O jogo Life is Strange original é uma experiência que me marcou bastante na geração passada. Estava um tanto saturado de jogos adventure (principalmente os da Telltale que saíam aos montes) e fui pego de surpresa: a jornada de Max e o seu poder de voltar no tempo tornavam as decisões bastante interessantes.
O sucesso desse título acabou o tornando em uma série e tivemos Before the Storm com Chloe e Life is Strange 2 com os irmãos Diaz. Ambos, porém, colocam o jogador num papel passivo, ou seja, ou não há um poder envolvido (no caso de Chloe) ou é o irmão não-jogável que o possui. Apesar de não serem títulos ruins, acabam sendo adventures comuns em seu gameplay, o que, pessoalmente, me deixou um pouco decepcionado.
Quando Life is Strange: True Colors foi anunciado, fiquei na expectativa, pois finalmente controlaríamos o personagem que tem o poder na história. Além disso, a proposta também parecia interessante e diferente, então não pensei em duas vezes em querer conferi-lo.
Uma coisa que precisa ficar clara em nosso review é que Life is Strange: True Colors é um jogo completo desde o início. Todos os jogos anteriores foram lançados em episódios, porém este aqui possui todos disponíveis no momento da compra. Isso não significa, no entanto, que sua estrutura mudou. O título ainda possui os mesmos 5 capítulos que seus antecessores tinham – a única coisa que mudou foi a sua distribuição.
Pessoalmente, é indiferente essa forma de lançá-lo. Por um lado, você já pode conferir a história do início ao fim de uma vez. Porém, a digestão “emocional” do pacote é menos intensa. Mas como ponto positivo, você não esquece tão rápido dos detalhes do episódio anterior: vale lembrar que Life is Strange 2 demorou mais de 1 ano para receber todos os capítulos.
Em Life is Strange: True Colors controlamos Alex Chen, uma garota que acaba de chegar em Haven Springs, uma cidade em que seu irmão, Gabe Chen, reside. Pouco se sabe do passado de Alex antes do jogo começar, apenas que ela acaba de ser liberada da “Casa de Acolhimento Mãos Caridosas” (onde esteve por 8 anos) por uma psiquiatra que realmente não compreende o poder que Alex possui.
Ao chegar em Haven Springs (que é uma cidade minúscula), Alex faz amizade com Steph (a mesma garota responsável pelo RPG bem interessante que vimos em Before the Storm), o guarda-florestal Ryan e vários outros. Gabe oferece o seu lar para Alex, já que ele passa a maior parte do tempo com Charlotte e o filho dela, Ethan. A casa de Gabe fica em cima de uma Taverna, que acaba sendo um ponto importante na história.
No início, tudo parece estar muito bem, com Alex conhecendo a cidade (e seu irmão também, já que esteve afastado dele por muito tempo). No entanto, o jovem Ethan, com seu espírito aventureiro e buscando inspiração para a sua história em quadrinhos, acaba indo para as montanhas – bem no momento em que está agendada uma demolição. Gabe, Alex e Ryan partem para salvá-lo, porém algo dá muito errado e Gabe morre. Agora cabe a Alex descobrir se a morte de seu irmão foi algo acidental ou se há um culpado nessa história.
Como já sabemos, Life is Strange possui um foco em algum tipo de poder que o protagonista aprende a lidar durante a jornada. O caso de Alex é que ela consegue ver as emoções das pessoas. Cada emoção possui uma cor (daí o nome do jogo), como o clássico vermelho sendo raiva.
Há três formas que esse poder afeta o gameplay. A primeira delas é segurar o L2 e escutar o que a pessoa está sentindo naquele dado momento. Isso pode abrir novos diálogos, por exemplo, inclusive com pessoas aleatórias. A segunda forma é fazer exatamente a mesma coisa com objetos específicos do cenário – isso destrava a “memória” que aquele item possui e isso é, falando em termos de videogame, os colecionáveis que destravam os troféus da PSN. Por fim, a terceira forma é o que define a história do game: quando a emoção da pessoa é forte demais naquele momento, Alex consegue sentir a mesma coisa e inclusive entender a razão disso.
