Grand Kingdom é um jogo que poderia ser difícil de analisar. Fora a armadilha dos vários trocadilhos que se pode fazer com o seu título grandioso, existem muitas características únicas a ele que o diferenciam da maioria dos jogos do seu gênero e que o tornam quase singular, felizmente, no melhor sentido da palavra.
O novo jogo desenvolvido pela Monochrome e publicado pela NIS America é um RPG tático que busca incorporar diversos elementos online, uma narrativa grandiosa, um sistema de combate viciante, altos índices de customização e estilo visual diferenciado, tudo num pacote muito bem acabado. Fácil dizer que, salvo na questão da narrativa, Grand Kingdom alcança seus objetivos com primor.
Colocando o jogador na posição de líder de um grupo de mercenários no meio de uma guerra entre quatro diferentes nações, cada qual com seus objetivos, fraquezas e forças, o jogador é guiado unicamente por seus interesses. Há a liberdade de escolher qual das facções apoiar pela duração de um contrato e logo depois se virar contra a mesma, buscando apenas a sua riqueza e evolução.
Narrativamente, Grand Kingdom é uma experiência fraca. A história é mais uma desculpa do que, de fato, um atrativo do jogo, servindo apenas para apresentar o contexto e pano de fundo das quests, apesar de ter personagens interessantes (salvo o protagonista, que é bem irritante) e que se tornam mais atrativos mais próximo ao final da história principal. O tom dos diálogos é com alguma frequência bem leve, beirando o humor, o que ajuda a pintar o quadro de que este é um jogo mais sobre combate do que um grandioso conto.
O jogo em si se desenvolve em três fases. No menu principal, é possível realizar as ações que se espera de um RPG, como acessar a loja e customizar a equipe (sendo possível montar vários grupos de 4 mercenários e escolher entre eles antes da batalha), além de ser possível contratar novos membros para party e aceitar novas quests. Ao selecionar uma das quests, o jogador é enviado para um mapa onde se desenvolve a missão, e a cada novo sucesso, mais dinheiro, prestígio e itens vão sendo acumulados.
Por se tratar de um jogo sobre um grupo de mercenários, existe uma gama enorme de classes (17 no total) e é possível customizar todos os detalhes de cada novo personagem contratado. Essas classes são subdividas em quatro tipos distintos, Unidades Mágicas, Melee, de Combate à Distância e Especialistas, cada qual com suas características únicas e que as diferenciam bastante do resto.
Desde o começo fica claro que o foco de Grand Kingdom é o combate. Misturando elementos de RPG Tático com características encontradas em RPGs de Ação, as batalhas exigem uma série de decisões a serem tomadas pelo jogador. O jogador se locomove em turnos por um mapa, dentro de um limite de ações para completar, de maneira semelhante a um jogo de tabuleiro, encontrando itens e inimigos nele.
O grande destaque começa quando se encontra com os inimigos. O combate é dividido em três linhas e realizado por turnos. Cada personagem, na sua vez, pode se locomover numa área especifica e depois realizar alguma das ações, cada qual com um botão designado (sendo possível customizar as skills de cada personagem no menu). A grande variedade de classes dá aos combates uma diversidade absurda, pois é possível realizar combos com algumas habilidades ou a assistência de algum dos outros mercenários.
Cada classe tem um ataque básico, que pode ser usado infinitamente, e skills com um limite de vezes que pode ser usado e que dependem de itens e/ou cura para serem re-abastecidas. É possível usar desde guerreiros comuns às classes, como os Challengers, que adicionam obstáculos ao mapa, ou Dragon Mages, magos montados em dragões que são um “tank” mágico tão poderoso que ocupa o espaço de 2 unidades distintas. A existência de timers pra algumas habilidades (que funcionam quase como um jogo de ritmo) e a existência de “fogo amigo” tornam o combate ainda mais estratégico e mantêm o jogador sempre atento ao combate.
Existe ainda certa variedade no estilo de missões, desde o “básico” de começar de um ponto para chegar em outro e enfrentar um chefe, até outros em que é necessário alcançar um ponto específico do mapa em um número reduzido de turnos, proteger uma determinada área de invasões ou derrotar um numero X de tropas inimigas, além de um modo online em que é possível participar de “guerras”, lutando contra outros grupos de mercenários ou enviando algumas de suas equipes para apoiar determinadas nações.
Outro dos grandes destaques é a arte de Grand Kingdom. Com sprites grandes e detalhados, o estilo de Chizu Hashii (do mangá Blood+) é um prazer à parte para os olhos e o estilo 2D condiz bem com o tom do jogo, sendo que até as animações dos retratos nas cenas de diálogo são bem feitas. A trilha sonora é maravilhosa, feita pela mesma compositora de Odin Sphere: Leifthrasir, Mitsuhiro Kaneda, porém, infelizmente, a dublagem em inglês é sofrível, sendo recomendável utilizar a dublagem original que está disponível.
Sendo um jogo fantástico para os fãs de RPG e principalmente para os fãs de SRPGs, Grand Kingdom é um jogo que precisa estar no radar dos que gostam do gênero. Por mais fã de JRPGs que este que vos escreve seja (e em especial dos SRPGs – RPGs de Estratégia), este é um jogo que traz inovações e mudanças o suficiente para agradar a todos os jogadores.
Veredito
Grand Kingdom é um jogo único, divertido e que não se contenta em seguir fórmulas pré-estabelecidas, se destacando não só entre RPGs de Estratégia, mas entre os RPGs em geral, tratando cada parte de si com muito esmero e alcançando um resultado que merece ser celebrado.
Jogo analisado com código fornecido pela NIS America.