Micro Machines World Series

Você teve um PC em meados dos anos 90? Se sua resposta for sim, com certeza jogou Micro Machines, um jogo de corrida de miniaturas que tinha como grande diferencial as pistas, feitas em ambientes comuns a todos, como mesa de café da manhã, mesa de estudos, banheira, entre outros ambientes icônicos que marcaram uma época na mente de vários jogadores. A série Micro Machines teve 5 jogos em um período de 9 anos, entre 1991 e 2000, com mais dois títulos lançados entre 2001 e 2016, um hiato relativamente grande para uma franquia tão marcante. E agora em 2017 é lançado para PS4, One e PC o mais novo jogo da franquia da Codemasters, Micro Machines World Series. As versões de console (PS4 e One) foram desenvolvidas pela Just Add Water e a versão de PC pela própria Codemasters.

Micro Machines World Series traz a série para os consoles com uma premissa diferente da dos jogos de PC e consoles de 16 bits dos anos 90. Enquanto naquela época havia corridas 1×1 ou desafios com até 4 jogadores, nessa edição Micro Machines adiciona armas e habilidades para os "carrinhos", além, é claro, das corridas para até 12 jogadores em partidas online. Em outros jogos da série houve vezes em que adicionaram elementos de Mario Kart, com coleta de itens durante as corridas para atrapalhar a corrida dos oponentes, mas em Micro Machines World Series esses elementos se tornam muito mais importantes.

O jogo tem quatro maneiras de procurar partidas. As quatro divisões no menu são Special Events, Quick Play, Ranked Match (a partir do nível 10) e Skirmish, e dentro de cada um desses menus o jogador escolhe entre a categoria de jogo que deseja. Micro Machines World Series tem 3 modos de jogo de batalha: King Of The Hill, cujo objetivo é proteger uma área no mapa; Bomb, no qual a equipe tem que pegar a bomba no meio do mapa, levá-la e mantê-la na base inimiga por alguns segundos; e o clássico Capture The Flag, que consiste em roubar a bandeira inimiga e retorná-la a sua base. Esses modos de jogo ocorrem tanto em Special Events e Quick Match quanto em Ranked Match, mas não é possível escolher qual tipo jogar – na busca de jogo, ele é escolhido aleatoriamente e a partida se inicia com 2 equipes de 6 "jogadores". Entre aspas pois geralmente as partidas são geradas com 2 humanos (1 em cada time) e 10 bots para completar as equipes, ou até mesmo com você jogando sozinho com 11 bots.

Mas o que diferencia os modos de jogo? Em Special Events o jogador não escolhe com qual carro começar e nem com qual jogar a cada renascimento; caso você seja eliminado durante a partida, toda escolha de carro é aleatória. Além disso, aparentemente, Special Events pode contar com outras opções, já que no momento da escrita da análise o evento se encontrava bloqueado, sendo reaberto depois de 5 dias, ou seja, talvez o modo conte futuramente com outras duas opções, Race e Elimination, ou com características diferentes das descritas aqui. O Quick Play é o lugar para se jogar todos os modos de jogo, King Of The Hill, Bomb e Capture The Flag, gerados aleatoriamente em Battle, Race e Elimination. Race e Elimination são os modos clássicos de Micro Machines. O primeiro é uma corrida de 5 voltas para até 12 jogadores (porém, com a mesma montagem de jogo citada anteriormente, jogadores humanos completados com bots) e o segundo também é corrida, só que ao sair da tela do líder o jogador é eliminado e o último vence a rodada, com o jogo se desenrolando entre jogadores avançando ou recuando, dependendo de sua posição a cada rodada, até somarem pontos suficientes para vencer a partida.

Os últimos 2 modos são o Ranked Match e o Skirmish. Em Ranked Match, o jogador disputa partidas valendo posição no rank online e, dependendo da sua evolução nas ligas, vai recebendo prêmios e recompensas. O Ranking é dividido em temporadas, algo muito comum nos jogos hoje em dia, em que os jogadores têm um período para acumular pontos para tentar chegar às ligas superiores. Skirmish é o modo offline de Micro Machines World Series, no qual o jogador monta partidas offline para até 4 jogadores, que podem ser escolhidas entre Race (para apenas 1 jogador), Elimination e Free-For-All (Death Match). No Skirmish você controla toda a criação da partida: número de jogadores, presença ou não de bots, mapa, voltas, etc. Este deveria ser o modo com mais atenção de Micro Machines, mas inexplicavelmente não o é.

Em Micro Machines World Series, a todo momento o jogador está conectado ao servidor, com todos os modos de jogo jogados e pensados para partidas on-line. A conexão é boa, pois em mais de 50 partidas só perdi a conexão em duas. O maior problema foi em encontrar partidas "cheias", já que em todas as partidas ou se jogava contra 11 bots ou, no máximo, uma ou duas pessoas na mesma partida. Todos os modos de batalha são jogados com 12 jogadores, independentemente de quantos estão disponíveis para montar a partida, e os bots são muito "apelões". Basicamente, resta ao jogador proteger sua base e esperar que seus "parceiros" façam o resto.