Assim sendo, em muitos momentos Alex precisa sentir essa emoção forte da pessoa e ver pelos seus olhos o que passa na cabeça dela, a fim de ajudá-la. Ou também descobrir as verdades do que aconteceu com seu irmão. Por exemplo, se Alex sabe que uma pessoa sente culpa na história e não quer se abrir, ela pode forçar a pessoa a ficar com essa emoção de ansiedade ao extremo para, então, entender por que ela não queria revelar a informação em primeiro lugar.
De uma forma geral, o poder de Alex é interessante para a narrativa. A única sensação que fica é que há pouco foco na própria Alex. A maior parte da história é você se apegando a todos os outros personagens da trama. Pode ser uma impressão pessoal apenas, por isso vai de cada um essa interpretação.
Tirando essa parte do poder de Alex, o restante do gameplay é idêntico ao que a série já apresentou no passado. Você continuará explorando os ambientes, olhando os diversos itens que estão nele (e Alex fazendo comentários a respeito) e interagindo com os cidadãos de Haven Springs. Para quem busca “mais do mesmo” com uma história nova, não vai se decepcionar.
Vale citar que há bastante conteúdo opcional. Por exemplo, no início do Capítulo 2, quando você finalmente pode explorar um pouco da cidade, existe a opção de ir direto ao ponto e continuar a trama principal ou conferir vários locais opcionais e ver o que os personagens tem a dizer. Há também dois minigames que estão em Arcades: Arkanoid, um clássico da Taito, e Mine Haunt, um game criado especificamente para True Colors.
O maior problema de Life is Strange: True Colors, de longe, é a sua perfomance. Jogamos apenas a versão de PS5 na expectativa de que seria uma experiência que não houvesse preocupações nesse sentido (afinal, o título também chegará ao PS4 e o upgrade é gratuito), mas não é o caso.
Podemos começar pelo fato de que a versão de PS5 possui loadings. São curtos, de cerca de 10-15 segundos, mas existem. Novamente, para um jogo que está disponível também no PS4 e olhando vários outros exemplos no passado, o loading existir nesta situação é simplesmente uma falta de otimização.
Mas os loadings não são a pior parte. A taxa de quadros por segundo varia bastante. Quando você andar por Haven Springs, notará que a queda é frequente. Isso sem contar que o jogo possui Ray Tracing e ao deixá-lo ativado, parece que a situação fica ainda pior.
Em relação a bugs, por sorte, não encontrei nada crítico. Há transições de tela que parecem ter cortes bruscos e mostrar algo diferente por menos de 1 segundo, por exemplo. Mas algo que quebrou o clima ocorreu: em um dado momento que deveria ser emocionante, Alex ficou em “T-Pose” (com os braços abertos, em pose de T) por uns 2 segundos antes do jogo corrigir para a posição que deveria ter ficado em primeiro lugar.
Life is Strange: True Colors tem legendas em português do Brasil e, da mesma forma que os outros jogos da série, conta com uma excelente localização. Há expressões muito bem adaptadas para o nosso idioma. Como esperado, no entanto, não há uma dublagem.
Por fim, e não menos importante, precisamos falar da trilha sonora. Life is Strange é conhecido por nos trazer diversas músicas licenciadas marcantes e True Colors continua seguindo essa fórmula ao pé da letra. Temos faixas novas de mxmtoon e Novo Amor, e diversas canções licenciadas, incluindo Radiohead, Phoebe Bridgers, Gabrielle Aplin e outros artistas. Inclusive, mxmtoon é quem faz a voz de Alex e é por essa razão que a parte musical da personagem é tão boa.
Life is Strange: True Colors pode apresentar problemas sérios de perfomance, mas sua história simples e intrigante o deixará interessado o suficiente para saber o que acontece em seguida. Associada a uma trilha sonora que não deixa a desejar e poderes que finalmente não são “passivos”, Life is Strange: True Colors é uma experiência única.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Square Enix.
Veredito
Como os outros jogos da série, Life is Strange: True Colors é uma experiência única, emocionante e recompensadora. Infelizmente, o título sofre com uma perfomance técnica problemática e alguns bugs.
Veredict
Like the other games in the series, Life is Strange: True Colors is a unique, exciting and rewarding experience. Unfortunately, the game suffers with a problematic technical performance and some bugs.