Hegemonias no futebol, num contexto geral, costumam ser transitórias. Estamos às portas da atual temporada europeia e temos o Bayern de Munique iniciando-a como melhor time da Europa, em virtude de uma merecida Liga dos Campeões conquistada em uma final alemã contra o bravo Borussia. Antes disso? O Barcelona ditava as regras. No futebol sul-americano, tínhamos o Corinthians vindo de Libertadores e Mundial. Agora o Atlético-MG é o rei da América. E assim, o futebol segue, premiando o time que trabalha, que se entrosa, guardados os devidos reveses típicos do esporte bretão. Transitando nos campos virtuais, no entanto, temos um FIFA que ainda dita tendências, que mantém o que há de bom, arrisca, provoca polêmica, mas, por fim, ainda vence, mesmo que regrida em alguns pontos dentro de seu contexto particular.
FIFA 14 consegue refinar o futebol virtual concebido pela franquia da Eletronic Arts, ainda que tenha problemas oriundos de sua ousadia. Em FIFA 13, apesar do leque de possibilidades existir, éramos entregueas a uma jogabilidade baseada em um dos atributos mais perseguidos pelos jogadores: a velocidade. Quem soubesse usar dessa característica, geralmente se dava bem. Era até pouco crível que um jogador como Andrea Pirlo (Juventus) poderia ser deixado de lado pelos atletas em favorecimento de um jogador mais rápido, ou seja, Pirlo pega a bola e já passa rapidamente para Giovinco (um velocista da vecchia sinora) brilhar. Pensar a jogada, valorizar a posse da bola era pedir para sofrer. Entretanto, na edição deste ano, a EA Canada proporcionou mudanças a fim de trazer um equilíbrio na jogabilidade.
Uma dessas mudanças provocou uma maior coesão ao proteger a bola. Esse novo mecanismo, totalmente intuitivo, permite ao jogador mover o seu corpo com a posse de bola como se fosse um verdadeiro escudo, por ora abrindo espaços na marcação, outrora proporcionando uma troca de passes mais constante. Isto, juntamente com uma mudança de direção em velocidade mais rígida, com o corpo dos atletas respondendo de forma mais real possível, deixam o jogo menos corrido, mais estratégico. Obviamente que a velocidade não é totalmente descartada aqui, todavia ela não aparecerá mais como o trunfo imediato para um jogo difícil.
Executar passes precisos necessita atenção redobrada por parte do jogador, ainda mais diante de uma inteligência artificial melhor apurada da CPU. Jogar contra a máquina está mais difícil em FIFA 14. Em versões anteriores, jogar na dificuldade Legendary não apresentava sérios problemas a longo prazo. Desta feita, você sentirá a diferença já na dificuldade World Class. Aqui temos uma CPU que pensa mais na execução dos lances, procuram os buracos em sua defesa (e ela achará vários). Uma máquina que protege a bola, que faz uma marcação intensa. Nestes casos, uma visitada nas táticas customizadas se faz preciso, algo que talvez nem passasse pela cabeça do jogador ao confrontar a CPU em dificuldades maiores num FIFA 13, por exemplo.
O mar de rosas, no entanto, não se faz totalmente presente. Tal sistema carece de ajustes principalmente nas artimanhas já descobertas por jogadores e que fragilizam as possibilidades em uma partida. Parcialmente consertada via patch, um macete que permitia gols a esmo em cruzamentos na área explicitava uma falha na inteligência artificial dos defensores (seja CPU ou jogador humano). Bastava ir para a linha de fundo e cruzar e… gol de cabeça. Jogadores altos levam certa vantagem aqui, haja visto que os zagueiros demoram um pouco para receber o comando e se posicionarem a fim de interceptar prematuramente uma investida ofensiva do adversário. Em escanteios então, a coisa se agravava ainda mais. Com o lançamento de um patch de correção, a EA conseguiu contornar tal artifício, ainda que não totalmente, cabendo ao jogador perceber o momento de um cruzamento ou simplesmente impedir o jogador de efetuar as alçadas à grande área. Outro defeito presenciado é a linha de impedimento. Prometido como um avanço no sistema de inteligência dos atacantes a fim de evitar impedimentos, estes se mostram mais frequentes, algo que pouco contribui para a fluidez da partida.