O mais estranho de tudo é a total falta de uma campanha single-player ou pelo menos a adição de um modo de jogo offline de tela dividida para se jogar com pessoas ao lado. Incrivelmente, no modo Skirmish, não é possível criar uma partida de corrida para 2 ou mais pessoas. Talvez a desenvolvedora não tenha pensado em mudar a característica de Micro Machines de sempre manter os jogadores na mesma tela. O problema aqui é que realmente falta profundidade nos modos de jogo, você fica sempre fazendo a mesma coisa. Talvez a adição de um offline mais robusto para 2 ou mais jogadores ou uma campanha clássica de corridas para 1 jogador pudesse dar conteúdo ao jogo. Apesar de conter várias pistas diferentes, os modos de jogo repetitivos fazem com que o jogador se canse rapidamente.

Micro Machines conta com um total de 12 carros, cada um com um ataque principal, duas habilidades secundárias e uma habilidade "suprema". Eles também possuem características únicas, que usadas em conjunto nas partidas que o jogo se propõe a criar, seria muito legal não fosse a falta de pessoas jogando e a aglomeração enlouquecida dos bots. Os bots tornam tudo caótico demais e a estratégia de usar veículos que dão vida, como a ambulância, combinadas com outros com poder de fogo maior, como o tanque, não se torna possível.

Infelizmente, os controles também não são dos melhores e, em alguns momentos, parece que estamos dirigindo uma empilhadeira, em que o jogador controla as rodas traseiras. Ou seja, ao fazer uma curva, parece que você está preso por uma corda em um ponto e o seu carro faz um grande arco. Cada carro se comporta dentro de suas características: o tanque é mais pesado e lento, o boat é mais rápido e desliza mais ao fazer uma curva, etc. O problema é que os controles não dão uma resposta rápida o suficiente para virar, acelerar ou frear. Em cenários com pontes, armadilhas ou passagens estreitas é crucial ter controles precisos e não é difícil você fazer uma curva e passar do ponto que queria, saindo do traçado e caindo do circuito ou batendo em algum obstáculo.

O gameplay de Micro Machines World Series é focado muito em batalhas com veículos, deixando as corridas quase em segundo plano. Essas disputas nos remetem a clássicos como Twisted Metal nas batalhas e em Mario Kart nas corridas. Grande parte do jogo está focado em partidas de 6×6 em arenas "espelhadas", onde cada equipe parte de seu lado do mapa em busca do objetivo. Cada carro usa um ataque principal "infinito" apertando X, que possui um tempo de reloading curto, enquanto habilidades secundárias que adicionam bônus aos companheiros ou atrapalham os inimigos possuem um tempo de reloading maior e são acionadas apertando quadrado ou bola, dependendo de cada situação. O "ataque supremo" é um especial que é carregado ao longo da partida conforme o jogador elimina ou causa danos aos inimigos, e causa dano em uma grande área do mapa quando acionado com o triângulo.

Os cenários e as pistas são o ponto forte de Micro Machines World Series, sem dúvida. Existem diversos cenários cheios de detalhes, obstáculos e armadilhas. A clássica mesa de café da manhã está lá, assim como a mesa da cozinha, entre outras. Além de novas pistas muito legais, sendo que a que mais me chamou a atenção foi uma em que, no meio da pista, o jogador passa sobre um tabuleiro com letras em que na nossa infância os mais velhos diziam ser possível se comunicar com espíritos. A mesa possui um marcador que se movimenta atingindo os jogadores. São coisas assim que podem fazer a diferença entre a vitória ou a derrota. Uma serra de mesa, um cortador de grama, maçaricos ou uma batedeira espalhando massa de bolo para todos os lados são algumas das coisas que você encontrará nas pistas em Micro Machines World Series.

Durante o jogo você pode desbloquear "Loots" conforme sobe de nível ou recebe recompensas no Ranked Match. Cada Loot é um baú com 4 itens aleatórios e, no caso de itens repetidos, o jogador recebe créditos que também são uma forma de comprar qualquer item no jogo. Existem muitas opções para cada veículo, o problema é que nenhum dos itens faz diferença no gameplay, todos são inteiramente cosméticos. Os itens variam entre pinturas dos carros, sons que o personagem fala durante as partidas, avatares que são mostrados aos seus oponentes quando você os elimina e adesivos que aparecem quando se elimina um oponente, marcando o lugar da eliminação. É uma série gigante de itens que, no fundo, não fazem diferença alguma.

Jogo analisado com código fornecido pela Codemasters.