Como fazer uma série anual, com jogos lançados sistematicamente a cada 12 meses, parecer “nova”? Inovação parece ser a solução, mas será realmente possível inovar a cada ano, surpreendendo os jogadores e empolgando-os, fazendo com que seu interesse pela série seja renovado? São perguntas como essas que imagino moveram o desenvolvimento de Call of Duty: Black Ops II, o título que mais arriscou inovar desde que Modern Warfare foi lançado. Apesar de alguns deslizes esse risco foi bem calculado e o resultado no geral é satisfatório, mas a série corre um sério risco.
Black Ops II (BO2) dispensa detalhamentos para qualquer um com o mínimo de conhecimento sobre videogames. Fazendo parte da série de maior sucesso da atualidade, com dezenas de milhões de unidades vendidas a cada ano, BO2 dá continuação à história do ótimo Black Ops de 2010 e acrescenta uma grande novidade no modo de história, algo que realmente faz a diferença em busca de renovação para a série: escolhas e consequências.
Ao longo das 11 missões do jogo há diversos momentos em que você pode fazer escolhas que afetam consideravelmente o rumo da história. Várias dessas escolhas interferem até mesmo entre si, criando muitas possibilidades diferentes para o final da história. Da primeira vez que joguei o jogo até o fim, as escolhas que eu fiz não me agradaram e eu não gostei do final que me foi apresentado.
Comecei um jogo novo, mudei as minhas escolhas e fui surpreendido por um desenrolar mais interessante do que o anterior, mas ainda assim um pouco decepcionante. Todos os finais que eu fiz, apesar de bem diferentes entre sim, não causaram o “impacto” que eu esperava, e sempre eram rápidos, curtos e grossos, sem muita emoção. Para piorar, o final é entrecortado com os créditos do jogo, em uma execução que deixa muito a desejar e que não faz jus aos melhores momentos que o jogo oferece.
Além das missões tradicionais, o jogo apresenta uma novidade, as missões Strike Force. Elas funcionam como um jogo de estratégia, no qual você tem diversas unidades para controlar (soldados, drones, turrets e mais) e pode cumprir os objetivos tanto comandando a ação “de cima”, como o comandante da missão a acompanhando em um tabuleiro virtual, como tomando controle direto de qualquer uma de suas unidades e atuando com elas em primeira pessoa.
A ideia do Strike Force é muito legal, e a princípio eu achei que fosse gostar muito das missões, mas no final elas se mostraram bem chatas e irritantes. A Inteligência Artificial das unidades quando você não as controla diretamente é horrenda, e na maior parte do tempo de jogo você vai ter que tomar controle direto delas para não perder a luta. Mesmo com missões de tipos diferentes como defesa de objetos estratégicos (tower defense) e infiltração em uma base inimiga, nenhuma missão conseguiu me agradar. A única motivação que eu tive para terminar todas é que, assim como as escolhas das fases tradicionais, completar essas missões opcionais influenciam na história, e para chegar ao “final bom” do jogo você deverá cumprir todas elas.
Outra novidade em BO2 é que antes de começar uma missão você pode escolher as armas, equipamentos e perks que irá usar, trazendo a customização do multiplayer para o single-player. O perk mais importante se chama “Access Kit”, e permite que você explore partes das fases que seriam inacessíveis sem ele. Você pode ter acesso a novas armas, novas bombas ou até mesmo a novos aliados através das ações que pode realizar com esse perk. Conforme você avança no jogo novos itens são liberados, então quanto mais você joga, mais itens melhores terá à sua disposição.
Muitos desses itens são liberados através de mais um mecanismo novo do jogo, os challenges (desafios). Cada missão do jogo possui 10 challenges (11 missões tradicionais + 5 missões Strike Force = 160 challenges no total), que vão de terminar a missão sem morrer nenhuma vez a matar X inimigos com a arma Y, passando também por coletar todos os 3 itens de inteligência (intel) escondidos pelas fases. Para quem joga Call of Duty pelo single-player, e eu me incluo nessa minoria, os challenges são um estímulo excelente para manter o jogo vivo.
A ambientação do jogo é muito boa, variando entre o passado “recente”, com missões que se passam na década de 1980, até o futuro próximo de 2025, onde se passam a maior parte das missões. Para fãs de tecnologia e gadgets BO2 é um banquete, com itens que muitos sonham em ter e que, segundo o jogo, existirão em 2025. De luvas aderentes a qualquer superfície a óculos de realidade aumentada, de armas com mira telescópica de Raio-X a computadores quânticos, há de tudo um pouco aqui.