Chutes e dribles sofreram certas alterações. Em teoria, os dribles ficam mais fáceis de serem executados, bastando mover o analógico, dosar o sprint que o jogador faz e, dependendo da habilidade do atleta, realizar o comando de forma mais satisfatória, afinal, um Messi tem mais facilidade ao driblar do que um Barcos, não é mesmo? Mas boa parte dependerá da habilidade do jogador com o controle em mãos também. Os arremates a gol nos brindam com chutes mais variados, com tempo de resposta e trajetória da bola mais realistas, promovendo aquele chute forte, preciso e colocado ou aquele que simplesmente pode bater nas duas traves e não entrar. O habitual e o peculiar transitam em uma partida, algo que dependerá de fatores como posicionamento e recepção da bola por parte do atleta. E, de fato, isto funciona. Aplicar um chute finesse está mais difícil, entretanto, se aplicado, ele se torna quase indefensável para o goleiro, forçando uma marcação mais apurada a fim de evitar que um jogador possa ter todo um espaço para executar um chute com perfeição.
Tais mudanças, somadas aos aspectos oriundos de outros FIFAs e que foram ajustados, como a defesa tática (mais precisa), a engine de impacto (melhor posta), o controle de recepção de bola (mais rígido) e todas as suas variáveis tornam FIFA 14 uma edição dedicada quase que inteiramente a veteranos. Muitos destes devem reaprender a jogar, eliminar boa parte do que fora visto em FIFA 13 e repensar suas táticas e abordagens em campo. A engine de impacto não promove mais as bizarrices vistas em FIFA 13 e beneficam jogadores que têm um alto atributo de força. Neste caso, um Diego Costa pode se dar melhor que um Messi, dependendo das situações em uma partida. Tudo dependerá da habilidade de quem estiver com o controle em mãos. O "momento script", muito criticado por diversos fãs em FIFA 13 não está tão intenso em FIFA 14, mas, em partidas online, você ainda perceberá a incidência de momentos em que parece que o jogo conspira para equilibrar a situação. Por vezes, isto pode ter fundamento, por vezes, apenas delírio de quem não conseguiu se sobressair diante de um adversário mais qualificado.
Boa parte destas inovações podem ser treinadas, reconhecidas e aperfeiçoadas através dos Skill Games. Originalmente concebidos em FIFA 13, os jogos de habilidade aqui estão em número maior. Um total de 13 minigames contextuais ajudarão a enraizar fundamentos como passes, dribles e chutes. Divididos em quatro níveis de dificuldade (Bronze, Prata, Ouro e Lendário), alguns deles se apresentam fáceis e outros difíceis ainda em suas modalidades iniciais, mesmo dada a possibilidade de já escolher um jogador e uma equipe favoritas para a realização das tarefas. Estas tarefas, agora, podem ser comparadas com os feitos de seus amigos, sendo esses parâmetros a serem superados, insistentemente mostrados na tela após a realização de determinada atitivdade na tentativa da EA de uma integração social em grande escala dentro deste FIFA.
E integração é realmente o que diferencia FIFA de seu concorrente. Há melhorias no EAS FC em FIFA 14. Os feitos de seus amigos são mostrados de forma mais direta. O acesso ao que os seus amigos estão fazendo, agora por meio de um simples apertar do botão "Start" funcionaliza toda a socialização que somada a pequenas coisas como a possibilidade de mandar gifts por meio da lojinha do jogo dita uma maior fluidez de tal sistema. Quer chamar alguém para jogar um Co-Op Seasons (novidade nessa versão)? Basta ir lá, ver o que o seu amigo está fazendo e chamá-lo com apenas alguns cliques.
O Match Day Live, que traz para o futebol virtual toda a transição do futebo real, desempenho de jogadores e de equipes nos campeonatos afora, promove uma otimização nesta versão. Esse diálogo real/virtual se intensifica em FIFA 14 também, trazendo ao modo Seasons as flutuações de desempenho dos atletas. Ganso foi bem naquele jogo e ajudou o São Paulo a ganhar do adversário com assistência e com um lindo gol? Isso se refletirá em seu desempenho no FIFA e seus atributos estarão melhorados. Junto aos modos de jogo que se usam desse aspecto (Partida Rápida, Desafios da Semana e Jogos fa Semana), agora temos o Be A Pro Challenge, no qual controlamos somente um jogador diante de um desafio. Esses desafios aparecem de forma aleatória, dependendo do que acontece no futebol real. Cristiano Ronaldo fez um hat-trick incrível na rodada de final de semana? Que tal simulá-lo no Desafio? A escolha da dificuldade refletirá no quanto de Pontos de Experiência você ganhará, caso consiga êxito.
