Fez

Por muito tempo, a comunidade encarou Fez como um vaporware, ou seja, um jogo que provavelmente nunca sairia no mercado. O game do polêmico desenvolvedor Phil Fish levou cinco anos para ser produzido e, durante este tempo, houve inúmeras barreiras para o seu lançamento. Aos que acompanharam esta trajetória pela internet ou pelo documentário Indie Game: The Movie, puderam perceber as dificuldades envolvidas na criação de um jogo.

Agora, dois anos após o lançamento inicial na XBLA, Fez chega às plataformas da Sony. Trata-se de um jogo ousado para o primeiro projeto realizado por uma dupla – elaborar puzzles que funcionam pela simples rotação dos cenários 2D já é algo complicadíssimo por si só.

Fez é centrado no pequeno personagem Gomez, que parte em uma aventura para recuperar a estabilidade de seu mundo – repleto de bugs e glitches após um grande cubo se fragmentar. Com a ajuda de um chapéu fez, o protagonista ganha a habilidade de acessar as outras dimensões de seu mundo. De um background simples e de história bastante abstrata, o jogo possui uma jogabilidade acessível, apesar das complexas mecânicas de rotação 3D dos cenários. A proposta do game também é descomplicada – você precisa coletar pelo menos 32 pedaços de cubos para cumprir o objetivo do jogo. Existem outras “espécies” de cubos, além de outros itens únicos; estes serão aprofundados posteriormente nesta análise.

Para coletar tais itens, o jogador precisa explorar bastante cada canto do mundo de Gomez, além de resolver alguns puzzles e enigmas obscuros. O gameplay consiste na alternância entre momentos de plataforma e puzzle, mas nem sempre de forma balanceada. Girar a câmera para descobrir uma nova passagem, a fim de prosseguir em um cenário, é brilhante. Grande parte das descobertas no game é fruto de uma questão de perspectiva. Fez é um jogo único por proporcionar esse tipo de experiência inédita nos games. Com a progressão do jogo, vão surgindo puzzles que exigem um uso mais refinado da mecânica de rotação, bem como novos elementos que dão maior variedade ao jogo, como plataformas que também giram, bombas, blocos invisíveis, entre outros.

Não é mistério que o jogo da Polytron herda diversas características dos “retro games”, fazendo homenagem também a clássicos do NES como The Legend of Zelda e Mario Bros. A pixel art do jogo é fantástica, caracterizando de forma eficiente cada elemento do cenário – o jogador consegue distinguir, por exemplo, o que é uma porta e o que é um buraco na parede, algo que não fica muito claro em indies recentes que utilizam o mesmo tipo de arte. Os mundos de Fez são bastante detalhados, possuem cores vibrantes e carregam uma essência de vivacidade – isto por conta da variação do tempo e das criaturas que passeiam pelo cenário.

Complementando os charmosos gráficos de Fez, a trilha sonora encaixa bem com a proposta visual do jogo, de modo que nos cenários calmos e pacíficos somos presenteados com músicas relaxantes, ao passo que as ruínas escuras são acompanhadas de músicas que conferem um clima enigmático. As diversas músicas de ambiente misturadas com chip tunes proporcionam uma trilha sonora muito agradável. Certos detalhes também engrandecem o áudio do game: em situações em que o jogador posiciona Gomez atrás do cenário, o som fica abafado, demonstrando um “distanciamento” entre o personagem e o jogador.

Embora apresente um gameplay com mecânicas inovadoras e diversos outros méritos, o jogo não é livre de defeitos; e alguns dele são graves. É quase impossível não se deparar com algum bug durante a jornada de Gomez. Puzzles que envolvem a movimentação de blocos são os mais propensos a alguns bugs estranhos, que podem retardar a sua progressão no game. O defeito mais grave do jogo, no entanto, fica por conta da exploração dos anti-cubos – um tipo de item raro do jogo. Grande parte dos puzzles envolvendo estes itens não são tão interessantes quanto os dos cubos normais.

Muitos dos enigmas anteriormente citados envolvem interpretar e decifrar códigos para então pressionar uma determinada sequência de botões em um lugar específico. Exemplificando, se você pressionar quatro vezes o L2 e três vezes o R2 perto de uma cachoeira, uma nova passagem se revela. Inicialmente este recurso se mostra interessante, mas acaba se repetindo demais ao longo do processo para completar o jogo em 100%.

Nem todos os puzzles são tão divertidos e uma maior variedade faria bem ao new game+ do jogo. Cabe ressaltar que este é um problema muito subjetivo, mas é inevitável certo desgaste e cansaço após o input de vários códigos sem utilizar um guia. Jogar Fez por mais de duas horas também pode esgotar a paciência do jogador, já que são muitas sequências de puzzles. Neste ponto, indicar a versão Vita de Fez talvez seja o mais adequado, permitindo que o jogador desfrute do game em doses homeopáticas (facilitado pela portabilidade do aparelho).

Veredito

Ainda que apresente algumas imperfeições, Fez é obrigatório para qualquer “retrogamer” ou usuário que busque uma experiência original. Atualmente, é muito comum que os jogos indies embarquem em alguma referência do passado, homenageando séries das quais crescemos jogando. Fez trilha essa rota, mas entrega um gameplay inovador, destacando-se como um dos mais notáveis da categoria (indie) e de seu gênero.

Jogo analisado com código fornecido pela Polytron Corporation.

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85

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