Em um mercado em que lançamentos anuais são quase que obrigatórios, pelo menos em jogos esportivos, em vista da atualização de elencos, uniformes, estádios e times rebaixados ou que subiram de divisão, trazer novidades significativas além do básico é uma tarefa complicada. E depois de FIFA 16 ter apresentado pouca evolução se comparado à edição anterior, pode-se facilmente dizer que FIFA 17 traz muito mais do que pequenas mudanças de jogabilidade e gráficos melhores.
O modo Jornada é sem dúvidas o grande chamariz de FIFA 17. Acompanhar a evolução de Alex Hunter e ver seu sonho de se tornar jogador profissional de futebol se concretizar não é apenas uma grande adição ao jogo, mas quase um jogo à parte.
Após passar por um processo de seleção, Alex tem à sua disposição escolher um entre os vinte times da Premier League, a primeira divisão do campeonato inglês. Cada clube, além de ter seu estádio fielmente reproduzido, também conta com a versão virtual de seus respectivos treinadores, como Jürgen Klopp, José Mourinho, Antonio Conte, Arsène Wenger, Pep Guardiola, e todos os demais.
Em essência, a Jornada se assemelha ao modo Carreira para um jogador. A diferença é todo o desenvolvimento em torno da história de vida de Alex. O desenrolar se dá conforme seu desempenho dentro de campo, seja nos treinos, conseguindo uma vaga no time reserva, ou até mesmo iniciando uma partida como titular. Errar passes, pedir a bola em momentos errados, fazer faltas, enfim, ter um mau desempenho resulta em problemas com o clube, pondo em cheque o futuro do protagonista como jogador profissional.
Além disso, é possível desenvolver a personalidade de Alex por meio dos diálogos, cujas escolhas podem afetar seu caráter, tornando-o mais calmo, egocêntrico ou irritado, garantindo características de RPG ao modo Jornada. Também durante as cutscenes nos são apresentados os outros personagens que compõem a história. É interessante notar como cada um deles tem o seu próprio arco dentro do enredo, como a mãe de Alex e seus problemas de relacionamento e trabalho, o avô de Alex, Jim Hunter, artilheiro da temporada 68/69, e o amigo Danny Williams, que partilha dos mesmos sonhos de Alex em se tornar jogador de futebol. Mesmo havendo uma dramaticidade um pouco exagerada em algumas cenas, de modo geral a história é bem conduzida. Infelizmente, para os donos de PlayStation 3 e Xbox 360, esse modo de jogo está presente apenas nos consoles mais recentes e PCs.
Outro grande atrativo de FIFA 17 é o motor gráfico Frostbite, criado pela DICE e usado em Star Wars Battlefront, Mirror’s Edge Catalyst e no vindouro Battlefield 1. Logo de início são perceptíveis as mudanças gráficas, principalmente na iluminação e no suor escorrendo pelo rosto dos jogadores. Mas também são notórias as inovações na física, desde pequenos detalhes, como o tecido do uniforme se comportando de maneira mais real conforme o jogador se movimenta, até a colisão entre um jogador e outro.
Nesse ponto percebe-se uma clara mudança no sistema de marcação, que está mais complexo e difícil de ser executado. Por outro lado, quando feito de maneira correta, o desarme pode desencadear mais facilmente contra-ataques, em vista do jogo ser mais cadenciado. Aliás, a velocidade do jogo de forma geral foi drasticamente reduzida, especialmente dos dribles. Entretanto, assim como na hora de roubar as bolas, um drible na hora certa pode ser crucial, desmantelando todo o sistema defensivo adversário. Isto dito, fica claro que FIFA 17 privilegia o jogador mais paciente, não apenas para melhor trabalhar as jogadas, mas principalmente para acompanhar toda a curva de aprendizado que o jogo exige para poder dominá-lo.
O sistema de chutes também entrou na lista de reformulação geral. As cobranças de falta possibilitam maior liberdade ao jogador, podendo se posicionar de diferentes formas antes de chutar, além de poder aplicar maiores efeitos à bola. Bater faltas à la Marcelinho Carioca, com efeito para fora, ou como o clássico gol de Branco na Copa de 94 contra a Holanda, tomando enorme distância, são totalmente reproduzíveis em FIFA 17.
Os escanteios também mudaram. Agora é possível escolher exatamente o lugar onde se quer lançar a bola na área, indicada por um círculo amarelo, o que possibilita maior precisão na hora de executar jogadas mais bem elaboradas do que simplesmente cruzar a esmo. Já os pênaltis sofreram uma mudança um pouco mais drástica. Não basta escolher o canto e encher o pé. Além de definir o lado (ou centro), é a força do chute que determina a altura da bola.
O popular modo Ultimate Team também trouxe novidades. Os Desafios de Montagem de Elencos consistem em cumprir determinados requisitos na hora de montar os times, como, por exemplo, criar um sistema defensivo apenas com jogadores argentinos com um determinado número mínimo de química. Cumpridos os requerimentos, os jogadores selecionados são trocados por recompensas. Dessa forma, se desfazer daqueles jogadores pouco ou nunca utilizados agora pode render algumas boas recompensas.
Outra grande reformulação ocorreu no modo Carreira para treinadores. Ganhar todos os troféus pode não mais ser o bastante para garantir o cargo como técnico de grandes equipes. Pré-requisitos devem ser cumpridos ao termino de uma, duas ou mais temporadas, dependendo da tarefa exigida, como garantir um determinado valor de lucro na venda de camisas ou contratar jogadores que são jovens promessas, por exemplo. Esses requerimentos podem variar de um clube para o outro, dependendo de quão grande é o time, há quanto tempo está sem ganhar títulos expressivos, sua tradição histórica, et cetera.
Assim como no ano passado, com a exceção de Corinthians e Flamengo, que continuam exclusivos de Pro Evolution Soccer, todos os demais clubes da Série A do campeonato brasileiro estão presentes no jogo. Além dos 18 times da primeira divisão, também estão incluídos Avai, Criciúma, Joinville, Goiás e Vasco. Entretanto, todos os clubes brasileiros contam com jogadores genéricos, não apenas com seus nomes alterados, mas os próprios jogadores nada têm a ver com os reais atletas dos clubes. Alguns nomes chegam a ser hilários de tão inusitados, como um lateral direito do Grêmio chamado Tramontinaldo; um meia do Botafogo cujo nome é Chiamuloira; ou ainda outro meia do Palmeiras, chamado Pombeira. É possível que isso seja corrigido no futuro, como aconteceu em FIFA 16. Porém, até o momento em que esta análise foi publicada, nenhum patch de correção foi lançado.
A narração em português brasileiro continua sendo com a dupla Tiago Leifert e Caio Ribeiro. Com comentários bem humorados, nem sempre construtivos, mas altamente entrosados, a dupla mais uma vez não decepciona. Inclusive novas falas foram gravadas, sendo grande parte delas exclusivamente para o modo Jornada. Para quem prefere, a narração em inglês continua sob o comando da clássica dupla Martin Tyler e Alan Smith.
Veredito
Com boa parte da física remodelada, novas cobranças de faltas, pênaltis e escanteios, além de um futebol mais lento e cadenciado, FIFA 17 é pedida certa para os apreciadores do esporte. Além disso, o motor gráfico Frostbite garante belíssimos visuais ao jogo, desde a reprodução fiel das faces dos jogadores até o sutil ondular do uniforme em movimento. Não bastasse isso, ainda há o modo Jornada, que por si só já seria um motivo bom o bastante para garantir a compra de FIFA 17.
Jogo analisado com código fornecido pela Electronic Arts.