Uma das sacadas bem-vindas da EA para o FIFA 14 foi o sistema de menus. Eles estão mais dinâmicos, mais estilosos e conseguem ficar em sintonia nessa propalada característica de integração. O jogo guarda em sua memória os modos e submodos de jogos mais acessados pelo jogador. Em pequenos quadros, nesses menus e submenus, nos é destacado o que o jogador mais acessa, propiciando uma navegação mais rápida a uma determinada área do jogo. Esteve em uma Temporada no Pro Clubs e saiu do jogo? Ao reiniciá-lo, o destaque estará para isto, caso queira continuar seu progresso ali. Isso e um sistema de abas intensifica ainda mais o fácil acesso. Uma pena que a versão para PlayStation 3 sofra de uma lentidão na navegação, principalmente no Modo Carreira em que, em certos momentos, se torna quase impraticável.
Já adiantamos a citação de alguns Modos de Jogo e muitos deles receberam melhorias. Algumas destas foram tímidas, outras, por sua vez, significativas. Inegável que FIFA se engrandece muito pelo seu conteúdo. Agora, com mais times licenciados, muitos mais ligas licenciadas (destaque para as Ligas de países sul-americanos), o jogo nos brinda com o que há de melhor: escolhas. Existem jogadores que conseguem ficar meses somente esmiuçando o Modo Carreira. Outros no Ultimate Team. Outros no Pro Club. Outros no modo Seasons. E por aí vai. E conteúdo para isto é o que não falta.
Modos Seasons e Pro Clubs continuam quase intactos, o primeiro desafiando jogadores online no mundo todo por meio das divisões adentro com novidades pequenas como jogar as temporadas cooperativamente com um amigo e o reflexo do Match Day Live e o segundo, por meio do Online Pro, atleta criado pelo jogador, trihando um longo caminho para transformá-lo em um atleta renomado, melhorando seus atributos em partidas aleatórias ou associadas a um clube com seus amigos. Escolha uma posição e abrace-a até conseguir tudo com seu atleta. As partidas no Pro Clubs se encontram mais fluídas que em FIFA 13. O Seasons, por sua vez, já apresenta um pouco mais de lentidão, apesar de os servidores da EA neste ano estarem mais estáveis.
Já os Modos Carreira e Ultimate Team conseguem cativar por suas novidades mais significativas. O Modo Carreira nos dá a possibilidade de trilhar uma carreira sendo jogador ou manager (um treinador com poderes de dirigente). Como jogador, você pode utilizar seu Virtual Pro Carrer e se desafiar em alguns times ao redor do mundo, recebendo uma série de objetivos (em jogos ou na temporada), sendo refém das exigências do treinador que provavelmente irá substituí-lo nas etapas decisivas, caso você não vá bem e transferências para outros clubes também podem estar atreladas ao seu desempenho. Não há novidades palatáveis aqui.
Entretanto, o modo Manager do Carreira, por sua vez, nos traz novidades que o fazem brilhar dessa vez. O sistema global de transferências nos proporciona uma visão mais intensificada da relação entre managers e olheiros. Enviar olheiros para diversas partes do mundo, definir características de jogadores a serem encontrados nos dá uma real visão de como é no mundo real todo o processo. Chega a ser impressionante, após definir a posição carente no seu clube, uma série de características pretendidas a elas e mandar seu olheiro, por exemplo, para a Alemanha verificar se encontra alguém, este se comunicar de forma intensa com o manager e tudo isto sendo mostrado conform se avança no calendário da temporada. Seja com estes, com o alto escalão do clube, com seus atletas e seus anseios, a atividade de manager neste FIFA 14 se mostra bem mais viciante e atribulada que em FIFA 13, podendo ocupar o jogador durante muito tempo.
Muito tempo também será tomado para desbravar as características do Ultimate Team. Ele se intensifica ainda mais como algo à parte dentro do universo de FIFA, como um jogo dentro de outro jogo. Gerenciar um time por meio de cartas de jogadores, treinamentos, definir esquema tático, dentre outras características, continuam presentes. Entretanto, há muitas novidades. Treinadores agora estarão atrelados a ligas, cabendo ao jogador, na formação de seu time, a casar uma compatibilidade entre a liga do treinador e o montante visto em atletas de seu plantel. Você pode ter um Mourinho da Liga Brasileira, por exemplo. Esta novidade supre a ausência de alguns treinadores. Ao contrário do ano anterior, em que tínhamos o grande Muricy Ramalho, neste ano não temos treinadores brasileiros materializados nas populares cartas, que, aliás, ganharam um estiloso novo design.
