Esta análise está destinada às pessoas que não tem idéia do que é um “Dead Rising”. Dead Rising 2, assim como seu predecessor, está na categoria do “ame-o ou odeie-o”. Não existe meio-termo aqui. Para facilitar, então, ao invés de deixar o resumo para o final, vou me adiantar: se você não gostou de DR, nem chegue perto de DR2 – é praticamente o mesmo jogo, sem nada que faça você gostar dele caso tenha odiado o primeiro. Se gostou, é suficiente saber que minha recomendação para DR2 é 90%. Se você não sabe o que esperar… bom, aí sim, leia mais.
É impossível falar de DR2 sem falar de DR1. Desenvolvido pela Blue Castle, DR2 é basicamente o mesmo jogo que DR1, com quase todas as suas mecânicas intactas e alguns melhoramentos que o tornam superior ao primeiro. Para quem não conhece, DR é um jogo “exclusivo” para X360, lançado em 2006 pela Capcom. A premissa é, basicamente, fazer “A Madrugada dos Mortos” em um videogame. Na pele de Frank West, um jornalista estranhamente prolífico com armas brancas e de fogo (bom, ele cobria guerras… sinto muito, tinha que mencionar isso em algum lugar!), você estava preso em um Shopping Center infestado de zumbis, alguns sobreviventes e alguns seres humanos enlouquecidos. Em 72 horas, você tinha que descobrir a verdade por trás do incidente dos zumbis, salvar o maior número de pessoas possível e arrumar alguma forma de sair do Shopping infernal.
DR2? Você é Chuck Greene, motociclista estranhamente prolífico com armas brancas e de fogo, preso em um Shopping Center infestado de zumbis, alguns sobreviventes e alguns seres humanos enlouquecidos. Em mais ou menos 72 horas, você tem que descobrir a verdade por trás do incidente dos zumbis, salvar o maior número de pessoas possível e arrumar alguma forma de sair do Shopping infernal. Percebem alguma semelhança? O enredo de DR2 é banal, como é tradição da Capcom, mas é suficiente para instigar o jogador. O brilho aqui é dos personagens. Chuck, Stacey, Rebecca e Sullivan são muito bons, mas a exemplo de DR1, os Psicopatas – os “bosses” do jogo – roubam a cena. De um louco que acha que os zumbis são libertação da sociedade a um rapaz vestido em um boneco de TV e o hilário “rival” de Chuck que faz movimentos pélvicos enquanto profere insultos, os Psicopatas de DR2 são todos divertidíssimos e oferecem batalhas intensas e divertidas.
Graficamente, DR2 é bem agradável aos olhos. Nas cutscenes, os modelos são extremamente bem-feitos e agem de forma natural. In-game, a mera quantidade de zumbis na tela chega a ser intimidadora. Entretanto, as animações durante o gameplay podem ser estranhas, como a de Chuck comendo/bebendo qualquer coisa (que é sempre a mesma) ou alguns sobreviventes correndo. O sangue também, por vezes, parece um tanto “aguado”. No tocante ao som, DR2 continua com o padrão excelente de DR, com uma trilha sonora ótima e que se destaca em muito nos chefes, com Hard Rock e Heavy Metal que combinam bastante com a situação. A dublagem varia do bom ao estilão “filme B” dos antigos jogos da série Resident Evil, mas nunca chega a incomodar – talvez Rebecca pudesse ter um pouco mais de emoção na voz, mas não é nada que atrapalhe -, embora também nunca seja excelente.
O que torna, então, os DR jogos tão diferentes que mereçam atenção? Lembram que mais acima eu citei especificamente 72 horas? DR e DR2 levam isso muito a sério. Cada 24 horas no jogo correspondem a 2 horas em tempo real. Assim, com DR2 possuindo um tempo por volta de 74 horas, sua sessão de jogatina irá durar no máximo pouco mais que 6 horas, e tudo que você tiver que fazer em DR2 terá que ser nesse tempo. Se você já jogou algo como Harvest Moon, em que você tem que manipular o seu tempo disponível da melhor maneira possível, a idéia em DR2 é estranhamente parcecida. Será que vale a pena ir atrás daqueles sobreviventes agora ou eu posso esperar mais um pouco para pegar outros que possam estar por perto? Com o nível em que estou, será posso enfrentar aquele psicopata? Onde vou achar mais Zombrex grátis? Será que devo ignorar tudo no jogo e ir atrás do troféu de matar 72 mil (!!) zumbis? A miríade de possibilidades em DR2 é enorme, e com tantos finais e tantos cantos de Fortune City a explorar, DR2 implora para ser jogado de novo e de novo.
