Dying Light

À medida que o tempo passa, trazer novas propostas ou inovar gêneros já consolidados têm se demonstrado uma tarefa cada vez mais difícil. Contudo, o caminho mais recorrente para contornar as barreiras da criatividade tem sido a mistura de várias fórmulas de sucesso. Exemplo deste fenômeno é o recente Shadow of Mordor, que trouxe uma elegante união entre o gameplay de Assassin’s Creed e o combate dos Batman’s da Rocksteady.

Fazendo uma analogia com culinária, Dying Light é uma farofa composta por muitos ingredientes, mas é uma farofa muito boa. O jogo da Techland, responsável pelo Dead Island original, reúne elementos desta série, de Mirror’s Edge, de Assassin’s Creed, dentre outros produtos de sucesso. Não existem muitas novidades no gameplay, mas talvez o jogo não precise disso.

O jogador assume o personagem Kyle Crane, um agente infiltrado na caótica cidade fictícia de Harran, com o objetivo de recuperar um valioso documento. No entanto, os planos iniciais de Crane são atrapalhados por humanos e zumbis, até ser salvo por um grupo de sobreviventes com o qual ele se envolve lentamente. Antes de começar as primeiras missões no mundo aberto do jogo, um breve tutorial ajuda o jogador a se familiarizar com os controles do free-running/parkour.

É na jogabilidade que Dying Light acerta – a movimentação do free-running é suave, precisa e facilmente executada pelo jogador. Com poucos minutos de jogo, a ação de transitar entre prédios e casas se torna um processo natural e o jogador muito dificilmente terá algum problema com este aspecto. Contudo, de nada adianta esta facilidade de movimentação se não há um bom ambiente a ser explorado.

Felizmente, Dying Light também presenteia o jogador com um mundo vasto e rico em detalhes. Transitar por Harran e explorar seus segredos é extremamente recompensador. O design da cidade facilita os movimentos de parkour, com rampas e pontes bem posicionadas, permitindo que o jogador lide com grandes distâncias sem se queixar da ausência de fast travel (existente apenas para mudar de distritos da cidade).

Inicialmente o jogador possui apenas armas e materiais básicos, mas a cidade provê novos recursos para os exploradores. Existem diversos itens escondidos (e easter eggs!) em Harran e passear pelas estruturas verticais ou abrir fechaduras proporcionará uma jornada mais tranquila por meio de itens mais eficazes. Embora as missões em sua maioria sejam simples, majoritariamente de coletar algo ou chegar a um ponto X e eliminar inimigos, a viagem pelo caminho costuma ser divertida. Isso se deve a este universo detalhado, com grande variedades de assets e facilidade de locomoção.

Harran não merece elogios apenas pelo seu design, mas pelo cuidado visual existente na versão PS4. Ainda que existam defeitos como pop-in de objetos, o medíocre efeito da água, a falta de filtragem anisotrópica (AF) e o péssimo efeito de aberração cromática, Dying Light é um jogo muito bonito. A iluminação é decente e o jogo possui ótimas texturas e belos efeitos na atmosfera. A performance costuma ser constante a 30 fps durante boa parte do jogo. Quedas só acontecem em ambientes muitos concentrados por zumbis, principalmente nos “power challenges”.

Visualmente, o jogo peca pela animação de alguns NPC’s. A animação facial também é muito limitada. O game também recicla o visual de vários personagens, o que acarreta em diversas sensações de “deja vu”. O mesmo não pode ser aplicado aos inimigos – não houve qualquer economia de capricho. Os efeitos de desmembramento de zumbis e impactos de golpes melee são absurdamente detalhados, portanto, fica o alerta para os jogadores sensíveis a violência exagerada.

Voltando ao assunto gameplay, o elemento que mais afeta este aspecto em Dying Light é a transição entre dia e noite. Explorar durante o dia provavelmente vai garantir jornadas seguras e livres de sufoco. Já à noite, a baixa visibilidade e a presença de outras ameaças além dos zumbis comuns tornam as jornadas extremamente arriscadas.

Em compensação, sair a noite no mundo aberto de Dying Light aumenta o ganho de experiência. Para os exploradores noturnos, o ideal é estar bem equipado e atento as safehouses por perto – estes são locais espalhados pelo mapa em que o jogador pode descansar e guardar itens, livre da ameaça de inimigos. Sobre os inimigos, à noite aparecem monstros exclusivos, como é o caso dos volatiles. Existem outras variações que são similares aos zumbis diferenciados de Left 4 Dead.

O combate também peca em Dying Light. É simples e poucas habilidades significativas são desbloqueadas com a progressão do jogo. Isso causa certa monotonia em determinadas etapas do game, limitando ao jogador combater hordas com o balançar de armas, similar a Skyrim ou Fallout. Ao manusear armas de fogo, o jogo simula um FPS sem muita precisão. A sensibilidade da mira não é das melhores.

O jogo também oferece a possibilidade de cooperar com amigos durante praticamente toda a jornada. O Coop está disponível tanto para a campanha principal, como para sidequests. O modo “be the zombie” (disponível via DLC ou gratuito para os que fizeram a pré-compra) é um pvp de invasão, similar ao existente na série Souls. Um jogador assume a forma de um Hunter, um dos monstros mais perigosos do jogo, e deve caçar os humanos. O objetivo dos jogadores humanos é destruir a ninhada destes monstros. Completar partidas tanto no coop como no pvp podem render bônus generosos de experiência para então abrir novas habilidades.

A dublagem de Crane fica por conta Roger Craig Smith. Muitos devem conhecê-lo pelo seu trabalho em Resident Evil (Chris Redfield) e Assassin’s Creed (Ezio). No geral as dublagens são competentes, com a presença de diversos sotaques diferentes, demonstrando a diversidade étnica de Harran. A trilha sonora não é especial, mas não desaponta – existe uma predominância de batidas eletrônicas em determinados momentos de tensão, mas no geral prevalece o silêncio no mundo aberto.

Algo que não colabora muito para o trabalho de dublagem e caracterização dos personagens é a razoável história do jogo. O game da Techland tem uma abordagem mais sombria e madura da temática de zumbis, mas toca nos mesmos assuntos batidos como busca por uma cura, conflitos entre humanos, entre outros que você possa imaginar. No entanto, isso não compromete a diversão que o jogo proporciona.

O fator replay é alto em Dying Light. A quantidade de side quests, desafios, easter eggs e itens colecionáveis é enorme. Há muito o que se fazer em Harran. Contudo, esse aspecto traz consigo outro problema – a repetitividade de missões. Alguns podem se queixar da extensa campanha principal (que dura aproximadamente 20 horas), mas as side quests cansam com certa rapidez. É preciso dosar as sessões de jogo e alternar entre as diversas variações de gameplay para não enjoar rápido.


 

Veredito

Dying Light é um produto ambicioso, talvez o melhor jogo de zumbis de mundo aberto que exista atualmente no mercado – pelo menos foi o que mais me satisfez. O jogo carrega várias fórmulas que deram certo em outros games, mas sem trazer grandes novidades. No entanto, ele não precisa ser revolucionário, visto que ele proporciona um fator que obscurece quaisquer outros aspectos defeituosos: a diversão. Jogadores que já estão saturados da temática pós-apocalíptica com zumbis, provavelmente não se sentirão atraídos por Dying Light. Mas para aqueles que gostam do tema ou para os admiradores de bons jogos, é certo que passarão por bons momentos de puro entretenimento.

Jogo analisado com código fornecido pela Techland.

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90

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