brilho só começa a aparecer após horas de jogo. Para quem não conhece a série, repito a mesma frase anterior e adiciono que ignore o combate e sua história.

Jogo analisado com código fornecido pela Electronic Arts.

Veredito

80

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