Diversos jogos de plataforma possuem modos time trial, geralmente disponíveis após o término da campanha. Dustforce, embora nunca te coloque de fato contra um relógio contando até a sua derrota, é um jogo fundamentado em time trials. O público-alvo de Dustforce são aqueles que não se cansam de repetir os mesmos estágios de novo e de novo em busca da perfeição, e se você não se encaixa nessa categoria, o jogo provavelmente não vai segurá-lo por muito tempo.
Em Dustforce você controla um de 4 garis (que não oferecem diferenças significativas) e seu objetivo é chegar no fim de cada fase o mais rápido possível, limpando a maior quantidade de sujeira e lixo no caminho sem perder o contador de combo (que pára se for atingido por um inimigo ou você deixar de coletar mais lixo por um tempo). O grande problema é que a proposta do jogo – a perfeição – fica clara logo no começo, mas a curva de aprendizado dos controles é tortuosa, e sequer aprendê-los já é complicado – dominá-los completamente leva muito mais tempo. Tempo frustrante na frente da tela, em que pular numa parede e segurar pra cima não faz seu personagem correr sobre ela quando deveria, ou errar todos os ataques num inimigo voador que fica em cima de um abismo, gerando perda de momentum e o inevitável retorno ao checkpoint anterior.
Algo que também não colabora com o aprendizado dos comandos é a disposição das fases. Não há uma ordem correta para realizá-las, e dispõe-se de mais de 20 fases desde o começo do jogo, algumas tranquilas e rápidas, mas outras realmente frustrantes. É triste, porque quando Dustforce funciona, é excelente. É muito gratificante fazer uma fase sem perder o combo e passar de ladeiras íngrimes a andar no teto, seguido de wall-jumps e terminando com um ataque em área que elimina todos os inimigos de uma vez. Mas são poucas as fases que permitem que o jogador se sinta confortável com os controles antes de jogá-lo no verdadeiro desafio.
A apresentação do jogo é um ponto forte. Apesar de não ser desenvolvido pela Capcom (Dustforce já tem 2 anos de idade e foi desenvolvido por uma empresa indie para PC), os personagens e suas animações lembram bastante Ghost Trick. A trilha sonora também é fantástica e nunca enjoa mesmo nas fases mais insanas onde o retorno para o checkpoint é constante e as músicas parecem tocar em loop.
Liberar as fases mais difíceis necessita de chaves, prateadas e douradas, conquistadas ao fazer as fases rapidamente e sem perder o combo. Os estágios que precisam de chaves prateadas oferecem um desafio maior para aqueles que estiverem dispostos a enfrentá-los, mas são possíveis mesmo para aqueles que só querem jogatinas ocasionais. A grande maioria dos desafios de chave dourada, porém, exigem praticamente perfeição e destreza absurdas.
O jogo também oferece alguns modos multiplayer, Survival e King of the Hill, onde você deve sobreviver por um tempo e com certo contador de vidas, e dominar áreas marcadas com orbs limpando/sujando elas por determinado tempo, respectivamente. Os lobbies do PS3 e Vita estão praticamente vazios, porém, e apesar de existir cross-play, a opção não parece funcionar sempre.
Dustforce abraça o jogador obstinado a masterizar controles e fã de platformers old school e time trials, mas não é convidativo para quem não se encaixa nesse grupo, com uma curva de aprendizado difícil e controles frustrantes. Uma proposta interessante, mas que apela pra um público de nicho e acaba sendo insatisfatória para os demais.
Veredito
Dustforce, quando funciona, é excelente. As fases desorganizadas e a curva de aprendizado ruim não colaboram, porém, tornando essa uma experiência frustrante para os que não tem tempo ou paciência pra investir em time trials e perfect runs.
Jogo analisado com código fornecido pela Capcom.