Jogar de novo, aliás, é extremamente necessário em DR2. A progressão de Chuck é feita, a exemplo de DR, através de Prestige Points. Suas ações in-game rendem PP, e com uma certa quantidade deles, você sobe de level e adquires mais força, velocidade, habilidades novas etc. Esse esquema de level é, de certa forma, permutável entre seus saves. Ao morrer, você é dado a opção de recomeçar do último checkpoint e tentar novamente ou reiniciar o jogo todo, mas mantendo seu level, dinheiro, combo cards e afins. Embora a escolha pareça óbvia, muitas vezes sua melhor opção é reiniciar tudo. Com seu level mais alto e maior conhecimento do layout de Fortune City, cada vez que você recomeça a experiência é mais fácil, divertida e, mais importante, nova. A diferença é gritante, e ao chegar no level 50, seu Chuck será uma espécie de caminhão-monstro que anda sobre duas pernas e elimina zumbis com a mesma facilidade que faz um Suplex, em nada lembrando o frágil ser humano de 4 pontos de vida com quem você começou – exatamente como era Frank West em DR1.
Obviamente, para progredir no jogo, você terá que enfrentar zumbis, e é aqui que DR2 brilha. Lembram-se dos tempos em que um único zumbi era uma ameaça significativa, podendo acabar com você em poucos segundos? DR2 certamente não se lembra, e os zumbis aqui são mais um obstáculo que uma ameaça, que você pode despachar de inúmeras formas diferentes. Tacos de baseball. Lança-chamas. Luvas de boxe. Serra elétrica. Urso de pelúcia gigante. Frigideira. Cabeça de alce. Existem tantas armas e tantas formas de matar zumbis que o jogador pode se sentir perdido com as possibilidades. DR2 nunca tenta se levar a sério, e talvez exatamente por isso o jogo funcione tão bem. Grande parte da diversão de DR2 está em encontrar estas formas diferentes de eliminar a oposição. Você entenderá isso quando conseguir montar uma arma que se constitui de uma cadeira de rodas armada com duas metralhadoras nos braços.
Existe dinheiro em DR2 também, embora ele possua uma função mais limitada. Você pode gastar dinheiro nas máquinas de cassino ou usá-lo nas Pawn Shops para adquirir armas novas, Zombrex e até mesmo chaves de carros. O dinheiro é conseguido nas máquinas de cassino, caixas registradoras e jogando Terror is Reality, o modo online de DR2. TiR consiste em 9 minigames, dos quais 3 são selecionados ao acaso para um evento de 4 mini-games, terminando sempre com o minigame da moto que você joga logo início da campanha. TiR é divertido e rende bastante dinheiro para usar na campanha, mas o online realmente bom é a campanha em Co-op, estilo drop-in-drop-out. Com dois jogadores, suas chances de sobrevivência aumentam em muito, e o jogo fica ainda mais divertido.
O que diferencia DR2 do primeiro, além dos modos online, são basicamente 4 pontos, 3 dos quais são definitivamente melhorias que tornam a sequência superior. Primeiro, existem mais save points e agora você dispões de 3 slots de save, deixando o jogo mais maleável. Segundo, os sobreviventes possuem uma IA dezenas de vezes melhor e não mais atrapalham o jogador. Terceiro, e talvez mais importante, o horrendo sistema de adquirir missões de DR1 se foi. Para quem não sabe ou não se lembra, em DR1 você recebia as missões através de um comunicador que ficava com Otis, o guarda. Cada vez que recebia uma missão, Otis ligava para Frank e iniciava uma descrição do objetivo. O problema era que, durante a chamada, o jogador estava completamente vulnerável, e qualquer dano que ele sofresse resultava no encerramento da chamada com uma posterior ligação de Otis dando uma bronca no jogador e reiniciando tudo do início. Era extremamente frustrante, e DR2 corrige isso com um simples aviso de que há uma nova missão disponível, ficando integralmente na forma de texto e não mais atrapalhando o jogador. Por fim, o esquema de fotografias de DR1 se foi, sendo substituído pelos Combo Cards, cartas que ensinam uma combinação de objetos para produzir uma nova arma, melhor e mais poderosa que a soma de suas partes. A ausência da fotografia pode fazer falta a alguns, mas os Combo Cards são definitivamente divertidos.
Felizmente para os caçadores de troféus, DR2 é muito mais fácil de se conquistar que o primeiro (nada mais de 14 horas de jogatina seguidas!). A dificuldade é razoável: a melhor IA dos sobreviventes torna a progressão mais fácil, mas os Psicopatas continuam agressivos e difíceis, embora reiniciar o jogo diversas vezes seja até esperado. Poucos troféus são histórias-dependentes, e a maioria exigirá uma playthrough destinada somente à aquisição de 1 ou 2 troféus. Mesmo com cada sessão "completa" girando em torno de 6 horas, a platina dificilmente será obtida com menos de 50 horas gastas em Fortune City.
Eu gostaria imensamente de terminar esta análise dizendo que DR2 é um jogo extremamente original e divertido, mas a primeira afirmação só é verdadeira se você nunca jogou DR1, sendo esta a única ressalva verdadeira que tenho ao jogo. Quem não gostou do primeiro não vai gostar deste. Quem gostou de DR1, porém, estará no paraíso com DR2. Aqueles que desconhecem Dead Rising, experimentem. Com tanto a se fazer e tanto para se divertir, a estadia em Fortune City pode ser mais demorada que o seu planejado.