Medal of Honor (MoH) é uma franquia que data da era do PSOne – mais precisamente, 1999. Criada pela DreamWorks (posteriormente EA Los Angeles e Danger Close), a série gozou de boa notoriedade e sucesso na era PSOne e início do PS2. Com o passar do tempo, porém, sua popularidade caiu – em parte pelo decaimento de qualidade dos títulos e em outra parte pelo sucesso estrondoso de Call of Duty (CoD). O novo MoH visa trazer a série para um ambiente moderno, e as comparações com dois gigantes dos FPSs modernos (Call of Duty e Battlefield) são inevitáveis. Infelizmente, estas comparações servem apenas para trazer à tona o maior defeito de MoH: ele é parte CoD e parte Battlefield, mas não faz nada o suficiente para se diferenciar de nenhum dos dois, oferecendo uma experiência aquém da proporcionada pelos jogos que o inspiram.
MoH é um reboot da franquia para os tempos modernos, então não espere personagens clássicos como Jimmy Patterson, John Berg ou John Baker. Aqui, somos colocados no meio do conflito no Afeganistão – uma guerra moderna e real, diferentemente da série da Activision ou mesmo seu meio-irmão Battlefield. O jogador assume o papel de 4 personagens: Rabbit e Deuce, membros das Advanced Force Operations (AFO) Neptune e Wolfpack, respectivamente; Dante Adams, um Specialist do 75th Ranger Regiment; e Brad "Hawk" Hawkings, Capitão dos Apache Gunfighters. Acompanhados de seus respectivos times, estes são os membros de Elite da força estadounidense, soldados altamente treinados para cumprir qualquer missão. O jogo abre com os membros da AFO Neptune procurando um informante no Afeganistão, e segue a partir daí para… absolutamente nada.
Tanto o script do jogo quanto os personagens foram acompanhados de perto por membros do exército dos EUA, garantindo um bom nível de realismo e fidelidade. O problema da história talvez seja justamente este "excesso" de realismo. Enquanto CoD opta por manter um realismo mais sutil e nos fornece o que mais parece um filme moderno de guerra, com seus antagonistas mirabolantes e tiroteios exagerados, a aproximação realista de MoH nos deixa a ver navios, já que nunca existe um objetivo maior ou sequer específico. Em uma certa missão, Panther, membor da AFO Wolfpack, pergunta ao parceiro Dusty qual é o plano, ao que Dusty prontamente responde "subir a montanha e matar os caras maus até não sobrar nenhum", o que explica bem como o jogo é conduzido. Existe um sub-plot de tensão entre o Coronel que comanda as forças estadounidenses e um General sentado confortavelmente em sua cadeira em Wahsington, mas trata-se de algo clichê e dispensável. A Campanha ainda peca por ser absurdamente curta (ainda menor que a de Modern Warfare 2) e acabar abruptamente – pior ainda, isso acontece assim que o jogo começa a engrenar e um esboço de enredo começa a se formar. Isso não quer dizer, porém, que a Campanha seja ruim ou chata. A despeito de seu enredo raso, existem alguns ótimos momentos – destacamos o tenso final da missão 5 e a missão única de "Hawk", além das ótimas missões voltadas para o lado stealth de Deuce e a AFO Wolfpack.
O componente Multiplayer é ótimo e divertido, mas nunca deixa de passar a impressão de ser uma versão piorada do visto no espetacular Bad Company 2 (BC2). As semelhanças não são ao acaso: enquanto o Single Player foi desenvolvido pela Danger Close, o Multiplayer ficou a cargo da DICE, produtora da série Battlefield. O jogador tem à disposição 3 classes: Rifleman (guerreiros do fronte, que usam Rifles de Assalto e Metralhadoras Leves), Special Ops (combate próximo, com Sub-Metralhadoras e cargas explosivas) e Sniper (que utilizam seus Rifles de Longo Alcance para batalhas a distância). O sistema de progressão é, infelizmente, por classes, o que significa que você não carrega seus equipamentos melhores para as classes que usa menos, tendo que subir seu nível uma por uma.
O Multiplayer de MoH utiliza a engine Frostbite 1.5 (a mesma de BC2), mas a destruição do cenário é muito mais limitada, com pouquíssimas paredes passíveis de demolição. Seus modos de jogo incluem os tradicionais Team Deathmatch (Team Assault) e Capture the Flag (Sector Control), além de modos semelhantes aos de BC2, baseados em objetivos (Objective Raid e Combat Misison). Entretanto, o jogo possui pouca variedade de armas e carece de customização mais profunda. Não existem Perks ou similares, e os Scorechains (nossos adorados Killstreaks) são excessivamente demorados para se obter – a última, Cruiser Missile, demora nada menos que o equivalente a SESSENTA mortes "comuns" para ser obtida (sendo necessários 600 pontos para se destravar, e cada morte rendendo apenas 10…). O fato é que entre a matança desenfreada de CoD e a progressão estratégica e cooperativa em times de BC2, MoH não sabe qual dos dois quer ser e faz pouco para cativar jogadores de qualquer um dos lados.
Graficamente, o jogo agrada, mas não exibe nada de espetacular. Enquanto os efeitos de luzes são excelentes, algumas texturas demoram para carregar e outras são simplesmente feias (como o caso da relva e outras plantas). Os personagens e armas, porém, são ótimos e superiores ao apresentado na série da Activision. A atuação de voz merece destaque pela ótima qualidade, bem como o som das armas e do ambiente.
Outro destaque, desta vez negativo, vai para a Inteligência Artificial (IA). A IA dos inimigos é incrivelmente estúpida, e até na dificuldade Hard, os inimigos oferecem pouca resistência e são facilmente flanqueados – na verdade, no Hard você pode até mesmo eliminar quase todos os inimigos apenas com sua faca, literalmente correndo em direção a eles. O Tier 1 Mode, em que você deve progredir pelas fases sem Checkpoints e dentro de um limite de tempo, oferece mais desafio, mas não é nada comparado ao visto em outros FPSs, como o Onslaught Mode de BC2 ou o Spec Ops de MW2. Da parte de seus aliados, você por vezes fica preso em uma determinada parte simplesmente por ter avançado ANTES de seus parceiros tendo que voltar e ficar atrás dos NPCs para progredir. Extremamente frustrante.
Por fim, como extra na versão PS3, MoH inclui Medal of Honor: Frontline em HD, lançado originalmente em 2002 para PS2, Xbox e GameCube. Infelizmente, Frontline é um jogo que não envelheceu bem, e fornece uma experiência truncada mesmo com o esquema de controle "moderno". Pode parecer cruel, mas o Call of Duty original (disponível em HD como Call of Duty Classic), lançado apenas um ano depois, é um experiência incomparavelmente melhor. Ainda assim, é um bônus – e mostra que a EA está dando um belo suporte ao PS3. Além disso, aqueles que compraram a Edição Limitada de MoH receberão também, em Outubro, um convite para o Beta de Battlefield 3.
MoH peca por falta de foco. Ao oferecer uma Campanha que não é tão interessante quanto a de CoD e um Multiplayer que empalidece diante de Battlefield, o jogo acaba por não satisfazer completamente nenhum dos seus dois pilares. MoH é decepcionante porque havia nele potencial para algo muito melhor que o que nos foi apresentado – um jogo razoável, prejudicado por suas dúvidas a cerca da própria identidade. Ficamos na torcida para que sua sequência corrija seus erros e integre a série, definitivamente, ao grupo dos grandes FPSs modernos. Por enquanto, porém, Medal of Honor é apenas "adequado".
Veredito
70