Kingdom Hearts: Birth By Sleep

Acho que, enquanto Tetsuya Nomura possuía ambições com Kingdom Hearts
(KH), ele não tinha ideia das dimensões que a série tomaria. O
renomado designer da Square-Enix uniu os universos da Disney e da
série Final Fantasy (FF) com personagens e enredos orignais, criando
algo que é decididamente mais que a soma de suas partes. Birth By
Sleep (BBS) é o sexto KH, mas é cronologicamente o primeiro jogo da
série.

BBS não é meramente um spin-off portátil, e sim uma parte integral do
universo KH, essencial para se compreender a lore da série. O
nome “Birth By Sleep” não deve ser estranho para os fãs de KH –
aqueles que viram o final secreto de KHII, com a espetacular CG sobre
a “Keyblade War”, devem se lembrar bem do nome. BBS é justamente sobre
estes acontecimentos, deixando o protagonista Sora e seus amigos de lado para
focar-se 3 cavaleiros de armadura que vemos na cena secreta de KHII.

Estes 3 cavaleiros atendem por Terra, Aqua e Ventus. Terra e Aqua são
detentores de Keyblades, treinados pelo Mestre Eraqus no domínio da
arma, e prestes a receber testes para se tornarem verdadeiramente
Mestres da Keyblade. Ventus, ou Ven para os mais próximos, é um garoto
misterioso cuja aparência é idêntica a Roxas, o Nobody de Sora que
aparece em KHII e protagoniza 358/2 Days. Ven não tem muitas memórias
do passado, mas também possui uma Keyblade e está recebendo
treinamento, embora não vá participar do exame de Mestre. Durante, o
exame, Terra não consegue controlar por completo sua Escuridão, então
apenas Aqua recebe o título de Mestre. Pouco depois, Eraqus informa o
grupo que estranhas criaturas, chamadas Unversed, estão atacando
vários mundos, enquanto outro Mestre, Xehanort, sumiu sem deixar
traços. Partindo cada um com suas missões, a história então se
desenrola daí.

Por toda a aparente simplicidade do primeiro KH, a trama da série foi
ficando cada vez mais complexa e sombria com cada jogo, e BBS não é
excessão. Se toda a história de Heartless, Nobodies, Sora e Roxas o
confunde um pouco, espere até ver o que o aguarda em BBS, que explica
praticamente todas as origens da série, de Sora ao boss
Lingering Sentiment. É uma trama interessante, e embora complexa, ela
é fácil de se digerir, mesmo tendo 3 personagens diferentes para se
focar. Você pode jogar as histórias dos personagens em qualquer ordem,
mas a trama geral fica melhor compreendida se você jogar primeiramente
a história de Terra, então Ventus e, por fim, Aqua.

A jornada dos 3 amigos os levam, como de praxe da série KH, a vários
mundos – alguns originais, mas a maioria baseados em sucessos da
Disney. Muitos desses mundos são novos (como Enchanted Dominion,
baseado em Cinderela), enquanto outros mais tradicionais são
apresentados sob nova perspectiva (Olympus Coliseum, que conta com um
Hércules jovem). BBS conta com cameos abundantes de personagens
famosos, indo de Zack (FF VII Crisis Core) ao feiticeiro Yen Sid, que
ajudam ou atrapalham sua jornada contra os Unversed.

Os Unversed são seres criadas da mais pura Escuridão no universo
de KH, e são oponentes formidáveis. O design dos inimigos mantém o
alto padrão de qualidade de KH – alguns são pequenos e frágeis, como
os Floods e Scrappers, enquanto bosses como Metamorphosis são grandes
e imponentes. Todos são bem feitos e exigem suas devidas
estratégias para se vencer. BBS é consideravelmente menos
“esmaga-botões” que KHII, muito em parte pelas modificações que o
sistema de batalha recebeu.

O grosso do combate é o mesmo dos jogos anteriores, ou seja, as lutas
são em tempo real, e você tem botões destinados a pulos, golpes com a
Keyblade, manobras defensivas e uso de habilidades. O diferencial de
BBS se dá pelo Command Board. Em BBS, você não tem acesso permanente
às magias que consegue ou mesmo um atalho a elas. Ao invés disso, você
deve “montar” um menu próprio, contendo as habilidades que você
planeja usar em batalha. As habilidades, por sua vez, são como
“itens”, ou seja, você pode ter qualquer número de Fires, Blizzards,
Strike Raids e qualquer outro – pense no sistema de Materias de FF
VII, para melhor comparação. Assim, você pode montar um Command Board
que contenha apenas a magia Cure, por exemplo, ou que apenas alterne
Strike Raid e Flame Surge – a escolha é sua, e garante uma boa
flexibilidade na hora de encarar os inimigos.

