Dizer que os fãs Ocidentais da história franquia Digimon finalmente estão sendo recompensados pelo seu amor à série talvez seja pouco. Depois de longos 8 anos sem um RPG dos queridos monstrinhos digitais chegando a este lado do oceano, Digimon Story: Cyber Sleuth – Hacker’s Memory marca o terceiro ano consecutivo em que temos um lançamento quase simultâneo de um jogo da série em todo o mundo – e este jogo em específico parece focado nos fãs.
Hacker’s Memory é uma “sequência” do Cyber Sleuth lançado em 2016 para PlayStation Vita e PlayStation 4 e coloca o jogador no lugar de um novato do grupo de hackers, Hudie, tentando descobrir o mistério por trás do roubo da sua conta do Eden (o mundo digital apresentado no jogo anterior). Ele acaba sendo acusado de um crime que não cometeu e, junto aos seus amigos, resolve se infiltrar no submundo de hackers que permeia o Eden e fazer justiça com as próprias mãos.
A história em si se passa quase simultaneamente ao original e conta alguns dos acontecimentos de um ponto de vista diferente. Se em CS o jogador era um detetive, aqui ele é um hacker, um dos criminosos desse digimundo, e deixa claro, desde os primeiros momentos, que ele não é um “herói”. A premissa acaba funcionando um pouco melhor do que a original, mesmo que falhe em alguns pontos, apesar de ser, indubitavelmente, mais pessoal e mais fácil de se conectar que a fantasia do jogo anterior, mas mantém a estrutura capitular do anterior, tentando passar ao jogador a experiência de se estar jogando um anime da franquia.
Em termos de conteúdo, Hacker’s Memory amplia ainda mais o que já havia no jogo anterior. Além das missões de história, existem várias missões secundárias, um modo online de batalha (que funciona muito melhor do que no anterior) e a quantidade de digimons a serem capturados é ainda maior (são 87 novos monstros, o que, somado aos 249 do anterior, totaliza 336 digimons disponíveis no jogo). Existem alguns novos ambientes e as dungeons, principalmente nas missões de história, são mais criativas e desafiadoras do que no primeiro jogo.
O grande problema é que, apesar dos novos monstros e de alguns novos locais, Digimon Story: Cyber Sleuth – Hacker’s Memory reaproveita uma quantidade gigantesca de características do seu antecessor. A esmagadora maioria dos locais que o jogador visita ou são iguais ao primeiro jogo ou se parecem bastante com eles, tornando a exploração do jogo incrivelmente repetitiva e cansativa, especialmente para quem visitou Eden pela primeira vez há pouco tempo.
Algo que provavelmente deve incomodar os jogadores que retornam para a sequência é a quantidade absurda de tutoriais, em especial os mesmos tutoriais do jogo anterior. Naturalmente, isso funciona em favor dos novatos, mas estes acabam sofrendo com alguns pontos da história que fazem referência ao anterior sem explicar o que aconteceu ou determinadas características que tinham tutoriais no anterior e agora não possuem mais.
Como uma sequência que presta tanta “homenagem” a outro jogo, Hacker’s Memory faz um bom trabalho ao consertar alguns dos problemas mais graves do anterior. Agora é possível acessar o Digilab de quase qualquer lugar em Eden e as missões são mais diretas, colocando o jogador próximo do objetivo, sem ter que descobrir o local para onde ir e se locomover até lá.
Honestamente, além da história mais cativante que no anterior, o que faz valer a pena as mais de 50 horas de jogo é o sistema de combate incrível que ancora Hacker’s Memory. O sistema principal de combate é um RPG por turnos baseado no já conhecido sistema de “jo-ken-po” (ou pedra, papel e tesoura) por trás dos tipos de Digimon (Vaccine, Data e Virus), temperado com afinidades elementais de cada monstro, em que cada um pode realizar ataques simples, defender ou usar itens e habilidades especiais.
Quanto mais o jogador luta, mais os digimons evoluem e mais informações o jogador obtém para poder criar novos monstrinhos no Digilab. Os menus são bem práticos, bonitos e a apresentação é bastante agradável, mesmo com os efeitos dos ataques sendo bem básicos (o que diminuiria bastante o tempo de jogo se pudessem ser desativados), com bastante cuidado nos modelos de todos os digimons (incluindo todos os novos).
Por fim, sempre digno de nota e elogios é o quão bem a sub-série Cyber Sleuth lida com o sistema de progressão e evolução dos monstros. Ao contrário do que ocorre na série Digimon World, os monstros não evoluem automaticamente, dando mais liberdade ao jogador sobre quando e como cada um vai evoluir ou regredir, a maneira como isso afeta os status e as posteriores evoluções, sempre com critérios específicos (inclusive o sempre polêmico camaraderie) para alcançar as diferentes formas. É um sistema que incentiva o jogador a estar sempre testando novos monstros (por mais que em alguns pontos ele te incentive a manter uma equipe principal) e novas combinações, ajudando a manter o jogo fresco e divertido por toda a sua duração.
Digimon Story: Cyber Sleuth – Hacker’s Memory é um jogo divertido e que vale a pena para os fãs mais hardcore da série, e que deve agradar também aos fãs menos dedicados, mas difícil de recomendar para curiosos ou para aqueles que acabaram de jogar o anterior. É um bom passatempo até o próximo grande Digimon Story (e que te faz imaginar o que a série poderia ser com um orçamento maior) e adiciona coisas o suficiente para se justificar como um novo jogo e não um DLC, mas, dificilmente, é um jogo que se pode considerar como essencial.
Veredito
Digimon Story: Cyber Sleuth – Hacker’s Memory é um bom RPG por turnos, com uma história interessante e personagens carismáticos, o que deve agradar a todos os fãs da série, mas que realmente não traz nada de novo, sofre com alguns dos problemas técnicos do original e se torna cansativo para quem jogou o primeiro, em razão do excesso de objetos e ambientes reutilizados.
Jogo analisado com cópia digital fornecido pela Bandai Namco.
Veredito
Veredict
Digimon Story: Cyber Sleuth – Hacker’s Memory is a good turn-based RPG with an interesting story and charismatic characters that should make fans of the series happy, but it doesn’t bring anything new to the table, suffers from some of the problems of its predecessor and feels tiresome for those who have played the first game, due to the excess of reused assets.