Destiny

Destiny é um jogo incrivelmente difícil de descrever. Trata-se de um jogo de tiro em primeira pessoa, que traz elementos de diversos jogos online e traços fortes de um RPG. Acho que o seu gênero não pode ser descrito com algo que já exista. Qual o gênero de Destiny? Difícil responder. Todo o hype construído ao redor do título era justamente por conta disso: um jogo revolucionário. E de certa forma ele é.

A primeira coisa que preciso dizer é que eu achei o jogo espetacular. Mas isso não significa, de maneira nenhuma, que é um jogo perfeito. Os problemas são inúmeros, mas as qualidades também são. Pretendo, ao longo dessa análise, explorar um pouco sobre cada aspecto do jogo e tentar manter livre de spoilers – algo que não faz tanta diferença em um jogo assim.

Destiny é um jogo lindo. Essa é uma máxima que não pode ser questionada. Tudo no jogo é bonito. Os cenários são majestosos, as construções são monumentais e os personagens são muito bem feitos. Tudo tem um efeito de impressionar o jogador. Não há como discutir sobre o cuidado que a Bungie teve com seu maior projeto até hoje. A versão utilizada para a análise foi a de PlayStation 3, mas pude jogar um pouco no PlayStation 4 e as diferenças são bem menores do que eu imaginava. É possível apreciar o jogo em sua totalidade no console da antiga geração. Os cenários, que já são lindos no PS3, ficam mais evidentes e bonitos no PS4, mas não existe uma perda muito maior que isso.

Se existe algo que não podemos reclamar de Destiny é a ausência de coisas para fazer. Os modos de jogo são inúmeros e o fator replay é gigantesco. Existe o modo história, o multiplayer competitivo, o multiplayer cooperativo e o modo livre. Cada um tem diversas subdivisões que vou explicar separadamente.

Você constrói um personagem escolhendo entre três classes distintas: Titan, Warlock e Hunter. Cada uma possui habilidades bem diferentes e isso fica mais evidente nos níveis mais altos. Essas classes se dividem em duas outras subclasses, também com habilidades distintas, gerando um grande número de possibilidades na jogabilidade. Cada classe tem itens únicos também, que só podem ser usados por esses indivíduos.

A grande decepção do jogo é o modo história, que é algo completamente básico comparado com grandes narrativas que estamos ficando acostumados. Não espere algo do nível de Mass Effect aqui. É uma história extremamente linear e clichê. Você assume o seu personagem, que é chamado de Guardian, e é apresentado ao seu Ghost, que é um robô dublado pelo Peter Dinklage (o Tyrion de Game of Thrones), e a partir daí você começa a seguir suas ordens, sem se questionar sobre como seu papel é importante na salvação da humanidade. A história se resume a missões repetitivas nos poucos planetas do jogo. As mais comuns são invadir algum lugar e matar todas as criaturas lá dentro ou proteger um local enquanto seu Ghost está hackeando algum computador.

O jogo conta com apenas 20 missões, 5 para cada localidade, o que é realmente muito pouco. Mas são tão repetitivas que fico imaginando se faria alguma diferença se fossem mais missões. A história possui algumas partes boas, como a excelente missão “The Sword of Crota”, que muda a jogabilidade com o uso de uma arma um pouco diferente e colocando sua perspectiva em terceira pessoa. O fator de descoberta também é outro ponto positivo, fazendo com que a exploração seja sempre interessante. Os planetas são bastante detalhados e sempre há algo novo para descobrir. Vênus é um lugar lindo, com vegetação densa e ares vulcânicos. Já a Lua é composta por um ambiente mais fechado, com um subterrâneo vasto cheio de corredores escuros e repletos de inimigos. Marte é uma área desértica, com lugares mais amplos e abertos. Mesmo que as missões sejam repetitivas, existe a impressão de que é algo novo. Os colecionáveis ficam por conta de Ghosts destruídos que estão espalhados por todo o mundo.

Mesmo que os planetas sejam bastante ricos, não há como negar a decepção pela quantidade de localidades. Existem apenas 4 lugares exploráveis, sendo eles, Terra, Lua, Marte e Vênus. Eu particularmente esperava que fosse possível conhecer o Sistema Solar inteiro e pelo menos um planeta alienígena. Existem também mais dois lugares a conhecer. O primeiro se chama The Reef, que é localizado no Cinturão de Asteroides. A única missão que acontece nesse lugar é apenas uma cutscene. E o outro local que você visitará bastante é chamado de Tower. O local é o ponto de encontro entre jogadores e onde se encontram todos os NPC’s do jogo. Nesse lugar é possível comprar novos equipamentos e veículos, pegar novas recompensas e conhecer novos jogadores. É o ambiente social de Destiny. É interessante dizer que nesse espaço o jogo é apresentado em terceira pessoa.

