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Destroy All Humans! 2 – Reprobed – Review

Invasão alienígena é um dos temas favoritos da cultura pop desde… bom, desde sempre. Nem preciso passar parágrafos aqui citando alguns dos produtos – seja na literatura, seja na TV, seja no cinema – mais conhecidos, primeiro porque esqueceria de algum fundamental e segundo que eu jamais faria jus ao tema dada a multiplicidade de coisas já feitas. Há quem diga que nosso pavor (e fascínio) para com o tema está muito mais em um espelhamento com a nossa história do conquistador estrangeiro subjugando os nativos pela força e pelo avanço tecnológico do que pela própria temática espacial em si, mas deixarei esse debate para outro momento.

Há produções sobretudo para os cinemas, porém, que se propõem a inverter o ponto de vista para nos colocar no papel do agressor, o próprio extraterrestre, e alguns o fazem se apoiando em um humor ácido e non sense, como o clássico das locadoras Marte Ataca! e o mais recente Paul: O Alien Fugitivo. Em 2005, ainda para a geração PS2, a recentemente revivida das cinzas THQ iniciava nos games uma saga que levaria a sátira a um outro nível e nos apresentava o surtado Cryptosporidium-137, um visitante da raça Furon que tinha basicamente a missão de, advinha, conquistar o nosso modesto planetinha azul. Na análise do remake do jogo lançado em 2020, nosso editor chefe explica melhor essa trama não lá muito original.

Logo no ano seguinte, uma continuação chegou aos mercados para se aproveitar de todo o sucesso inesperado do game original e mesmo não sendo tão bem sucedido em termos de vendas, se mostrou uma grande evolução de tudo o que o seu predecessor tinha apresentado em termos de gráficos, tom, jogabilidade e narrativa, esta ainda mais desprendida de qualquer amarra politicamente correta. Eis que agora temos em mãos o remake deste segundo jogo chegando para a nova geração, com o subtítulo Reprobed, reelaborando vários destes mesmos aspectos e com uma tarefa similar à sua versão de 2006: atualizar o game para os tempos atuais e, ao mesmo tempo, melhorar tudo o que o remake anterior apresentou. E já me adianto: essa tarefa o jogo cumpre com sucesso.

Localizado no final da década de 1960, encontramos nosso antipático protagonista, agora presidente dos Estados Unidos (para saber como ele chegou lá, só jogando o primeiro game mesmo) e curtindo a vida na Terra. Como tudo o que é bom dura pouco, a Nave-Mãe de seu povo, que orbitava o planeta, é sumariamente destruída, e cabe ao pouco motivado Crypto descobrir o que diabos está acontecendo e como recuperar qualquer sobra desta destruição para ajudar seu chefe, morto e residente em um backup, a recuperar um corpo físico, além de um mínimo de dignidade.

A trama obviamente vai nos levar a lugares e situações absurdas, e não demora muito para que estejamos lidando com hippies conspiradores, facções ninjas modernas, espiões britânicos engomadinhos, monstros gigantes e os malditos russos da KGB. Organizado, como em seu prelúdio, em uma série de missões em várias cidades fictícias (mas extremamente reconhecíveis) pelo mundo – e até fora dele – Destroy All Humans! 2: Reprobed não tem nenhuma vergonha de abusar de um humor escrachado que aposta nos estereótipos clássicos deste momento histórico, em uma mistura de piadas de cunho sexual típicas da quinta série com preconceitos e bobagens que honram aquele tiozão bêbado do churrasco.

Crypto-137, o personagem em si, é basicamente um grande compilado do comportamento mais detestável possível, sendo antipático, desagradável e, por vezes, patético. Este é um tipo de humor que, confesso, não é dos meus preferidos, que acaba caminhando sobre a linha tênue entre o questionamento e o reforço de várias questões que hoje são parte do debate público, algo que não o era, obviamente, na época onde o jogo é ambientado. Fato é que o game não se furta em elevar o tom e sobram piadas para tudo quanto é lado, as vezes até dentro de possibilidades opcionais de diálogos nas várias cenas de corte que nos abre, e consequentemente, escala a narrativa para patamares cada vez mais absurdos. Para quem gostou da versão original, um alento. Para quem vê esse tipo de tom ultrapassado, certamente não é o remake que o fará mudar de ideia.

Por outro lado, as mecânicas de jogo, a exemplo do antecessor, foram bem localizadas para os tempos atuais e se provam muito confortáveis e funcionais. Com armas que retornam (como a insubstituível sonda anal) e outras novas, a se destacar uma que simplesmente provoca uma chuva de meteoros sobre o alvo, o arsenal do jogo é ainda mais complexo e sofisticado, mesmo que alguns equipamentos fiquem naturalmente em segundo plano ou sirvam só para cumprir certas tarefas específicas. Por mais que o gameplay seja relativamente simples, essa diversidade de abordagens acrescenta densidade e profundidade nos momentos de combate e ação.

