Jogos de Adventure fazem parte de um dos gêneros que mais mudaram ao longo das últimas gerações, muito em razão do sucesso atingido pelos títulos da Telltale e de jogos inspirados por eles, como Life Is Strange. Nesse contexto, Dreamfall Chapters: The Longest Journey parece uma relíquia do passado, uma homenagem à maneira como os jogos deste gênero costumavam ser.
Dreamfall Chapters é o port para PS4 do jogo lançado de maneira episódica para PC no ano passado, consolidado em um jogo só, sendo o terceiro da série de adventures point-and-click que se iniciou em 1999 com The Longest Journey. Dreamfall marca o primeiro deles a chegar às plataformas da Sony.
Ambientado em parte no ano de 2020, DC é um jogo que explora, por meio de dois protagonistas (Zoe Castillo e Kian Alvane) a maneira como duas histórias se interligam, Zoe e sua busca por entender as intenções de uma empresa maligna que desenvolveu um aparelho chamado de “máquina de sonhos”, através do qual as pessoas passam a viver em suas fantasias após entrarem em um estado de coma induzido por drogas e Kian em sua batalha contra um império que põe em risco a sobrevivência do seu povo.
O principal charme do jogo está em sua história e seus personagens. A apresentação das duas tramas, tanto a focada no mundo de Zoe, chamado de Stark e que se assemelha bastante a uma visão futurista da Terra, e os poderes dela quanto no de Kian (o reino mágico chamado Arcadia). Há um longo desenrolar em ambas as histórias e elas parecem não ter qualquer conexão até mais avante no jogo. E como um bom thriller sci-fi, a história é cheia de twists que vão aos poucos dando sentido ao jogo.
As tramas e a maneira como ambas se desenvolvem, se conectam e se resolvem é o grande sucesso de Dreamfall Chapters. A narrativa do jogo é, em sua maior parte, um sucesso, apesar de ser morna pela grande maioria dos capítulos, ganhando força mais próximo de seu final. Ter um conhecimento prévio dos personagens talvez dê mais impacto à narrativa, mas, mesmo sem os jogos anteriores, a história em si se sustenta bem.
Ter jogado os títulos anteriores talvez não seja suficiente para tornar DC um jogo agradável. The Longest Journey e Dreamfall: The Longest Journey saíram há bastante tempo (em 1999 e 2007, respectivamente) e mesmo os fãs de longa data precisariam estar com os acontecimentos destes jogos frescos na mente, já que DC faz um trabalho absolutamente atroz de explicar fatos passados, assumindo um nível de conhecimento e domínio da lore da série quase inatingíveis para quem não é fã dedicado do gênero.
E mesmo para quem o jogou, o começo de Dreamfall Chapters tem um dos ritmos mais sofríveis que o gênero pode proporcionar. Ele se orgulha de ser um eco dos point-and-clicks de outrora, sofrendo de problemas de design que seriam perdoáveis em 1999, mas, com os avanços que o gênero passou, muito dele parece perdido no tempo, preso à uma obrigação de agradar aos fãs da série, mesmo quando tenta modernizá-la (como as bem inúteis partes de mundo aberto).
Muitos dos problemas apresentados por DC estão condensados nos primeiros dois capítulos, em especial puzzles obtusos, plots inúteis e que aparecem com a mesma velocidade em que são abandonados, e a sensação de tudo ser excessivamente complexo simplesmente por ser. Não é que os desafios são difíceis, pois não são, mas meramente são longos, como se para preencher uma cota de tempo determinada pelos desenvolvedores.
Não há como negar, entretanto, que a maior parte desses problemas é minimizada mais para frente e o jogo em si se torna bem melhor. Os puzzles não melhoram muito, mas, apesar dos problemas de gameplay, a história se torna mais engajante e o volume das sessões mal planejadas de jogo diminui bastante.
É uma pena que a qualidade da escrita dos personagens e diálogos (em especial da Zoe) seja atrapalhada pela péssima dublagem do jogo, o que, casado com as animações muito ruins, passa a impressão de se ver estátuas sem vida conversando e não personagens que deveriam ser críveis. O estilo visual dos cenários é interessante, mas dada a enorme quantidade de vezes em que são reciclados, acabam se tornando bastante esquecíveis.
A grande questão sobre Dreamfall Chapters acaba sendo uma variação de “por que eu deveria jogá-lo”. Como a maioria dos point-and-clicks, a adaptação do jogo ao console é adequada, mas não contribui em nada para a experiência. Adicione a isso o fato dele se apoiar tanto nos jogos anteriores que, buscar apresentá-lo desta maneira para novos jogadores, acaba fazendo um desserviço à série como um todo.
No geral, Dreamfall Chapters é uma boa história que acaba sofrendo pelo todo que a sustenta. Um ritmo terrível nos primeiros capítulos, mecânicas datadas e ruins e a sofrível parte técnica tiram muito do poder de cativar que o jogo possui e, por melhor que seja, a narrativa sozinha não consegue sustentar a experiência.
Veredito
Dreamfall Chapters: The Longest Journey é um jogo muito difícil de recomendar para qualquer um que não seja fã da série The Longest Journey. A parte técnica sofre de diversos problemas, o ritmo do jogo é terrível e os puzzles obtusos tornam o jogo uma ode aos clássicos do gênero adventure da pior maneira possível. Há uma boa história aqui, mas chegar até ela exige uma boa dose de tempo e paciência.
Jogo analisado com cópia digital fornecido pela Deep Silver.
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Veredict
Dreamfall Chapters: The Longest Journey is a tough game to recommend to anyone other than longtime fans of the The Longest Journey series. It suffers with technical issues, its pacing is terrible and obtuse puzzles turn the game into an unnecessary ode to the classic adventures in the worst way possible. There’s a good story here, but getting to it demands a good amount of time and patience.