Deliriant

Publicar um jogo nas plataformas PlayStation não é uma tarefa tão fácil. É por isso que logo me chamou a atenção o post no PlayStation.Blog de um time de estudantes ainda nem formados lançando seu próprio jogo para PS4: Deliriant.

É difícil classificar Deliriant como um jogo em si. Ele é mais como uma experiência artística a ser apreciada de maneira interativa. E um dos problemas que isso traz é o estranhamento e o preconceito da maioria dos jogadores com títulos como esse (os famigerados "simuladores de caminhada").

Por ser uma experiência artística, aqui existe um trabalho muito grande de interpretação do jogador para tentar entender qual a história/sentimento o jogo quer transmitir. Sua tarefa é explorar os cômodos de uma casa situada nos anos 70, com a possibilidade de selecionar alguns objetos para observá-los de perto.

Os ambientes e objetos da casa, pouco a pouco, vão dando pistas de quem morou lá e em quais condições. Alguns são bem diretos, principalmente títulos de livros, enquanto outros são bizarros, como fotos que denotam tortura e abuso. Há também rabiscos na parede que só podem ser observados quando não se olha diretamente para eles.

O jogo parece querer confundir o jogador a todo o momento, desde a primeira tela, que é toda cinza e leva muitos a se assustar pensando que ele bugou. O difícil é saber o que é proposital e o que é um defeito do jogo. Por exemplo, a música em certos momentos parece entrar em loop e se torna irritante, mas como isso é um efeito restrito a um espaço da casa, não há como saber se isso tem um propósito.

Outro aspecto que me deixou confuso é que alguns objetos podem ser movidos de lugar. Apesar de gastar algum tempo na tarefa, levando e deixando estes objetos em diferentes lugares, não consegui encontrar uma razão ou utilidade nisso.

A experiência pode ser bem rápida, durando cerca de 20 minutos. No entanto, para aqueles mais pacientes em observar cada objeto e tentar formar uma narrativa por meio deles, pode demorar muito mais de uma hora. O tempo que o jogador dedicar a Deliriant provavelmente irá influenciar em sua experiência narrativa.

[Alerta de Spoiler]

Cada jogador interpretará o jogo à sua própria maneira. Deixo aqui minha interpretação. Fique livre para pular para o próximo parágrafo caso ache que isso pode ser de alguma forma um spoiler.

Para mim, este é um jogo sobre um marido que se esconde sob a máscara do stress pós-traumático da guerra para justificar seu alcoolismo e abusos contra a mulher e filha. É também sobre uma mãe que perdeu seus sonhos e objetivos de vida devido a uma gravidez não planejada. Por fim, é sobre este mesmo marido e esposa escondendo a vergonha de ter uma criança que nasceu com alguma deficiência física, mantendo-a trancada no quarto e apagando qualquer evidência de sua existência (vide os rabiscos nas paredes que só podem ser vistos perifericamente).

[Alerta de Spoiler – Fim]

Deliriant foi produzido por 12 estudantes se graduando na Universidade de Utah, ou seja, com pouca ou até mesmo nenhuma experiência no desenvolvimento de jogos. Desse modo, apesar de curto, o jogo tem sua carga de pequenos defeitos. Em minha opinião, os principais são: pontos da casa muito escuros, dificultando enxergar detalhes dos objetos; botões não respondendo para abrir e fechar portas, algo que por vezes irritava, pois simplesmente não funcionava; e um esquema de rotação muito esquisito dos objetos para inspeção, dificultando deixá-los na posição que eu desejava.

Grande parte dos jogadores irão fugir de Deliriant, mesmo ele custando apenas 1 dólar. Com relação àqueles que o comprarem, provavelmente uma porção considerável irá detestá-lo por não entender sua finalidade, enquanto outros terão o único interesse de conseguir mais alguns troféus fáceis em sua lista. Para mim, é uma experiência válida, apesar de não ser das melhores, valendo como incentivo aos desenvolvedores para adquirirem mais experiência.

Veredito

Deliriant está mais para uma experiência artística interativa do que um jogo propriamente dito. Não há muito que fazer a não ser explorar uma casa dos anos 70 e observar seus objetos, tentando abstrair qual a história eles escondem. Para os jogadores pacientes, são possíveis diversas interpretações, que podem envolver temas como abuso, negligência e sonhos abandonados pelas responsabilidades da vida (planejadas ou não).

Jogo analisado com código fornecido pela Manic Interactive LLC.


 

Veredito

60

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Veredict

Deliriant is more like an interactive artistic experience than a game itself. There isn’t much to do besides exploring a house of the 1970s and observing its objects and furniture, in an attempt to understand the story they hold. For patient players, the game opens up to different interpretations, which may involve themes like abuse, neglect and dreams given up due to other responsibilities in life (whether planned or not).