Por meio das premiações por missões bem realizadas, é possível – e altamente recomendável – fazer upgrades em cada um dos equipamentos que temos a disposição, seja para armas em terra, seja para melhorias na nave. Aqui, Destroy All Humans! 2: Reprobed não economiza e permite que deixemos os nossos apetrechos favoritos no máximo de seu potencial rapidinho. Claro que melhorar tudo demora tempo e demanda mais paciência, mas como é raro usarmos cada um dos dispositivos o tempo todo, não faz falta deixar um ou outro de lado para dedicar forças às melhores. É um sistema simples, bem direto e sem melindres, algo que vai se mostrar uma grande marca da produção em vários outros tópicos.

A questionável furtividade do primeiro game aqui retorna com uma nova roupagem, mais funcional e diegeticamente mais divertida: com a possibilidade de possuir qualquer pessoa que encontrar, andar por aí no corpo de um robusto guarda soviético, no de uma inocente estudante japonesa ou no de um esguio amante da filosofia paz-e-amor é algo não só necessário para não alarmar a população e, consequentemente, provocar confrontos desnecessários, como também bastante funcional para o ritmo do jogo e da maioria das missões primárias e secundárias. O sistema funciona, demanda cuidado, é obrigatório em alguns casos e adiciona uma camada a mais de variedade ao game.

Não obstante, as habilidades psíquicas deste inoportuno herói são o grande charme do jogo e aquilo que faz com que tanto as mecânicas de combate quanto as de stealth funcionem bem e com uma boa fluidez. É possível, por exemplo, fazer com que quem presenciou uma possessão esqueça o evento e não faça um escândalo, bem como ler seus pensamentos para encontrar pistas ou até seduzi-los para nos acompanhar como um exército zumbificado. Ou para quem não tem paciência, é só explodir a cabeça para coletar seus cérebros mesmo, usar um flash de luz para confundir uma multidão ou descer a porrada em todo mundo e tocar o terror. Algumas missões, aliás, dependem de possuirmos um arquétipo específico, até porque um ninja branco só conta o seu segredo para alguém de sua confiança, e um hippie contestador do sistema jamais vai dar trela para um porco policial, certo?

Tudo isso é bastante funcional e, tirando um enrosco de câmera aqui e outro acolá, é muito competente. Aliás, Crypto faz tudo o que se espera de um bom Jedi (ou seria um Sith?) em um jogo de Star Wars, só que com mais naturalidade e fluidez até do que jogos mais recentes baseados na famosa marca. Claro que o exagero também ajuda, já que jogar uma pessoa qualquer em um carro para explodi-lo não é bem algo que se possa chamar de realista, mas, convenhamos, é muito legal. O melhor é conseguir fazer com que tudo isso convirja para protagonizar momentos épicos onde jogamos um inimigo para longe, eletrocutamos outros três em conjunto, roubamos o cérebro de um outro desaviado e quando estamos cercados, fazemos todos dançar em uma bela balada alucinógena para sair pela tangente.

Outro grande acerto da produção está em melhorar o já bem estabelecido mundo do game, que como dito é dividido em algumas áreas, e todas elas são extensas o suficiente para nos permitir a livre circulação por ambientes diversos e na maioria das vezes belíssimos e cheios de ótimos detalhes. Cada região visitada, na verdade, é uma versão mais concentrada de pontos de interesse, e abrigam muita gente. Não é tão sofisticado como os maiores jogos de mundo aberto da atualidade, mas fiquei surpreso com algumas boas missões paralelas que nos exigem um aprendizado mais aprofundado de certas habilidades sem necessariamente desembocarem em um conflito em campo aberto. Se não tem tanta coisa assim para se fazer em modo livre, sempre dá pra arrumar uma confusão rapidinho e explodir tudo.

O poder da nova geração também pode ser sentido na composição visual do jogo, que abusa das cores – afinal, é a virada dos anos 1960 para os 1970 – e dos detalhes, como texturas muito bem trabalhadas, ainda que tenha alguns delays de renderização que, se não atrapalham, acabam ficando mais evidentes do que deveriam. A manutenção do aspecto caricato dos humanos ajuda a investir em uma modelagem cartunesca e com aquela sensação de ver um boneco de cera animado, mas de uma forma incrivelmente positiva. Não espere um show de expressividade ou nuances realistas, porque essa definitivamente não é a proposta do jogo. Como um remake de três gerações atrás, o jogo é muito perspicaz quando consegue unir o clássico ao moderno, algo que, por exemplo, a trilogia remasterizada de GTA fracassou miseravelmente.