Outra coisa importante a se dizer sobre o modo história são as batalhas contra chefes. Elas são muito empolgantes e desafiadoras. E são mais divertidas ainda quando jogadas em grupo. Falando em jogar em grupo, o jogo possui um sistema online parecido com Journey: você está jogando e, quando menos espera, já vai estar no meio de um tiroteio entre inimigos e outros jogadores. É algo bastante dinâmico e divertido.

Mas se existe algo que me chamou muito a atenção durante minhas horas com Destiny foi a fantástica trilha sonora. A trilha, que estava sendo inicialmente composta por Michael Salvatori e Martin O’Donnell, colegas na trilogia de Halo, recebeu a ajuda de ninguém menos que Sir Paul McCartney, que até canta na bela faixa dos créditos (que pode ser ouvida aqui). Mesmo com a saída de O’Donnell da equipe, o resultado final não foi prejudicado. É a melhor trilha sonora do ano, melhor até que a do excelente The Banner Saga. Todas as músicas são perfeitas para o jogo, dando o tom épico e majestoso que ele merece. Em especial, a trilha da missão final é uma das mais empolgantes que já ouvi e serve para elevar o nível de qualquer partida.

O mesmo não pode ser dito da dublagem do jogo, que chega a ser caricata. A expectativa pela voz de Peter Dinklage foi a pior decepção de todas, mesmo depois de ter regravado algumas falas. São piadas sem graça, misturadas com frases clichês. Mas o problema é recorrente em todos os outros personagens de Destiny. Não há nenhum personagem interessante, com a exceção talvez da Queen of the Reef, que é alguém que desejo conhecer muito mais no decorrer da franquia.

Uma das coisas que mais me deixou intrigado foi a mitologia de Destiny. Existe tanto a ser explorado e mostrado, como toda a concepção do Traveler, das raças alienígenas, da colonização da Terra em outros planetas, mas que o jogo deixa de fora. Nada é muito explorado e muitas vezes nem mencionado durante o modo história. Conforme você progride no jogo e vai encontrando novos lugares, inimigos e itens, você vai desbloqueando novas cartas de Grimoire. Nessa parte do jogo é possível encontrar explicação de grandes dúvidas a respeito da mitologia, mas é algo que é bem opcional. Recomendo o uso do aplicativo para celular, disponível para iOS e Android, que se chama Destiny Companion App. Ele é um programa bem simples que, ao ser ligado com sua conta, fornece informações do seu personagem, mapa da Tower e uma visualização mais prática das cartas do Grimoire. É algo bem opcional, mas que faz a experiência com o jogo ser maior ainda.

Uma coisa que pode afastar os jogadores do jogo é o grind, algo que é bem conhecido dos jogadores de MMO. Grind é ficar matando monstros ou repetindo missões a fim de evoluir e ganhar novos equipamentos. Junto com as missões do modo história, é recomendável ir fazendo missões secundárias (Bounties) para ganhar mais experiência e equipamentos. As missões tem um nível recomendado e, para evitar um grind logo no começo do jogo, é recomendado diversificar. As missões cooperativas e competitivas são liberadas logo no começo do jogo e são opções interessantes para evoluir também.

O personagem evolui normalmente com XP até o nível 20. Depois disso, é necessário evoluir um atributo chamado Light, encontrado em equipamentos diversos, principalmente lendários e exóticos. No começo é um pouco confuso, mas aos poucos vai se tornando mais claro. Mas depois de certo ponto a única alternativa será o grind de equipamentos lendários. Uma coisa é certa: é bem difícil evoluir depois do nível 20 em Destiny.

É bom também falar do loot do jogo, ou seja, como os itens são dropados e distribuídos. O jogo possui um sistema bem simples, que lembra bastante Borderlands. Existe uma série de armas iguais entre si, com pequenas variações no dano e outros atributos. Elas são encontradas em baús, dropadas de monstros ou recebidas como recompensas em diferentes missões, e são divididas em cinco classes de raridade – comuns, incomuns, raros, lendários e exóticos. Algumas armas possuem diversas modificações possíveis e atualizações, como aumento de dano e estabilidade. Essas armas possuem uma barra de experiência que precisa ser preenchida para ser evoluída e algumas precisam de materiais também. Ou seja, além de evoluir o seu personagem, você também evolui as suas armas, o que gera diversas possibilidades.

Existe também o modo aberto, que é chamado de Patrol. Nele você pode explorar o mapa e cumprir diversas missões secundárias. Elas ficam espalhadas por todo o cenário e são de diversos tipos, como matar alguns monstros ou recolher materiais. São bem simples e rápidas, mas geram ótimas recompensas para evoluir armas em níveis avançados.

