Chrono Cross é um título bastante especial para mim e que, de algumas formas, permaneceu em minha memória como um grande clássico dos RPGs mesmo depois de tanto tempo. Rejogá-lo atualmente é uma experiência única: O que era chato na época ficou pior ainda atualmente, mas em compensação o sentimento de embarcar em uma grande aventura ao acompanhar a jornada de Serge e Kid continua absolutamente incrível. Chrono Cross é absolutamente lotado também de elementos estranhos, mas que ajudam a criar essa identidade única que persevera até hoje.
Explicar exatamente o que faz Chrono Cross especial sem entrar em spoilers é bastante difícil, especialmente nessa época que muitos sequer devem conhecer o título. É necessário reforçar que, mesmo para sua época, Chrono Cross é um título bastante obtuso em vários aspectos e o remaster não altera absolutamente nada em seu conteúdo.
A história é centralizada em Serge e se inicia com um simples passeio à praia com Lenna. Após uma conversa, Serge é encoberto pelo mar, perde a consciência e, ao acordar, percebe que ninguém mais se lembra dele. Assim como o jogador, o protagonista se encontra perdido em meio a esses acontecimentos repentinos e aventura em busca de respostas. A trama logo evolui de maneiras complexas e inesperadas, muitas delas difíceis de acompanhar inclusive. Em momentos o jogo vai deixar o protagonista e o jogador confuso com falta de contexto e explicação em seus acontecimentos enquanto que em outros a quantidade de informação é tão grande e entregue de maneira tão brusca que é difícil acompanhar tudo que se passa.
Uma das características bastante singulares do título está nos personagens e no número que podem ser recrutados durante a jornada. Sem brincadeira, estamos falando de mais de 50 personagens que podem ser obtidos. Naturalmente, apenas uma pequena parcela desses personagens tem algum impacto relevante na história ou algum desenvolvimento, sendo que a maioria acompanha Serge simplesmente porque sim. O grande número de personagens abre um leque considerável no combate, especialmente, mas também é necessário enfatizar o quão únicos alguns de seus membros são: um luchador mexicano que também é um padre? Temos aqui. Um esqueleto palhaço? Também. Uma planta humanóide bizarra? Por que não?
Coletar todos os personagens é algo muito interessante e que absolutamente requer um guia já que muitos requisitos são absurdamente obtusos. Também é impossível juntar todos em uma única jogada já que muitos estão atrelados a caminhos alternativos na história que dependem das ações de Serge. Por exemplo, logo no início é necessário infiltrar em um palácio e, um dos requisitos, é encontrar um guia para a infiltração. Existem múltiplas rotas de infiltração e cada uma está atrelada a um personagem que pode se juntar a equipe de Serge e que, por sua vez, também são requisitos para obter outros personagens.
As ações ou a falta delas por parte de Serge é algo que vai influenciar consideravelmente o andamento da história, seja a principal ou até mesmo histórias menores que envolvem personagens do grupo. Mesmo atualmente, são poucos os jogos que levam as consequências das ações dos personagens em mente e é ainda mais impressionante considerar que se trata de um título do PS1 e que tem um número considerável de eventos opcionais considerando quem está na sua equipe, itens obtidos, ordem de eventos, escolhas, sidequests feitas, etc.
O combate, por sua vez, é outro elemento estranho no título e no gênero, utilizando de uma variedade de mecânicas de maneira não convencional. Por exemplo, o ataque normal é dividido em fraco, médio e forte e cada um tem um custo de stamina e uma chance de acerto. É possível utilizar os ataques fracos para aumentar a probabilidade de acerto dos ataques fortes ou arriscar múltiplos ataques fortes para causar mais dano.
Os ataques normais habilitam o uso de magia que fica organizada em uma matriz pelo jogador. Só é possível utilizar cada magia uma única vez por batalha, portanto, existem vários espaços para colocar uma variedade de magias e, dependendo da onde for colocada, a magia pode-se tornar mais forte ou mais fraca. É um sistema interessante e que dá margem para várias estratégias, além de ser completamente quebrado e fácil de abusar. Para aprender os básicos, recomendo visitar o velho líder da primeira vila ao iniciar o jogo.
Tentando observar Chrono Cross sem lentes de nostalgia, é um título com muitos baixos, mas com altos consideravelmente mais impactantes. Certamente acredito que é um excelente RPG para ser jogado atualmente e, no mínimo, é um título que fornece uma sensação de aventura que poucos jogos modernos replicam atualmente.
O lançamento atual ainda inclui Radical Dreamers, uma aventura em texto que, até o momento, só tinha sido lançada oficialmente no Japão e que serviu como base para a história de Chrono Cross. É um extra no pacote, mas certamente interessante.
Dito que o título continua atraente, chegou o momento de abordarmos outros problemas: o remaster em si é um péssimo trabalho. Primeiramente pensei que todo o mau desempenho do título era uma tentativa de emulação da era do PS1, mas após a análise do Digital Foundry, ficou bastante claro que o port em si é problemático. Temos aqui o primeiro exemplo que o PS1 consegue ter um desempenho melhor que seu sucessor de quatro gerações à frente.
Tratando-se de um RPG, o framerate loucamente inconsistente atrapalha, mas não efetivamente quebra o jogo e certamente muitos irão reclamar também do trabalho (ou a falta dele) em relação à parte gráfica. Mesmo pequenas adições como combate automático, evitar combate e o modo rápido têm problemas com suas implementações e acabam também tornando-se fontes de inconveniências que não deveriam existir. Diga-se de passagem que nenhum dos problemas estraga a experiência do título, mas, de fato, oferece uma experiência inferior ao que era oferecido antigamente e até mesmo nos PS Classics que estavam disponíveis no PS3, PSP e Vita.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Square Enix.
Veredito
Aqui entramos em um caso particularmente difícil de julgar: vale a pena jogar Chrono Cross atualmente? Absolutamente. Vale a pena comprar esse port defeituoso pelo seu preço de lançamento? Depende. É uma pena que o remaster tenha saído dessa forma, mas Chrono Cross ainda continua uma pérola mesmo depois de todos esses anos.
Veredict
Here we enter a particularly difficult case to judge: is it worth playing Chrono Cross these days? Absolutely. Is this faulty port worth buying at its launch price? It depends. It’s a shame the remaster turned out this way, but Chrono Cross is still a gem even after all these years.