Final Fantasy X foi um marco no PlayStation 2 – a primeira iteração da principal franquia de RPGs da Square Enix no sistema, enfim saindo não só dos polígonos escancarados do console anterior, mas das limitações que o sistema de combate do gênero tinha até então. Apesar da má-fama da sequência, esses aspectos se mantiveram em Final Fantasy X-2. Mas 10 anos se passaram e os RPGs evoluíram bastante nessas últimas gerações, com cada vez mais diferentes idéias substituindo o tradicional sistema de turnos que um dia foi sinônimo do gênero. Uma HD collection destes jogos poderia facilmente sobreviver da nostalgia dos fãs e da fama que o primeiro jogo gerou, mas felizmente o tempo foi generoso em vários pontos. Não em todos, é claro, mas o suficiente para matar a saudade dos veteranos e introduzir novatos a outra era de Final Fantasy.
As primeiras horas de Final Fantasy X, porém, podem facilmente enganar – a história é confusa e mal contada, com apenas detalhes de uma criatura enorme chamada Sin destruindo cidades e matando milhares, aterrorizando o mundo de Spira; personagens são mencionados ao acaso, alguns aparecem e desaparecem numa falha tentativa de melhorar a narrativa dividindo esta; e o pior, o protagonista é o centro de todos os acontecimentos, e Tidus é um dos piores pontos de Final Fantasy X. Felizmente, com algumas horas o resto do grupo principal de personagens é introduzido, com histórias próprias interessantes e trazem consigo, enfim, desenvolvimento na história principal, pincelada tão mal nos momentos iniciais que um incompleto sistema de batalha (por contar com apenas um ou dois personagens controláveis) tem que carregar o jogo.
Quando completo, as batalhas melhoram bastante. O sistema de Final Fantasy X é uma variante do tradicional sistema de turnos, em que os inimigos podem ter turnos entre os seus personagens, que podem ser trocados por outros na reserva no meio da batalha e sem perder a rodada, configurando fluidez nas estratégias. Um indicador de ordem de rodadas também se apresenta na tela, permitindo ver de quem é a vez de atacar nos turnos seguintes, e o melhor, permitindo analisar efeitos de técnicas como Haste, Slow, Delay Attack, entre outros. Usar itens tem gasto de turno menor, por exemplo, que usar uma magia curativa, então talvez seja mais vantajoso gastar itens para voltar a agir mais cedo do que economizá-lo (e possivelmente curar mais), mas atacar mais tarde.
Em X-2, esse sistema é abandonado completamente em prol de um protótipo do Active Time Battle de Final Fantasy XIII. Ele funciona – aliás, é a única parte do jogo que funciona, mas assim como em Kingdom Hearts: Chain of Memories, por exemplo, só vai realmente brilhar em batalhas contra chefes ou inimigos específicos no final do jogo. Boa parte das batalhas simples podem ser concluídas simplesmente apertando X e ignorando o que acontece na televisão. Uma pena, pois o sistema, um embrião da série XIII do PlayStation 3, esconde muitas complexidades, como a troca de classes no meio da batalha (por intermédio de diferentes roupas) do recente Lightning Returns ou a utilização de criaturas capturáveis de Final Fantasy XIII-2 – tudo num jogo só. O grande problema é que para aproveitar tudo isso, é necessário investir tempo em Final Fantasy X-2 – e nada no jogo te dá motivo pra isso.
Seja a estupidez constante de Brother (um personagem secundário no primeiro jogo que recebeu bem mais tempo de cena do que merecia na sequência), sejam os diálogos e atuações horríveis de todos os personagens, ou a história medíocre que envolve música pop em momentos por algum motivo, é difícil arranjar estímulos a continuar a saga. O próprio mundo de Spira, tão bem construído em Final Fantasy X com suas diferentes raças e costumes, locais belos e diferentes, está exatamente igual aqui, à exceção de uma ou duas cidades. Quase não existem surpresas quanto aos destinos de Yuna e cia.
Spira, aliás, nunca esteve tão bonita. Parece redundante dizer isso em uma coletânea de jogos remasterizados (talvez de fato seja), mas o mundo fictício de X|X-2 HD, já lindo no PlayStation 2, consegue se fazer parecer por um jogo de PlayStation 3 em vários momentos – e nada de começo de vida, mas algo recente. É claro, culpa disso é a excelente direção de arte dos jogos, com destaque em áreas como Guadosalam ou Farplane, e perspectivas ou ângulos específicos em algumas tiragens das paisagens, especialmente quando não há nenhum personagem em cena. Isto porque, enquanto o mundo é lindo, os personagens não são. Os principais receberam modelos atualizados, mas qualquer outro poderia facilmente se fazer enganar por um personagem de PlayStation 1 – e não apenas aqueles NPCs não-interagíveis, como também personagens secundários recorrentes durante a peregrinação (pilgrimage) de Yuna são mal construídos e não receberam melhoras nestas versões.
Ao contrário dos jogos mais recentes da franquia, Final Fantasy X tem uma enorme quantidade de cenas de corte pré-renderizadas e a transição entre estas e as feitas em tempo real é outro fator aplaudível na direção do jogo. Este é outro ponto que Final Fantasy X acerta e X-2 erra. A sequência abandona o estilo do primeiro e parte pra longas cenas pré-renderizadas, que acabam espalhadas pelo jogo, e em pequena quantidade. Sim, momentos como a apresentação de Yuna cantando 1000 Words são fantásticos, mas são escassos. Aliás, as músicas fazem parte da trama de X-2 (em um segundo plano), mas ambos os jogos da coletânea possuem uma trilha sonora fantástica. O pacote ainda contém como bônus um curto filme que liga os acontecimentos do primeiro e do segundo jogo, uma missão extra para Final Fantasy X-2 e um novo áudio drama feito exclusivamente para esse re-lançamento, contando um pouco da história depois do término da saga.
Veredito
Final Fantasy X-2 tem um ponto positivo – o sistema de batalha. Quase todo o resto era ruim em 2004 e continua ruim hoje. Ele é, de longe, o ponto baixo da coletânea. Felizmente, Final Fantasy X tem mais que o suficiente de conteúdo para suprir o que X-2 deixa a desejar. No final, é uma coletânea… de um jogo. Mas é um jogo que apesar de um começo fraco e alguns pontos baixos sempre presentes, como o protagonista, possui várias marcas do pedigree Final Fantasy, com dezenas de horas de conteúdo e um sistema desafiador que evolui com o tempo e se torna bem complexo para os que desejaram retornar a Spira após o término da jornada de Yuna sem ter de tocar na sequência.
Jogo analisado com código fornecido pela Square Enix.