Antes de começar a falar dos modos competitivo e cooperativo, quero falar um pouco sobre a jogabilidade. A Bungie se superou e criou um jogo que atende a todas as expectativas na questão de precisão e velocidade nos momentos de ação. Halo já possuía uma jogabilidade maravilhosa, mas Destiny é algo superior. Tudo funciona bem, seja a maneira como você anda, corre, plana, atira ou pilota. Controlar veículos é algo incrivelmente intuitivo e possui comandos bem simples. Nos momentos em que você morrer, seja no modo história ou enfrentando jogadores online, saberá que o erro foi seu e não dos programadores.

O que leva também a falar um pouquinho sobre o design do título. As armas, equipamentos e personagens foram criados com muito cuidado e apresentam detalhes que são lindos de se olhar. São belos desenhos nas capas, detalhes nas armaduras e acabamentos nas armas. O design de mapas também merece atenção: são ricos em detalhes e muito diferentes entre si, sejam os enormes mapas do modo história ou as pequenas arenas multiplayer. Tudo é muito bem pensado e ajuda na jogabilidade excelente.

O modo competitivo de Destiny é chamado de Crucible e possui vários modos de jogo, desde o clássico mata-mata em equipe até o meu favorito, Control, que é uma mistura de defender a base com mata-mata em equipe. São ao todo dez mapas bem diferentes entre si e que podem ser usados em todos os tipos de partida. O matchmaking é bem rápido e rapidamente é encontrada alguma partida para jogar. O grande problema do competitivo é o desnivelamento de personagens. A diferença de níveis entre jogadores é muito grande em algumas partidas e causa uma grande diferença, principalmente nos níveis iniciais. Mesmo com esse problema, depois de algumas partidas, o jogo se torna viciante e o competitivo se torna algo cada vez mais divertido.

Mas talvez o modo mais legal do jogo seja o modo cooperativo chamado de Strike, composto por times de três jogadores, sendo basicamente uma dungeon com um chefe no final. Pode parecer simples, mas é extremamente divertido. Foi o modo em que fiz mais amizades no jogo e que me pareceu mais justo. As batalhas contra chefes nesse modo são sempre ótimas e é necessário um pouco de estratégia para avançar em certos pontos. Depois de certo nível, são desbloqueadas as missões chamadas Vanguard Strikes, que são playlists com missões em dificuldade avançadas, mas que geram enormes recompensas no final.

Outro modo de jogo cooperativo é o Raid, que necessita de mais 5 amigos para jogar. É recomendável o uso de microfones para conversar com a equipe. São missões bem longas e extremamente difíceis, recomendadas para jogadores acima do nível 26 e com bons equipamentos. Só consegui participar do Raid por causa dos amigos que fiz jogando nos Strikes normais, então fica a dica de como conhecer pessoas dispostas a tentar novos desafios.

O jogo desde seu lançamento vem recebendo o suporte de diversos eventos, como diferentes modos de jogo durante um final de semana e o próprio Raid, que já foi incorporado como atividade normal. Um calendário com outros eventos já foi disponibilizado e com isso vemos a paixão com que a empresa vem trabalhando para agradar a todos. Destiny é um jogo que nasceu com um plano de continuidade por longos dez anos. Isso é uma benção e uma maldição, porque, ao mesmo tempo em que sabemos que a franquia continuará no mercado, sabemos que de certa forma estamos adquirindo um produto inacabado. Isso é algo que é perceptível no jogo, que já conta com duas expansões anunciadas e que prometem adicionar elementos a todos os modos, inclusive o modo história.

Destiny não é o jogo perfeito, longe disso. Mas é uma experiência que eu adorei ter participado. E acho que essa é a palavra certa para isso: experiência. É algo único no mundo dos videogames. Algo que gerou um hype tão grande que, ao mesmo tempo em que frustrou uma parte dos jogadores, apaixonou a outra parcela. Eu prefiro acreditar que estou apaixonado por Destiny e espero ansiosamente pela primeira expansão,The Dark Below, em Dezembro. Existem muitos outros detalhes que eu gostaria de inserir, mas prefiro que descubram por si mesmos. Acho que a música dos créditos, “Hope for the Future”, expressa bem o que eu sinto pelo jogo, “esperança pelo futuro”. Acredito que Destiny ainda vai se tornar uma das maiores franquias que o mundo dos videogames já viu e me sinto feliz de ter participado de todas as etapas na formação dessa aventura.

Veredito

Destiny é um jogo diferente de tudo que já existiu no mundo dos videogames. Não é somente mais um jogo, é uma experiência. É algo que precisa ser vivido e testado. O jogo falha no modo história, que poderia ter sido muito melhor, mas é excelente em todos os outros aspectos, seja na jogabilidade, trilha sonora, animação ou nos excelentes e viciantes modos multijogador. Destiny é um evento no mundo dos games e é algo que ainda vamos ouvir falar por muitos e muitos anos.

Jogo analisado com cópia digital adquirida na PlayStation Store americana.

Veredito

90

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