GYLT – Review

GYLT é uma aventura narrativa que combina elementos de suspense, ação e furtividade, e que ficou fora do radar da maioria dos jogadores por conta de sua exclusividade para o Stadia. Agora, com o encerramento das atividades da plataforma de streaming de jogos do Google, a desenvolvedora Tequila Works pôde finalmente disponibilizá-lo para as demais plataformas.

A história de GYLT gira em torno de Sally, uma garota de 11 anos, que tem sua vida virada de cabeça para baixo após o desaparecimento de sua prima, Emily. Inconformada com a falta de empenho das autoridades e dos habitantes da cidade em procurar por Emily, Sally então resolve iniciar uma investigação por contra própria.

Durante uma de suas missões de busca, ela é surpreendida por um grupo de agressores de sua escola que a perseguem pela floresta. Ao tentar fugir, Sally acaba batendo com sua bicicleta e cai desacordada. Quando recupera a consciência, ela percebe algo de diferente em sua cidade, como se estivesse em uma outra realidade, agora assombrada pelos seus piores pesadelos.

Do ponto de vista da ambientação, GYLT apresenta um mundo bastante intrigante, uma versão distorcida de como pode ser atormentada a vida de uma jovem estudante traumatizada pelo bullying. O jogo possui uma atmosfera de suspense que, mesmo não sendo das mais assustadoras, acerta ao abordar um dos temas mais pertinentes do cotidiano das crianças e adolescentes. 

Toda a composição dos cenários é muito bem feita e se passa nessa realidade alternativa da escola de Sally, e também em partes da cidade em seu entorno. Ao longo de sua jornada Sally será assombrada não apenas por monstros que representam seus medos, mas também pelas lembranças de sua vida encontradas através de diários, quadros, dentre outros elementos espalhados pelos cenários.

A história possui uma boa trama, principalmente ao explorar a relação entre Sally e Emily. Outra parte importante da composição da narrativa está na cidade de Bethelwood, famosa por sua atividade de mineração, e cujo passado esconde alguns segredos que começam a ser desvendados confome Sally explora essa nova realidade.

Parte dessa narrativa é contada através de cutscenes representadas numa forma muito semelhante às histórias em quadrinhos, o que achei um toque muito interessante, mesmo que algumas transições entre essas cenas e a gameplay sejam mal executadas. Também é possivel destacar a trilha e os efeitos sonoros de GYLT,  que combinam elementos típicos de jogos de suspense para enfatizar mais ainda sua ambientação.

Em termos de gameplay, GYLT apresenta características frequentemente encontradas em outros jogos do gênero, tal qual Little Nightmares, ou o recém lançado Bramble: The Mountain King. O pilar principal da jogabilidade está na furtividade, onde você deverá evitar os monstros enquanto explora os cenários e avança de um objetivo para o próximo. Muitas vezes esse objetivo estará atrás de uma porta obstruída, então a exploração se torna obrigatória para encontrar uma maneira de destrancá-la, ou uma rota alternativa de acesso.

Para ajudar em sua orientação você terá à disposição o mapa da área explorada, mostrando todas as salas adjacentes e também destacando alguns itens de maior interesse. O jogo também conta com alguns quebra-cabeças que deverão ser solucionados para avançar pelos mapas. Esses puzzles são bem simples, mas servem para oferecer mais alternativas ao gameplay.

Falando sobre os inimigos, não há muita variação, mas o design é bom e transmite muito bem o sentimento de perturbação vivido por Sally. A inteligência artificial alterna entre bons e maus momentos. A percepção dos inimigos é onde se encontra o maior problema, pois ela oferece quase nenhum desafio. É possível passar pela maioria das sessões sem ser notado, mesmo que em algumas oportunidades você fique praticamente cara a cara com os inimigos. Para tornar as coisas ainda mais fáceis, você poderá arremessar latas de refrigerante que recolhe das máquinas espalhadas pelo cenário para distraí-los.

Nas situações onde você for encontrado pelos monstros ainda é possível correr para alguma sala segura, ou se esconder em elementos do cenário. Aqui é onde a inteligência artificial funciona um pouco melhor, pois os inimigos tendem a lhe perseguir por um tempo considerável. Entrar em conflito com um grupo maior de inimigos pode ser problemático, pois boa parte deles causa uma razoável quantidade de dano. Em contrapartida, o jogo oferece um bom sistema de checkpoints e disposição de itens de cura, então isso acaba, novamente, minimizando o desafio.

GYLT também oferece um sistema de combate que é bem simples, mas se encaixa dentro da proposta e da temática do jogo. O item principal do combate é sua lanterna, que pode atirar um raio de luz nos pontos fracos dos monstros para eliminá-los. Em ocasiões onde estiver cercado por vários inimigos alertados também é possível emitir um pulso de luz capaz de cegá-los, assim criando uma janela para escapar do conflito.

Outra função da lanterna tem a ver com a mecânica de stealth, onde é possível eliminar os inimigos de forma instantânea se aproximando por trás deles e apertando o comando correspondente. Esses ataques consomem bateria, então você deverá administrar bem seu estoque de energia para não ser pego de surpresa em situações onde o combate se tornar inevitável.

A lanterna também é um item muito relevante para a exploração, primeiramente pelo simples fato de muitos ambientes serem demasiado escuros. Além disso, a lanterna é usada para abrir caminhos pelo mapa cegando alguns inimigos e ativando mecanismos que refletem luz.

Outro item importante é o extintor, que será usado por diversas vezes para avançar por locais com a presença de fogo e para congelar as poças de água que conduzem eletricidade. Ele ainda pode ser usado como uma arma, sendo bastante útil para congelar seus inimigos, assim tirando-os de ação por um momento.

Também faz parte da gameplay de GYLT algumas lutas contra chefes, porém essas lutas possuem mecânicas simplificadas e não oferecem um bom desafio. Inclusive, um desses chefes acaba sendo reutilizado, trazendo aquela chata sensação de repetição.

Além disso, pesa um pouco negativamente o fato de GYLT ser um jogo curto. Mesmo explorando bastante os cenários em busca de itens colecionáveis, a campanha pode ser concluída em cerca de 4 horas. Ao menos GYLT oferece algumas opções de finais alternativos, então há um fator replay para os que quiserem buscar todas as conquistas.

No fim, GYLT acaba deixando a impressão de ser muito simples, e realmente suas mecânicas de jogabilidade podem não agradar aos que procuram por experiências mais desafiadoras. Como um jogo de suspense, talvez lhe falte um pouco daquela sensação de terror presente nos mais notórios títulos do gênero. Mas se considerarmos o tema abordado, bem como a importância de inseri-lo no mercado de jogos eletrônicos, GYLT se revela muito mais complexo do que aparenta ser.

Quem aprecia jogos deste estilo deve encontrar em GYLT uma boa opção. Mas creio também ser importante citar que, se por algum motivo você se sente incomodado com temas como bullying e depressão, fica um alerta que talvez seja melhor evitá-lo.

Jogo analisado no PS5 com código enviado pela Tequila Works.