Se tem uma franquia que consegue variar nos estilos de seus jogos, essa é Kingdom Hearts. Nesses 18 anos de série já tivemos títulos para console de mesa, para os diversos portáteis, para celular, em 3D, com cartas, etc. Cada spin off é a garantia de um gameplay diferente e um pouco mais de informação para acrescentar na história da saga. E é aí que então temos seu último lançamento: Kingdom Hearts Melody of Memory, que segue o estilo rítmico e musical, gênero inédito na série.
Antes de adentrarmos neste review queria só alinhar com todos algumas coisas: 1 – os fãs esperam ainda muitas respostas após Kingdom Hearts III e deixei alguma considerações na análise de ReMind, mas este título nunca se tratou disso; 2 – Apesar da Square Enix possuir uma franquia rítmica, Theatrhythm, este título não faz parte do grupo, porém utiliza grande parte de seus elementos, citei um pouco também em nossas primeiras impressões; 3 – Este é um jogo rítmico e será avaliado como tal, comparações com outros títulos da franquia podem até ser feitas, mas precisamos levar em consideração que estamos falando de gêneros diferentes. Tudo certo? Hora de mergulhar nas memórias.
Kingdom Hearts Melody of Memory possui três tipos de fases: Field Battle, Memory Dive e Boss Battle. O título começa com sua tradicional introdução com a música Simple and Clean, de Utada Hikaru, e já nela é possível jogar um pouco no estilo Memory Dive. O problema? Não há explicação do que fazer. Apesar de não ser uma “fase” em si e não há pontuação, o jogador pode se sentir um pouco perdido. Somente após o término que ocorre um tutorial, mas este é apenas do modo Field Battle. De qualquer forma, apesar de outras pequenas variações, espere apenas estes três formatos de música durante todo o título.
Falei bastante da jogabilidade do Field Battle no texto de primeiras impressões e pularei informações básicas para não ficar repetitivo. O gameplay não mudou da demo, mas com o passar do tempo você consegue realmente identificar o ritmo (que no começo pode parecer não existir tanto), umas músicas a mais do que outras. Há cenários de extremo caos onde é preciso estar voando e pressionar mais dois botões rapidamente diversas vezes. Da mesma forma que em algumas no modo mais fácil você quase não precisa apertar nada. Ainda assim, existe um ritmo para isso. Mesmo que não seja a batida mais óbvia no som, ele está lá. Algo interessante e que as vezes pode complicar é que podem haver curvas no cenário, mudando um pouco do ângulo das notas, dando uma dificuldade extra.
Já nas músicas Memory Dives você não anda em linha atacando monstros, você está voando pela tela enquanto algumas cenas em CGs dos títulos antigos aparecem. Os botões não são todos os mesmos do outro modo, não há o ataque especial com triângulo e nem a opção de pular, no lugar deles existe um “golpe” de manter o botão pressionado e soltar (igual ao Theatrhythm) e também um que pede a utilização de um ou dois analógicos apontados para alguma posição. Achei os comandos interessantes, porém em alguns momentos a imagem pode ficar muito clara, dificultando a percepção do que fazer. Jogando Simple and Clean é possível perceber isso diversas vezes. O modo me parece até mais fácil, mas me encontrei passando mais dificuldades que o Field por conta do problema de iluminação.
Por último, temos as tão esperadas Boss Battles, que realmente são BEM interessantes. O gameplay é um pouco de um mix dos dois outros modos. Existe o ataque especial com triângulo e também a utilização dos analógicos. Em alguns momentos da batalha musical o chefe irá preparar um ataque especial e você precisa fazer a melhor pontuação possível para receber pouco dano, ou até mesmo nenhum. O modo é excelente, mas infelizmente temos poucas músicas disponíveis. Não espere uma luta contra Hades ou Capitão Gancho, eles não foram chamados para o combate.