Ainda na onda de uma melhora da química do seu time, algo visto neste ano como mais complexa, temos as cartas de "estilos de química" para os jogadores. Vistas como melhorias permanentes em alguns atributos, vemos aqui uma característica de RPG ao FUT, principalmente no que concerne aos chamados Jobs. Posso melhorar meu time com um Shadow, que ganham um boost em velocidade e defesa. Os exemplos são inumeráveis e tudo vai depender do grau de química entre os seus selecionados. Há um limite que varia de 0 a 3 e cabe gerenciar este tipo de flutação, colocando jogadores de mesma liga ou mesma nacionalidade e clube a fim de melhorar a química entre eles. Uma química de lealdade também fora adicionada, o que nos dá uma complexidade maior a esse sistema. Jogadores encontrados em um pack já vêm com uma lealdade ao máximo. Jogadores comprados no leilão, no entanto, devem cumprir dez partidas para estarem totalmente leais ao seu clube.
Cartas de formação foram abolidas numa sábia decisão. Isto confere às partidas uma maior variedade de mudanças de esquemas táticos, dependendo da forma de jogar ou da CPU ou do adversário humano. A transição nos menus aqui também se mostra totalmente mais otimizada. A procura de atletas está melhor. Você pode, por exemplo, já ir direto a um atleta digitando seu nome no campo procura. Ou, então, se quer vender alguém do seu elenco, pode ir, por meio de uma opção, direto ao mercado comparar com outros atletas, a fim de vendê-lo a um melhor preço. As temporadas Online e Offline que antes tinham apenas cinco divisões, agora contém 10 delas. No modo offline, particularmente, a subida de divisão está bem mais difícil devido a dificuldade da CPU neste FIFA. Claro que também dependerá dos torneios que você disputar. Gerenciar coins e usar o web app fazem do FUT praticamente uma rotina dentro de FIFA para os adoradores deste modo de jogo.
Visualmente, FIFA 14 não apresenta grandes mudanças se comparado ao seu predecessor. Você perceberá uma maior nitidez no jogo de cores, uma torcida mais realista e menos estática, alguns jogadores com suas feições mais realistas, animações novas ao comemorar um gol, sendo que agora ao executar uma comemoração, via comandos, teremos uma "close" nelas, porém a maior parte do tempo nota-se que os visuais de FIFA já começam a sentir o final da geração, sendo que já existe um novo motor gráfico para os consoles de próxima geração. Para a nossa alegria, desta vez, as cenas de corte de substituição podem ser puladas. Na parte sonora, a torcida tem um comportamento mais real. Ela vaiará de forma mais intensa um adversário, gritará olé em determinados pontos do jogo e cantará músicas conhecidas de alguns clubes.
A narração ainda se encontra sólida na versão inglesa. Na versão brasileira, houve uma melhora. Thiago Leifert e Caio Ribeiro nos brindam com novas linhas de diálogo e mais frequentes, diminuindo aqueles hiatos consideráveis de silêncio entre uma fala e outra. Algumas dessas novas linhas de diálogo são interessantes, outras simplesmente esquecíveis, porém contextuais. Ainda assim, Leifert não consegue transmitir a emoção de um narrador em sua plenitude, por não ser do ramo, apesar de ser um ótimo apresentador. A trilha sonora que embala os menus desse FIFA está mais diversa, apesar de não ter a mesma qualidade de versões anteriores. O Brasil se faz presente com Rock Mafia e Marcelo D2, apesar deste que vos escreve ainda preferir Gabriel o Pensador e Bloco Bleque de FIFA 12 ou, ainda, a diva Marisa Monte e o competente Sérgio Mendes em 2010 FIFA World Cup.
Muitos acharão FIFA 14 um jogo controverso para a franquia. Com decisões que afetam drasticamente o transcorrer das partidas, por meio de jogabilidade, talvez não tenhamos aqui o FIFA mais equilibrado de todos (muitos ainda vão preferir FIFA 12 nesta visão), porém a EA se mostra ainda capaz de entregar um jogo sólido em muitos pontos, ainda com muito conteúdo, que ousa por um lado, erra por outro (ainda que boa parte destes erros já tenham sido corrigidos via patch), mas que não fica parado no tempo, afinal, em time que para no tempo, sofre (são-paulinos sabem disto mais do que ninguém atualmente).
— Resumo —
+ Tenta ser diferente
+ Melhorias significativas no modo Carreira e Ultimate Team
+ Jogabilidade mais cadenciada
+ Mais difícil
+ Muito conteúdo
+ Menus mais dinâmicos
– Pequenos problemas em ajustes de jogabilidade
– Visualmente não impressiona tanto