Um dos maiores problemas de Kingdom Hearts era o quanto sua história era espalhada através de consoles, portáteis e gerações. A segunda coletânea remasterizada para o PlayStation 3, Kingdom Hearts HD 2.5 ReMIX, praticamente soluciona o problema. Agora o console da Sony contém a saga Xehanort quase em toda a sua totalidade, com seis dos sete jogos, mesmo que 358/2 Days e re:Coded, do Nintendo DS, não sejam jogáveis.
HD 2.5 ReMIX vem com versões melhoradas de Kingdom Hearts II, do PlayStation 2 e Birth By Sleep, do PSP. Intituladas "Final Mix", os relançamentos nunca haviam saído do Japão e possuem conteúdo adicional, como novos itens, inimigos, mini-games, algumas cenas novas e, principalmente, um modo adicional de dificuldade. O produto remanescente do pacote são as cutscenes de re:Coded, apresentadas da mesma forma que 358/2 Days, na coletânea anterior.
Assim como HD 1.5 ReMIX, 2.5 é lindo e se encontra no topo dos jogos remasterizados do PlayStation 3. O estilo de arte no padrão Disney parece atemporal, e facilita bastante a transição à alta definição, vacilando apenas nos mundos um pouco mais realistas, como o de Piratas do Caribe. A grande surpresa é Birth By Sleep, que mesmo partindo de uma resolução nativa muito menor no PSP, não deixa nada a desejar ao irmão do PS2.
Kingdom Hearts 2 começa logo onde Chain of Memories termina. Entretanto, assim como o primeiro Kingdom Hearts, sofre de um começo lento – muito lento, podendo chegar até 4 horas até o início real da aventura, preenchida por um bocado de cenas que poderiam ser drasticamente enxugadas. A partir do momento em que você é livre para explorar os mundos da Disney, Kingdom Hearts 2 mostra que é muito mais do que foi o progenitor da franquia – a iniciar pela seleção de mundos, que embora contenha algumas repetições desnecessárias, como Olympus Coliseum, é repleta de mundos mais interessantes, como Timeless River (remetente às origens da Disney, com cenários preto-e-branco) e Pride Lands, de O Rei Leão.
Quanto à jogabilidade, Kingdom Hearts 2 não tenta fazer algo novo como seu antecessor direto, Chain of Memories. Ao invés disso, ele mantém o esqueleto do primeiro jogo da franquia e adiciona elementos que o fazem parecer outra coisa completamente. A principal adição é um botão de contexto (triângulo), que realiza diversos movimentos dependendo do local, inimigo, ou aliado. A principal conquista disso é fazer o jogador se sentir bem no início do jogo.
Em Kingdom Hearts I, até se obter diversas magias e habilidades, o rol de ações de Sora era tão limitado que parecia que o jogo funcionava apenas com um botão. Agora, mesmo que no início seja apenas um botão a mais (em estágios avançados o jogo ainda consegue uma vasta game de opções), o botão de contexto faz com que você sempre sinta que está fazendo algo incrível, como pegar carona num candelabro para derrotar um chefe grande. E o melhor: ao contrário de quick-time events, o elemento, embora sempre presente, não é forçado. Você pode jogar sem ele em praticamente qualquer momento.
Já Birth By Sleep começa a quebrar convenções. Primeiro, ele era inicialmente um jogo de portátil com um papel fundamental na história, numa época em que os Kingdom Hearts exclusivamente portáteis não eram tão relevantes na saga geral. Depois, ele não era sequência de nenhum título já lançado – na verdade, BbS é cronologicamente o primeiro Kingdom Hearts. O jogo original de PSP também abandona Sora como protagonista, ao se passar 10 anos antes de Kingdom Hearts, e estrela 3 personagens novos: Terra, Aqua e Ventus. O trio também lidera campanhas separadas, mudando o formato que Kingdom Hearts costumava adotar para contar sua história. E, por fim, inaugura um sistema de combate novo. Tudo isso é importante porque muitas dessas mudanças foram carregadas pro futuro da série, em Dream Drop Distance, do Nintendo 3DS e em Kingdom Hearts 3.
O sistema de combate de Birth By Sleep superficialmente não parece em nada com o de Chain of Memories, mas na verdade é uma evolução natural deste. Existe aqui um deck de ações, que consistem em magias, ataques físicos e itens. Ainda existe um botão exclusivo para ataques, ao contrário de CoM, então o tamanho do deck acaba sendo menor, aumentando conforme se segue a jornada. Técnicas mais avançadas ocupam mais de um slot e existe um tempo de espera até se conseguir utilizar a mesma habilidade duas vezes. Os 3 protagonistas possuem mudanças sutis no perfil padrão de cada personagem, mas como os decks de ações podem ser drasticamente diferentes de acordo com o desejo do jogador, dificilmente aparentam isso.
Ainda sobre as ações, uma das melhores opções é a de criação. Você pode encontrar técnicas e magias em baús nos mundos, bem como pode comprá-las, mas as melhores são obtidas através da combinação de duas habilidades que você possui e treinou, juntamente com um cristal que confere uma habilidade secundária à habilidade criada. Esse modo confere certa experimentação, não só na combinação, mas na utilização das próprias ações, já que elas não podem ser combinadas no Lv 1. Uma técnica que um jogador nunca usaria, como Slow, acaba sendo integrada no jogo ao invés de só deixada de lado no menu de itens.
Em uma primeira vista, Birth By Sleep parece que quer enrolar o jogador para durar mais tempo do que deveria. Os Kingdom Hearts da primeira coletânea são bem longos, e o mesmo se aplica a Kingdom Hearts 2, mas cada campanha de Birth By Sleep é curta e pode ser terminada em menos de 8 horas. Cada mundo, por conta disso, é notavelmente menor. Mas o jogo não se arrasta – pelo contrário. O início de BbS é extremamente rápido, com um tutorial curto, e em pouco tempo você já é largado para explorar os mundos da Disney, ao contrário de Kingdom Hearts I e II. A opção de pular o início até o momento da escolha do protagonista para campanhas subsequentes à inicial também é bem-vinda, e faz com que a introdução toda da segunda e terceira campanha não durem mais que 10 minutos.
Os mundos de BbS são mais curtos sim, mas não falta conteúdo – ao invés disso, eles são bem resumidos em relação aos Kingdom Hearts numerados, deixando somente o essencial. E, mesmo que as jornadas de Terra, Aqua e Ventus sejam pelos mesmos mundos, eles nunca parecem os mesmos – seja porque várias vezes eles apresentam áreas completamente novas ou fora de ordem, ou pela própria história, que é diferente para cada protagonista.
Veredito
Agora com essa segunda coletânea, os jogadores estão quase preparados para Kingdom Hearts 3. Sim, ainda falta Dream Drop Distance, mas com o episódio final da franquia apenas a uma distante luz no horizonte, ainda há tempo. E esse tempo é bem preenchido com dois dos melhores jogos da saga, cheios de conteúdo, em belíssima alta definição.
Jogo analisado com cópia física fornecida pela Square Enix.