Posso dizer que aproximadamente 75% das músicas são em Field Battle. Pode parecer desgastante, mas isso faz sentido o jogo já que a maioria delas são instrumentais de cenários ou momentos de batalha, fazendo com que você de fato reviva tudo que estava acontecendo. É impossível jogar This is Halloween sem imaginar momentos em Halloween Town ou se imaginar nadando por Atlantida enquanto performa Under The Sea. Ainda assim, era esperado que tivéssemos mais dos outros estilos.
Algo que não foi possível de testar na demo era a utilização de itens. Você pode selecioná-los antes de uma música, desde poções para serem usadas caso seu HP caia até um certo percentual, item para dobrar a experiência ganha e até a opção de invocar o Mickey durante todo o estágio, que poderá te ajudar melhorando seus pontos rítmicos e também com cura. Você pode conseguir os itens durante qualquer fase ou também fazê-los através da clássica sintetização com os Moogles. Nela é possível criar estes itens utilizáveis, músicas e até mesmo colecionáveis, tudo em troca de shards que são coletados durante o jogo, da mesma forma que nos outros títulos.
O modo história de Kingdom Hearts Melody of Memory acontece através da World Tour. O design lembra muito o mapa de Kingdom Hearts II. O conceito é bem simples, você viaja para o mundo que deseja visitar e escolhe uma música a ser tocada. Toda fase contém 3 desafios, que nem sempre podem ser completados em apenas uma rodada. Cada um finalizado lhe renderá uma estrela, que serve para abrir portões para seguir viagem. Alguns portões pedem um número total de estrelas genéricas, outros de uma certa cor e alguns que você termine um mundo específico ou chegue até alguma parte da história.
Como citei antes, a grande maioria das músicas é no estilo Field Battle e a principal forma de ir liberando outras canções para serem jogadas no Track Selection é através da World Tour. Você precisa passar por muitas fases até finalmente encontrar algo de diferente, seja Memory Dive ou Boss Battle. Enquanto isso, todo os mundos novos de Kingdom Hearts III são passados por músicas no estilo Memory Dive. Acredito que fizeram isto por terem mais vídeos deste jogo e também pelo modelo gráfico ser bem distinto de seus antecessores, o que ficaria um pouco diferente nos cenários Field Battle. A experiência em algum momento pode ser cansativa caso você se sinta obrigado a jogar sempre o mesmo modo para liberar mais músicas no catálogo.
Sobre a história eu diria que Kingdom Hearts Melody of Memory é um jogo que deveria ter sido lançado dentro da coletânea 2.8. O título começa com Kairi contando a história desde o começo de Kingdom Hearts (1) e vai seguindo jogo por jogo (tirando o atual de celular com todas suas atualizações). Lembro que antes do lançamento do III o que mais tinha eram pessoas confusas com a história e procurando diversos resumões do que aconteceu. Melody of Memory faz isso de maneira excepcional. Os vídeos são liberados quando você termina algum mundo específico e também podem ser vistos novamente através do Museum.
Sendo assim, ao jogar algumas fases com as músicas de seus respectivos mundos tocando e logo em seguida poder assistir um vídeo com Kairi narrando a história, é possível lembrar lembrar de todos os acontecimentos, até mesmo de cenas específicas que não são mostradas em vídeo. Um conceito que a equipe quis trazer para este jogo é de como a música consegue se ligar diretamente com a memória e lembranças, e isso eu posso afirmar que o título faz muito bem. As composições de Yoko Shimomura são de alto nível e sempre representaram fielmente o que Kingdom Hearts quer passar.
Mas e as novidades? Se você busca Kingdom Hearts Melody of Memory apenas para ter respostas que ficaram abertas eu te digo que, bem, não há tanta novidade, mas achei os acontecimento do título de maior relevância que ReMind (que como disse na análise anterior, em muitos momentos parecia apenas um Director’s Cut de Kingdom Hearts III). Para não se frustrar com um jogo que não é seu estilo, talvez seja mais interessante apenas assistir gameplays pela internet.
