Far Cry Primal

Depois de explorar ilhas tropicais, desertos africanos e as regiões montanhosas do Nepal, a franquia Far Cry adentra um período quase nunca abordado no mundo dos games: a Idade das Pedras. Ao invés de armas e aparatos tecnológicos para destruir centenas de inimigos, a nova produção da Ubisoft coloca o jogador na pele de um homem das cavernas em um cenário hostil, em que os meios de sobrevivência se resumem a lanças de madeira, arcos e flechas e tacapes.

A história segue Takkar, membro da tribo de Wenja. Após sobreviver a um terrível ataque de um tigre-dentes-de-sabre, ele descobre que é um dos últimos de sua tribo. Seguindo o conselho de um companheiro morto na luta contra o tigre, Takkar procura abrigo na terra de Oros, lugar controlado por duas tribos rivais, os Izila, mestres do fogo e os Udam, povo canibal que habita as áreas montanhosas. Ali, Takkar terá que encontrar outros Wenja, reerguer sua tribo e destruir as rivais para se tornar o líder alfa da região.

O principal objetivo do jogo é criar uma tribo numerosa, capaz de resistir aos ataques dos inimigos. Para isso, o jogador terá que recrutar outros Wenja que foram sequestrados ou estão em perigo ao redor do mapa. Fazendo isso, sua tribo receberá novos integrantes e você terá acesso a novos recursos e upgrades para suas armas.

Uma das novidades de Far Cry Primal em relação aos seus antecessores, no que diz respeito às mecânicas, é o poder do protagonista de domesticar os animais selvagens que habitam a área de Oros. Ao adquirir a habilidade mística de compreender e domar os animais, é possível transformá-los em companheiros de batalha, seja mandando-os atacarem algum alvo ou fazê-los de montaria. Domar os animais e cuidá-los para que não morram em combate fazem deles uma extensão do poder do jogador.

A história não pode ser considerada memorável e certamente não é um dos pontos fortes do jogo, mas tem seus bons momentos, especialmente algumas reviravoltas que acontecem no fim e se encaixam muito bem ao tema do jogo e às questões de linhagem e ancestrais. A duração da campanha principal pode alcançar de 10 a 15 horas, mas existem também – como em todo game de aventura em mundo aberto que se preze – inúmeras missões secundárias que nos proporcionam oportunidades para evoluir Takkar e sua tribo. Isso faz com que a história progrida de forma não-linear.

O jogo tem um mapa vasto e bem variado. Com paisagens que vão desde montanhas geladas a selvas tropicais, passando por pântanos e áreas arenosas. Há uma boa extensão de terra onde podemos encontrar diversos tipos de animais: tigres-dentes-de-sabre, mamutes, macacos, rinocerontes, javalis, jacarés e muitos outros. À medida que exploramos a terra de Oros, o mapa vai se abrindo e liberando novas áreas. Nessas novas regiões existem pontos em que há piras, uma vez acesas elas se tornam uma espécie de checkpoint, em que Takkar pode descansar em segurança e reabastecer sua bolsa de suprimentos. Dentre as atividades secundárias, há exploração de cavernas, encontrar totens e pinturas rupestres escondidas, entre outras.

Para sobrevivência neste local hostil, o ambiente é um de seus maiores aliados: seja usando o fogo para afastar os predadores ou encurralar presas, despistando inimigos pulando nas águas escuras dos rios e se escondendo na vegetação da floresta para passar despercebido por qualquer que seja a ameaça. A relação entre presa e caçador com os animais e demais humanos cria uma experiência bastante realista e pode ser apontada com um dos principais pontos positivos do jogo.

E o famigerado sistema de “looting” da franquia faz muito mais sentido em Oros por ter um propósito para a estrutura do game. Coletar plantas, minérios e peles de animais é essencial para podermos melhorar as armas de Takkar e as instalações de sua tribo. A mecânica de recuperar munição, seja dos corpos dos inimigos ou do chão, assume aqui um papel vital para a sobrevivência do jogador ao invés de ser um simples capricho. Obviamente que passar o tempo inteiro coletando esses itens pode se tornar mundano e um pouco cansativo. O jogo sofre de alguns vícios da franquia, como repetições nas tarefas e objetivos que se tornam mais um trabalho do que algo prazeroso e interessante.

O sistema de combate, apesar de herdar a maioria das características dos jogos anteriores, aqui tenta ser mais voltado a uma abordagem “stealth” e lutas corpo-a-corpo, o que torna a ação bastante repetitiva e cansativa após certo tempo. O jogo acaba por se tornar um mero “bater, correr para recuperar vida e voltar a bater”. Apenas após alguns upgrades, com algumas armadilhas e truques novos na manga, é que as coisas voltam a ficar interessantes, mas no fim das contas o sistema é quase sempre “mais do mesmo” durante todo o jogo.

Um dos maiores elogios que se pode fazer à equipe de desenvolvimento da Ubisoft é o seu cuidado com a ambientação dos jogos. Com o grande desafio em mãos de não apenas criar uma história, mas preencher lacunas sobre as quais ainda não temos tanto conhecimento, como a língua e o comportamento dos humanos na era neolítica, podemos dizer que o jogo cumpre a tarefa primorosamente. Foram três línguas desenvolvidas exclusivamente para ele, todas baseadas no idioma primitivo protoindo-europeu. Todo esse cuidado pode ser visto também nas “cutscenes”, com o dialeto fictício sendo usado o tempo todo (não há dublagem em qualquer idioma atual), apenas a legenda sendo em português. A captura facial nas cenas continua sendo primordial para dar personalidade e caracterização aos personagens coadjuvantes e apenas realça esse cuidado da produtora com os detalhes.

Os gráficos continuam bonitos, com uma paleta de cores bem puxada para tons de marrom e de terra. A qualidade gráfica é refletida na variedade de vegetação e nos diferentes relevos. O jogo se beneficia por reutilizar a “engine” dos games anteriores, pudemos ver pouquíssimos bugs ao longo da jornada. As mecânicas se apresentam bastante sólidas e também não mostram maiores falhas.

Porém, como as missões para adquirir experiência se tornam um tanto repetitivas ao longo do jogo e oferecem pouco ou nenhum desafio e as tais “fetch quests” não agregam nada imprescindível à história, torna-se muito cansativo atravessar grandes porções de terra a pé, batendo aquela saudade de um veículo mais veloz que um mamute pré-histórico.

Veredito

Far Cry Primal é uma iniciativa arriscada por parte da Ubisoft com a intenção de renovar e dar fôlego para essa série tão querida pelos fãs. Apesar de todas as novidades, o jogo mantém as tradições da franquia e também seus vícios. Mecânicas de combate e objetivos de missão repetitivos diminuem um jogo que poderia ter um resultado final bem mais impactante e se mostram como os principais pontos negativos. Porém o cuidado com sua ambientação e uma Oros viva e variada, construída com riqueza de detalhes, fazem do jogo algo genuinamente novo, à parte da experiência de Far Cry 4 e não apenas um mero DLC ou expansão do predecessor. Para os fãs da franquia é um “must have”. Para os demais gamers é uma ótima surpresa e vale nossa recomendação.

Jogo analisado com o código fornecido pela desenvolvedora.


 

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