A benção e a maldição dos jogos baseados em personagens de HQ tem dois nomes: Arkham Asylum (AA). Benção porque o jogo do Batman produzido pela Rocksteady provou ser muito possível fazer um tremendo jogo com material oriundo de HQs, e maldição porque invariavelmente, todos os jogos do estilo serão comparados a ele – uma comparação em que AA parece perder apenas para seu sucessor, Arkham City. Captain America: Super Soldier (CASS) sofre desse mesmo mal, mas é definitivamente um passo na direção correta pela SEGA.
Vejam bem, a SEGA vem lançando consistentemente jogos que fazem conexões com os filmes de personagens da Marvel – Iron Man, Thor e Hulk, para sermos mais exatos -, mas nenhum desses jogos é bom. Na verdade, nenhum deles é sequer razoável. CASS, por outro lado, é um jogo (um pouco mais) polido e é de fato divertido, ainda que esteja muito longe da excelência de AA.
A história de CASS é um tie-in (ou seja, uma história ligada a outra) do filme do Vingador, e conta basicamente o encontro do Capitão com vilões como Arnim Zola e Madame Hydra no castelo do Barão Zemo. Não existe muito o que comentar aqui, a história é bem direta e sem nenhuma surpresa. A bem da verdade, a história tem um ritmo muito bom e não atrapalha em momento algum. A condução do enredo é boa, embora a história seja um tanto clichê e sem sal.
A exploração talvez seja o aspecto que mais me decepcionou em CASS. Pelos trailers, tinha-se a impressão de que esta seria feita aos moldes de Prince of Persia, o que poderia, combinado ao combate oriundo de AA, fazer uma combinação excelente. Infelizmente, não é bem isso que acontece. A maior parte do tempo você navega o mapa pelo chão, e o Vingador se move de forma um tanto lenta. Quando acrobacias se fazem necessárias, existem dois pontos importantes que me desagradam: primeiro, elas são quase inteiramente automáticas e se resumem a simplesmente apertar X para continuar. Você faz acrobacias mais rapidamente se apertar X com o timing correto, mas em nenhum momento isso se faz necessário. Segundo, as seções de plataforma são quase à prova de morte, e as únicas situações em que o Capitão pode morrer são aquelas em que ele está pendurado em alguma borda, não existe nada abaixo dele e você aperta O para se soltar. São dois pontos frustrantes porque se a plataforma não oferece desafio e é (praticamente) impossível de se falhar (o que acontece em Enslaved, por exemplo), então o jogador está simplesmente seguindo em corredores, mas desta vez na vertical – sem desafio não há diversão, afinal.
Outro ponto que vale ressaltar é que CASS tem colecionáveis demais. Em geral, os colecionáveis em jogos ficam espalhados por salas secretas ou em lugares de difícil acesso, mas com um total de 112 colecionáveis espalhados em um mapa relativamente pequeno, os ambientes de CASS se tornam quase poluídos pelo excesso de colecionáveis. Pior ainda, o desafio de encontrá-los é quase nulo, fruto da combinação da Tactical Vision (ao apertar para cima no direcional digital, os pontos importantes do cenário se destacam em dourado) e do fato de que os colecionáveis aparecem diretamente no mapa ao apertar Select. Até mesmo Alice: Madness Returns, que é um jogo para o qual eu tenho a mesma ressalva de colecionáveis em excesso, faz um trabalho melhor de estimular a exploração por parte do jogador.
Por falar em AA, a melhor parte de CASS é fortemente inspirada no jogo do Homem-Morcego. Você tem botões para ataques, contra-ataques, esquivas e agarrões, além de poder usar o escudo do Vingador para refletir balas e derrubar os inimigos. Exutando-se combos e contra-ataques corretamente, o Capitão enche suas barras de Focus, as quais são usadas para golpes especiais – Crippling Strike, que é um ataque bem mais forte que os comuns; Weaponize, que permite ao jogador tomar controle das armas dos inimigos maiores; e Super Soldier, que recarrega por completo a energia do Capitão América e o deixa invencível e super-forte por um período de tempo limitado. O combate é rápido e fluído, e diverte bastante, ainda que tenha algumas arestas a aparar. Enquanto em AA você precisava de um timing muito bom ao executar seus combos para entrar e se manter em Free-Flow, CASS é bem mais simplista. Não existe um marcador de combos e você não é penalizado por massacrar os botões (embora o jogo insista em dizer o contrário), e enquanto em AA o Batman pode atacar os inimigos onde quer que estejam, o Capitão ataca apenas aqueles próximos a ele, o que é um pouco decepcionante. Além disso, os chefes são sem-graça e oferecem batalhas enfadonhas.
CASS não é um jogo feio, mas também não é nenhuma obra-prima visual. As texturas são adequadas, mas os modelos de inimigos são um tanto fracos e muito repetitivos. O cenário, em geral, também é pouco variado, embora as construções sejam bem-feitas. O frame-rate sofre um pouco também, e os slowdowns não passam em branco nas áreas mais conturbadas do jogo. O destaque visual fica para o escudo, que é realmente bem-feito e possui um belo efeito de brilho e reflexo, ainda que não seja nada alarmante.
No tocante ao som, a trilha é orquestrada e extremamente genérica, tal qual se espera de um tie-in de filme. As vozes, embora contem com a participação do elenco do filme (incluindo Chris Evans como o Capitão), são igualmente monótonas, ainda que nunca cheguem a incomodar. No geral, o destaque fica por conta unicamente do Barão Zemo, que aparece apenas na fomra de diários, lidos com a excelente interpretação de Steven Blum (Garcia Hotspur de Shadows of the Damned e Grayson Hunt de Bulletstorm).
CASS é um jogo extremamente fácil e curto – particularmente, demorei 7 horas e 20 minutos para fazer tudo que o jogo oferece e platiná-lo. A despeito da quantidade enorme de colecionáveis, o jogo não inspira muita exploração e tudo é bem fácil de se ver, tanto no mapa do jogo quanto no próprio cenário, e a Tactical Vision torna a exploração uma piada.
Eu não diria que CASS é um jogo exatamente “bom”, mas ele é divertido enquanto dura e cumpre bem sua função. Para aqueles que já terminaram Arkham Asylum e estão loucos pela sequência, eu diria que CASS supre um pouco dessa vontade, embora compará-lo ao jogo do Morcegão seja quase uma heresia. Ainda assim, vale uma alugada, e fica registrado nele a possibilidade de tie-ins de filmes virem a ser bons.
— Resumo —
+ Combate bem executado
+ Boa quantidade de extras
+ História bem conduzida
+ Gráficos bacanas
– Curto
– Fácil demais
– Plataforma automática
– Excesso de colecionáveis
– Exploração e chefes enfadonhos