Digo isso pois 99% do título é feito apenas da narração de Kairi contando a história dos jogos anteriores, sendo somente o último mundo feito com qualquer coisa inédita. O tempo total de vídeo novo acaba sendo bem curto, acho que menos de 20 minutos se formos somar todas as cenas que ocorrem entre músicas. A ideia do título realmente era repassar por todos os acontecimentos anteriores e fazer um pequeno gancho para o que a franquia pretende trazer. E uma coisa eu digo: se realmente seguir para o que estou imaginando, vai ser muito interessante, e até mesmo pequenas frases do primeiro jogo começarão a fazer mais sentido. Estou bem feliz com o que me foi mostrado, conseguindo explicar até mesmo o final secreto duplo de ReMind.
Além disso, temos os modos multiplayer. O Co-op, que é com duas pessoas no mesmo console, segue exatamente aquilo que conseguimos ver na demo. Algumas Field Battle estão disponíveis e enquanto o P1 utiliza Sora, o P2 controla Riku. Conforme você vai jogando, algumas outras músicas são liberadas. Infelizmente não é todo o catálogo que está disponível neste modo, que é bem divertido de se jogar em dupla.
Já no modo VS Battles você pode jogar contra um bot (COM) e também online, contra outro jogador. Infelizmente online não é possível escolher alguma amigo de sua PSN, é tudo aleatório. Ambos os modos possuem o mesmo tipo de jogabilidade: você faz uma fase sozinho no mapa, que nem no modo normal, porém, em alguns momentos, você poderá enviar tricks para prejudicar seu oponente (da mesma forma que ele poderá mandar para você), o que atrapalha bastante na hora de jogar. Inimigos podem ficar invisíveis ou até mesmo seu HP pode ser trocado com o de seu competidor. No fim, ganha aquele que fizer a maior pontuação. É um modo até que interessante, que promete um pouco mais de longevidade para o título.
O catálogo de Melody of Memory é extenso: 150 músicas. Mas ainda assim digo que senti falta de poder tocar a versão clássica de Dearly Beloved e também Face my Fears. Algumas músicas apareceram diversas vezes no título com algumas versões alternativas, que apesar de boas poderiam ter dado lugar para alguma dessas outras canções. Também achei que foram poucas músicas de Kingdom Hearts III usadas, mesmo ele sendo o maior jogo até o momento. Realmente esperaba mais, principalmente com o lançamento oficial de sua trilha sonora nas plataformas digitais (que por sinal estou escutando enquanto escrevo este texto) nesta última semana. Fiquei feliz com a presença de One Winged Angel, mas tenho certeza que não sou o único que esperava esta canção em uma Boss Battle contra Sephiroth.
Terminei a World Tour em aproximadamente dez horas, mas é possível completá-la em bem menos tempo, caso não queira jogar todas as fases (eu escolhi fazer logo todos os caminhos e músicas para desbloqueá-las o quanto antes). Para a platina você precisará jogar ao menos cada música um total de 3 vezes, uma em cada dificuldade, e aí o tempo necessário para platinar vai depender mais de o quão difícil o Proud Mode poderá ser para você. Também existem troféus no modo VS Battles.
Kingdom Hearts Melody of Memory é um bom jogo? Sim. Ele entrega muito bem a proposta que pretendia e consegue entreter os fãs do gênero rítimico. Mas ainda asism, é um título muito caro para algo bem simples (o mesmo problema que apontei em ReMind) e deste gênero. Acredito que este lançamento sendo feito por uns 20 dólares a menos chamaria mais atenção do público. Se você só gosta de Kingdom Hearts, talvez não faça sentido pegá-lo agora, só mais para o futuro se quiser lembrar da história antes do próximo título e com uma boa promoção.
Jogo analisado no PS4 Pro com código fornecido pela Square Enix.
Veredito
Utilizando a trilha sonora impecável de toda a saga, Kingdom Hearts Melody of Memory é, além de um bom jogo rítmico, um excelente resumo de tudo o que já aconteceu na história da série até o momento.
Veredict
Using the impeccable soundtrack of the entire saga, Kingdom Hearts Melody of Memory is, in addition to a great rhythmic game, an excellent recap of everything that has happened in the the series so far.