Todas as habilidades equipadas podem ser usadas com o botão Triângulo.
Não existe MP, e ao se usar uma habilidade, esta precisará de um tempo
para se recarregar até que possa ser utilizada de novo. O menu então
passará automaticamente para a próxima habilidade do Command Board
equipado, embora você também possa mudar manualmente. Parte da
estratégia de se montar um Command Board vem da nova barra de Command. A
barra de Command se enche ao bater nos inimigos, e quando cheia, permite
um ataque mais poderoso. Entretanto, o verdadeiro valor dela vem na
modificação de seu Command Board, que por vezes é mais útil que o
golpe final. Quando a maior parte da barra de Command é preenchida de
uma determinada forma (com magias ou golpes elementais, por exemplo),
ela se modifica e dá novos atributos ao personagem. Se você preencher
a barra de Command com magias Blizzard, por exemplo, mudará seu Command
Board para Diamond Dust. Neste estado, seus golpes comuns carregarão o
atributo gelo e serão mais poderosos, e ao se preencher o Command
novamente, você poderá desferir um golpe poderosíssimo contra os
Unversed. Assim, é interessante que você monte um Command Board com habilidades semelhantes próximas – colocar Fire, Fira e Fire Surge seguidas umas das outras fornece melhores resultados do que intercalá-las com Blizzard, Thunder e Stop, por exemplo. Estas modificações do Command Board agem mais ou menos como
as fusões de KH II, e existem em grande variedade por BBS.

Outro elemento do gameplay é o Shotlock, acionado com L+R. Shotlocks também veem em várias formas, mas no geral, eles funcinam como ataques concentrados sobre os inimigos. Por fim, temos os D-Links, que funcionam como as Summons dos KH anteriores, fazendo com que seu personagem adquira habilidades de um outro personagem. O D-Link também funciona via Wireless, ou seja, você pode invocar os poderes de um outro jogador, mas não é algo particularmente definidor de jogo ou sequer necessário.

Aliás, toda a interação Multiplayer de BBS é desnecessária, e francamente, banal. Você tem um mundo chamado Mirage Arena, em que pode lutar com outros jogadores, mas é algo um tanto sem propósito. A política “Multiplayer de qualquer forma” me deixa profundamente decepcionado, mais ainda quando acontece em um jogo como BBS, que não se beneficia em absolutamente nada com multi. Felizmente, o conteúdo importante de BBS (leia-se: o single-player) é ótimo e enorme, girando facilmente em torno das 50 horas de jogo.

Por ser uma iteração do PSP, BBS está limitado à interface do portátil. A transição da jogabilidade do PS2 para o PSP foi ótima, mas existe um problema: a câmera. A câmera de KH sempre foi um tanto errática, e enquanto em BBS a trepidação seja menor, a falta de um segundo analógico realmente incomoda. A câmera pode ser movimentada segurando-se L e mexendo-se no nub analógico, mas pela disposição dos botões, esta tarefa é incômoda. O botão L também serve para posicionar a câmera imediatamente atrás do personagem, mas essa transição é instantânea e pode desorientar o jogador.

O motor gráfico de BBS é o mesmo de FF VII Crisis Core, garantindo um
visual belíssimo que em nada deve aos KH de PS2. Os efeitos de luz e
as magias são especialmente bonitos e a animação dos personagens é
excelente. Existem alguns slowdowns pelo jogo (em especial se você
jogar sem instalação) e algumas texturas são um tanto quanto datadas,
mas estes são pequenos defeitos que empalidecem diante do conjunto
visual de design robusto e animação fluída. Já no que concerne o
áudio, BBS mantém o altíssimo padrão da série. As músicas são
excelentes, e todos os personagens, tanto da Disney quanto da
Square-Enix, contam com seus dubladores originais.

BBS é um jogo excelente, um pouco prejudicado por sua plataforma de escolha, que o impede de alcançar um sucesso ainda maior. BBS não deve passar em branco, nem para os donos de um PSP, nem para os fãs de Kingdom Hearts.

— Resumo —

+ Gráficos
belíssimos
+ Trabalho
sonoro impecável
+ Combate
profundo e divertido
+ Personagens
carismáticos
+ Enredo
interessante e bem construído

Câmera e seleção
de comandos prejudicados pelo layout do portátil
Multiplayer banal e desnecessário.

Veredito

92

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