O inferno é uma ambientação bem comum em videogames. Seja como um lugar terrível com inimigos a serem destruídos, como em Devil May Cry, ou apenas mais um reino com suas próprias características, como em Shin Megami Tensei, um dos planos de existência mais explorado da cultura humana é, naturalmente, palco de vários jogos. Mas nenhum deles talvez trate-o com tanto bom humor quanto a série Disgaea. Previsto para ser lançado no próximo dia 6 de outubro, Disgaea 5: Alliance of Vengeance chega ao PlayStation 4 com tudo aquilo que podemos esperar da série.
O quinto jogo da série de SRPGs (RPGs de Estratégia), de alguma maneira, encontra formas de ser ainda mais absurdo do que as já enormes entradas anteriores e, ainda assim, parece mais acessível do que alguns dos jogos anteriores. E, assim como anteriormente, a enorme quantidade de conteúdo e opções levam ao melhor jogo da franquia ate aqui.
A estrutura do jogo continua sendo a mesma: movimentação em grid e combates por turno, combinados com as regras presentes em todo Disgaea, de combos gigantes, números absurdos e uma combinação de personagens padrão para a história e servos recrutas para atender a enorme quantidade de classes disponíveis. E pode ter certeza que a série continua a não se levar nada a sério.
Como sempre, o jogador assume o controle de um dos vários Overlords do Netherworld, dessa vez chamado Killia. Em um mundo em que um Overlord chamado Void Dark dá inicio à maior guerra já vista no Netherworld, o escopo da história se torna bem maior do que o que é tradição na franquia. Esse tema, a princípio mais sério, inclusive, faz de Killia um protagonista mais sisudo e próximo do “padrão” dos JRPGs, diferente dos bem humorados e malucos protagonistas anteriores, como Mao (Disgaea 3) e Valvatorez (Disgaea 4). A mudança é bem vinda, já que o exagero de alguns protagonistas acabava se tornando um pouco cansativo (há um limite de protagonistas que querem matar seus pais por destruírem seus jogos em uma franquia).
Assumindo, então, a missão de construir um exército poderoso o suficiente para se vingar de Void Dark (porque é claro que não é sobre salvar o mundo. É uma vingança pessoal. São demônios, afinal de contas), Killia encontra alguns dos melhores personagens da série. O principal destaque vai para Seraphina, a principal personagem feminina do jogo, sendo uma de suas personagens mais “padrão”. Ela segue muito o padrão estabelecido por outras personagens da série (principalmente Etna), mas sua evolução é agradável e ela é responsável por alguns dos melhores diálogos do jogo. E, naturalmente, os Prinnies voltaram, dood.
Se os personagens estão mais bem escritos e os diálogos, em sua maior parte, continuam afiados, a mudança de tom no roteiro e no arco geral do jogo não funciona tão bem quanto poderia. Existem pontos muitos altos, mas diversas vezes o roteiro acaba por recorrer a clichês e transforma o que poderia ser uma ótima e marcante história em só mais uma história de vingança. Por alguma razão, em alguns momentos parece que a história é alongada para manter a tradicional quantidade absurda de conteúdo da série (como se não bastassem os primeiros capítulos serem uma série de tutoriais), sendo que alguns dos cenários poderiam ter ficado para o pós-jogo sem qualquer problema.
Assim como em Disgaea 4, o jogo logo lhe coloca no hub central, onde o jogador pode explorar as lojas e dar inicio às missões, recrutar novos servos, visitar a galeria para rever cutscenes ou reler diálogos e visitar algumas das mecânicas introduzidas anteriormente, como o Item World (mecânica na qual é possível entrar em um item e aumentar o nível do mesmo). Outras mecânicas que voltam são o Geo System (zonas dos cenários em que existem buffs e debuffs), Council System (é possível aprovar “leis” que mudam as maneiras como as batalhas funcionam) e o Support Squad (que dá bônus especiais a cada personagem).
A principal nova mecânica é o Revenge System. Nele, cada personagem possui um medidor de vingança que vai crescendo quando os outros membros da party são atacados. Ao chegar ao máximo, as estatísticas do personagem são aumentadas e é possível entrar em um modo especial chamado Overload. Essa nova mecânica acaba por salvar a vida em diversas batalhas, já que permite ao jogador se recuperar mesmo nos seus piores momentos.
Assim como todo Disgaea, a campanha principal é enorme e existe uma quantidade quase interminável de conteúdo pós-jogo. As várias opções de customização ficaram ainda maiores, com mais classes adicionadas. O jogo permite que cada jogador crie e explore suas próprias opções e variedades, sem ficar preso em determinados pontos porque só essa ou aquela classe é capaz de vencer uma das batalhas. Evitar deixar que sua equipe seja capaz de contra-atacar uma determinada fraqueza de um dos membros enquanto se preocupa com a escala de dano, as várias barras de energia e especial, mais os itens, pode ser muito, muito divertido.
Visualmente, a transição para o PS4 fez muito bem à série. Os cenários se tornaram mais detalhados, as artworks dos personagens e os cenários (a história ainda avança muito em forma de visual novel, mesmo que existam várias animações) mais bonitos e a estética de anime do jogo continua muito agradável. Mas o ponto que mais chama atenção continua sendo as animações absurdas, coloridas e cheias de flashes e muita maluquice. Existem opções para dublagem tanto em inglês quanto em japonês e os diálogos são todos dublados.
Se a história não merece o nome de melhor da franquia (título que possivelmente ainda vai para Disgaea 4), as mecânicas nunca estiveram tão afiadas e tão ricas. Disgaea 5 é um fantástico RPG e um título obrigatório para os fãs de SRPGs e continua a história da franquia de não decepcionar.
Veredito
Disgaea 5: Alliance of Vengeance é mais um fantástico título de uma ótima franquia. Os fãs de RPGs e principalmente de RPGs Táticos tem algumas dezenas de horas prazerosas pela frente com um jogo muito bem acabado e com pouquíssimos defeitos. Faz por merecer estar na discussão do melhor jogo da série.
Jogo analisado com código fornecido pela NIS America.