Efeitos de luz e sombra estão incríveis, a geração de partículas é competente e a animação traz as suas sutilezas. Uma vez mais, esse não é um jogo que leva o Playstation 5 ao seu potencial máximo, mas o utiliza relativamente muito bem. O pecado, uma vez mais, está no excesso de telas de carregamento e nas interrupções desnecessárias na continuidade. Alguns loadings são mais longos do que os de jogos mais parrudos, o que pode escancarar um probleminha de otimização ou simplesmente uma amarra desnecessária com o original que obriga estas interrupções a cada nova abordagem, como por exemplo, iniciar um diálogo com um NPC ou passar de uma missão para outra, até dentro de uma mesma região. Não chega a ser um incômodo real, mas é algo com o que estamos ficando desacostumados, sobretudo considerando que o jogo não tem versões para a geração anterior.

Aliás, por falar em nova geração, o jogo consegue ainda fazer um bom uso dos recursos do DualSense, sobretudo ao transmitir para o controle algumas funções interessantes. Por exemplo, ao nos aproximarmos de um colecionável – normalmente, artes e canções para a galeria de extras do jogo – a intensidade e velocidade da vibração nos ajuda a sentir o quão distantes estamos do objetivo. Já os gatilhos não se mostram no mesmo nível dos melhores exemplos do console, mas com o ritmo frenético das batalhas, isso poderia ser um aspecto até cansativo. Rodando a 4K em 60 frames por segundo – o que significa que nem tem opções para privilegiar um ou outro – Destroy All Humans! 2: Reprobed desempenha bem, apesar dos pequenos detalhes de renderização dos quais falei anteriormente.

A mesma qualidade técnica pode ser vista também no campo sonoro da produção, com um trabalho de vozes muito bem feito, ainda que infelizmente não tenhamos dublagem para o nosso português brasileiro e a localização seja só por legendas e textos. Aqui, mais uma vez, pode ser que o jogo incomode alguns jogadores pelo escracho, com sotaques estereotipados e interpretações canastronas, mas repito, é o tom do jogo, e dentro de sua proposta, é coerente. Músicas que lembram os temas de filmes B da segunda metade do século XX são particularmente muito adequadas para estabelecer a ambientação e favorecerem o ritmo da jornada, e os efeitos e ruídos são propositalmente tão desregulados quanto bem mixados. É como se o jogo todo fosse um grande esculacho, só que bem orquestrado e cuidadosamente articulado. Ele chuta o balde, mas o faz com extrema consciência, carinho e atenção.

Como conjunto, Destroy All Humans! 2: Reprobed parece ter investido em melhorar alguns deslizes do jogo anterior, oferecendo mais coesão entre as partes de ação e furtividade, mesmo que os trechos dentro da nave sejam um pouco menos interessantes e desconexos. Compreendendo isso, essas passagens trazem alguns eventos dos mais épicos do jogo, como confrontos inesperados (mesmo que as vezes adiantados pelas telas de loading) e momentos verdadeiramente grandiosos. Pode parecer, como o de 2006, uma grande DLC do primeiro jogo sem trazer nada de tão revolucionário assim para a mesa, mas é inegável que é um jogo divertido, descomplicado e que não se leva a sério enquanto narrativa, mas que faz muito bem aquilo que está propondo.

Para quem o conhece de 16 anos atrás, não há muitas surpresas para além da óbvia melhoria gráfica e refinamento dos controles, mas ainda assim é uma experiência recomendadíssima por ser algo relativamente diferente do que o mercado atual oferece e por ser sim, independentemente do rótulo de remake, um jogo completo, com pouco mais de uma dezena de horas em campanha e possibilidade de multiplayer local. Certas pessoas podem ficar desconfortáveis com a abordagem esculhambada dos temas do game, e teriam razão nisso, outras podem comprar a proposta por motivos distintos, mas o que posso dizer que uma vez que se embarque no que o jogo se dispõe, é uma ótima aventura típica de uma tarde preguiçosa de domingo. E as vezes, isso é tudo do que precisamos.

Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela THQ Nordic.

Winz.io

Veredito

Destroy All Humans! 2: Reprobed, tal como seu antecessor, pode não ser um primor técnico ou trazer uma abordagem temática que agrade a todos os públicos. Porém, é visualmente bem apurado, narrativamente escrachado e oferece mecânicas simples e responsivas, resultando em um jogo essencialmente descompromissado e bastante divertido.

80

Destroy All Humans! 2: Reprobed

Fabricante: Black Forest Games

Plataforma: PS5

Gênero: Ação / Aventura

Distribuidora: THQ Nordic

Lançamento: 26/08/2022

Dublado: Não

Legendado: Sim

Troféus: Sim (inclusive Platina)

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Like its predecessor, Destroy All Humans! 2: Reprobed may not be a technical masterpiece or offer a thematic approach that appeals to all audiences. However, it is visually refined, it has a humorous narrative and offers simple and responsive mechanics, resulting in a fun game.


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