Laserlife

Você já parou pra pensar qual é a essência do ser humano? O que torna nossa existência tão singular e preciosa? Se sim, você deve experimentar Laserlife. A produção da Choice Provisions, antiga Gaijin Games, merece ser qualificada mais como uma experiência que nos faz refletir sobre as questões acima do que como um mero videogame.

Podemos citá-lo como um sucessor espiritual da série de jogos Bit.Trip, lançada entre os anos de 2009 e 2010 pela mesma produtora, que, lançando mão de ritmos e cores, ambiciosamente lida com temas abstratos como a jornada de um homem pela vida.

A premissa de Laserlife também é bastante ambiciosa: nos lembrar o que significa ser humano. No desenrolar da história, somos conduzidos em uma viagem de luzes e sons através da mente de um astronauta falecido. Assumindo o controle de uma forma avançada de inteligência alienígena, que não conhece o conceito de humanidade, somos convidados a tomar parte nessa experiência fictícia de primeiro contato entre formas de vida completamente distintas.


Nossa aventura existencial começa quando a presença extraterrestre encontra o esqueleto do astronauta vagando nos confins do espaço sideral. Na intenção de compreender o que é aquele ser estranho, a entidade controlada pelo jogador utiliza uma tecnologia além de nossa compreensão para coletar fragmentos de memória e reconstruir suas lembranças.

Todo esse contexto do jogo não é explicitado logo de cara, afinal, trata-se de uma jornada de descoberta. Mesmo após o final é possível que você ainda se pergunte o que acabou de acontecer (aqui, confesso que só entendi realmente a ambientação do game depois de visitar o site da produtora). Após a cena que retrata o encontro entre as espécies, somos direcionados para o menu principal do jogo, onde podemos acessar as opções para configurar nossas preferências, ver as tabelas de líderes e iniciar a jogatina.

O jogo é dividido em três fases, sendo que cada uma delas representa uma época da vida de nosso astronauta anônimo. São elas: infância, juventude e idade adulta. No começo, apenas a fase que representa a infância está liberada, sendo preciso completá-la para destravar a próxima. Cada uma das três fases se subdivide em quatro níveis que retratam lembranças importantes da vida. Em cada nível, devemos completar uma sequência de três tarefas: coletar os fragmentos de memória espalhados pela mente do astronauta, harmonizar esses fragmentos em um plano metafísico e escapar dos bloqueios erguidos pelo subconsciente de nosso protagonista.

Pareceu complicado? Saiba que a jogabilidade, apesar de repetitiva e muito exigente com sua coordenação motora, é extremamente prazerosa, lembrando clássicos do PS2 como Guitar Hero e Rez. Laserlife é um game de ação rítmica sobre trilhos em que, utilizando as alavancas analógicas do Dualshock 4, controlamos dois feixes de luz, que são nossas ferramentas para completar as tarefas enumeradas no parágrafo anterior. Eles podem se mover de forma independente e muitas vezes o jogo exige que você leve cada um em direções diferentes. Não é raro vivenciar a sensação de que seus olhos estão se movendo um para cada lado, se é que não estão mesmo.

Em todos os doze estágios (volte dois parágrafos e faça a conta) devemos completar essas mesmas três tarefas. A primeira delas, coletar fragmentos de memória, consiste em passar um dos lasers sob nosso controle dentro de orbes que surgem no caminho e, seguindo o ritmo da trilha sonora, apertar o gatilho (R2 ou L2) correspondente ao feixe utilizado. Quando finalmente pegamos o jeito de movimentar os dedões e já aprendemos o ritmo da música, surgem complicações. Será necessário manter o botão pressionado para arrastar determinados orbes e, em níveis mais avançados, será necessário não só os arrastar, mas também movê-los numa direção específica.

A segunda tarefa, harmonização das memórias, é um pouco menos complexa. Não temos que nos preocupar com o ritmo da música, basta guiar os lasers fazendo-os passar por portais que vão surgindo pelo cenário. Apesar de não precisarmos nos preocupar com a questão rítmica, essa tarefa não pode ser considerada simples. Por vezes, temos que mover os feixes de luz em direções completamente diferentes, também é preciso foco total na tela para que seja possível visualizar os portais se aproximando e muita precisão nos movimentos para acertar todos eles. É interessante notar que a forma como os portais são dispostos, bem como os movimentos dos feixes, seguem o ritmo da música. Apesar dessa característica não ser determinante para que o jogador conclua a tarefa, essa percepção pode garantir uma pontuação maior e maior destaque nas leaderboards.

A última tarefa é também a mais simples. Não temos que nos preocupar nem com o ritmo e nem com acertar orbes ou portais. Para escapar das barreiras erguidas pelo subconsciente do astronauta, temos apenas que guiar os lasers através de um túnel, evitando os blocos vermelhos que surgirem em nosso caminho. Completada essa tarefa, é hora de respirar e reviver a lembrança extraída da mente desse ser tão peculiar.

Os gráficos do jogo são simples, poderiam ser reproduzidos num console da geração passada, mas cumprem com louvor a função de nos proporcionar uma viagem psicodélica (lembrou de Child of Eden?) pelas memórias de um ser humano. Duplas hélices lembrando cadeias de DNA pairando à nossa frente, redes neurais, um jardim florido em frente à varanda de uma casa, o esboço de um cachorro em neon, vegetação subaquática, destroços de um acidente com uma nave espacial e a sensação de estarmos mergulhando em direção a tudo isso. Por vezes desejei ser apenas um espectador, só para poder prestar atenção nos cenários do game.

Como se trata de um jogo rítmico, a trilha sonora é o seu ponto crucial. Esse aspecto é que irá fazer do jogo um sucesso ou um fracasso. As músicas de Laserlife são todas compostas por batidas eletrônicas profundas e melancólicas, quase relaxantes. São sons que nos remetem à solidão da existência humana, ao vazio do espaço, a sensações primitivas, à vida intrauterina, etc. Não por acaso, a trilha sonora se encaixa perfeitamente ao contexto em que o jogo se desenvolve. Quando estamos concentrados e conseguimos integrar jogabilidade, imagens e sons, a sensação de imersão é tanta que parece que nosso terceiro olho foi aberto. Como informado pela própria Choice Provisions em seu site, Laserlife foi concebido para ser jogado em apenas uma sentada, com luzes apagadas e volume bem alto.

Veredito

Quem se sente órfão de jogos como Rez e Child of Eden deve adquirir Laserlife sem medo de ser feliz. O game apresenta uma premissa inovadora e ambiciosa e, apesar de ser muito repetitivo e ter um esquema de jogo bastante complexo, proporciona uma experiência quase lisérgica àqueles que lhe dedicarem umas poucas horas. Quanto ao fator replay, a não ser que você queira figurar nas posições mais altas do quadro de pontuação, não há muitos motivos para retornar ao jogo após sua conclusão. E sim, depois de Laserlife você ficará refletindo sobre questões metafísicas por um bom tempo.

Jogo analisado com cópia digital fornecida pela Choice Provisions.

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70

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