O desempenho do jogo, porém, não é tão legal assim. Em diversos momentos há quedas significativas na taxa de frames, incluindo momentos em que eu presenciei o jogo dando “saltinhos” na apresentação de uma cena. O modelo de alguns personagens, como o velho Woods, são fantásticos e não perdem para nenhum Uncharted da vida, ao mesmo tempo em que outros modelos são muito estranhos e parecem bizarramente artificiais (como o de David Mason, um dos protagonistas do jogo). A animação de morte dos inimigos também me pareceu muito estranha: eles parecem cair instantaneamente, sem nenhum peso ou simulação física decente. Eu posso estar mal acostumado com Far Cry 3 e sua modelagem e animações topo-de-linha, mas BO2 podia ter feito um trabalho melhor nisso.
O principal modo de jogo para a maioria das pessoas, contudo, não é o single-player, e sim o multiplayer competitivo. Esse modo dispensa apresentações e continua sendo um dos melhores multiplayers do mercado. Assim como no restante do jogo, há novidades aqui, mas elas são mínimas. Você agora é limitado a escolher 10 itens para equipar quando cria a sua classe, e deve balancear perks, armas e acessórios para estar dentro dos limites. Eu particularmente não gostei disso, pois apesar de impedir que jogadores mais avançados equipem 200 itens de destruição em massa, isso acaba limitando a customização.
Você continua ganhando XP por tudo que faz nas partidas, e esse XP é usado para que você suba de nível. A cada novo nível você ganha uma moeda (token), que pode usar para destravar novas armas, acessórios e equipamentos. Da mesma forma que seu personagem evolui, as armas também o fazem: quanto mais você usa uma arma e quanto mais cumpre os desafios específicos dela, mais ela sobe de nível e mais acessórios são liberados para usar nela.
O sistema de Score Streak, que foi adicionado à série em Modern Warfare 3, salvo engano, retorna aqui e se mostra uma escolha acertada. Ao contrário do antigo sistema de Kill Streak, em que apenas inimigos mortos eram contabilizados para que o jogador pudesse ativar habilidades especiais, no Score Streak a pontuação do jogador é o que importa. Você consegue pontos ao ajudar companheiros de time, capturar pontos de dominação, desarmar bombas e assim por diante. Para pessoas como eu, que gostam de jogar Domination e não se preocupam muito em apenas matar todo o time adversário, os Score Streaks são uma salvação.
Além do multiplayer competitivo, o famigerado modo Zombies retorna aqui com algumas novidades. Agora ele possui uma certa história própria, com vários mapas e cenários que são interligados por viagens de ônibus. A ideia central do modo continua a mesma: junte até 4 jogadores e enfrente hordas de zumbis com dificuldade crescente. A dificuldade do modo também foi mantida. Eu me considero um bom jogador, mas mesmo assim eu morro muito fácil nesse modo desde a primeira vez que o joguei em World at War. As armas nunca são boas o suficiente e os zumbis são extremamente resistentes. As frustrações que eu sinto quando jogo esse modo continuam existindo, fazendo com que eu me dedique pouco a ele, mas quem sempre gostou de matar zumbis vai gostar do que encontrar aqui.
Uma crítica que merece destaque é que o sistema de party do jogo (monte um esquadrão com seus amigos antes de entrar numa partida multiplayer, permitindo que sempre fiquem no mesmo time) funcionou muito mal para mim. De todas as tentativas que eu fiz, tanto no multiplayer normal quanto no Zombies, só consegui realizar uma partida em party 1 vez. Em todas as outras o jogo desconectava a mim ou ao meu amigo, ou simplesmente nos separava e nos colocava em jogos diferentes, ou não aceitava que um se juntasse ao outro. Eu não sei o que aconteceu, mas sei que isso me irritou muito.
BO2 é um jogo bom, não tenha dúvidas. Ele tenta inovar em alguns aspectos, com uma campanha com escolhas e finais diferentes, além de missões opcionais, e tem certo sucesso em muitos deles. Porém, no geral a fórmula do jogo é a mesma de sempre, e pela primeira vez desde que joguei Modern Warfare em 2007 eu senti que essa fórmula está desgastada.
Quando eu comecei o jogo pela primeira vez e joguei as primeiras 4 ou 5 missões, eu estava totalmente desanimado com o que estava jogando. Parecia tanto um “mais do mesmo” que eu precisei de coragem para continuar. Felizmente as missões melhoram muito com o decorrer do jogo, sem contar que completar os challenges deu um fôlego a mais para o jogo. Ainda assim parece que a inovação não foi suficiente para dar um ar de novo à série, para quem a joga principalmente pelo single-player. Meu interesse para o Call of Duty de 2013 agora está mínimo, e a Activision vai precisar dar a volta por cima para que a minha sensação não se torne a realidade de todos.
Para aqueles que só focam no multiplayer, a sensação é a mesma? Vocês também sentem que o esgotamento da série está próximo? E para aqueles que também preferem o single-player? Dêem a sua opinião nos comentários.
— Resumo —
+Campanha com escolhas e consequências +Challenges em cada missão +Ambientação futurista legal +Multiplayer competitivo ainda divertido +Zombies mais robusto que nunca
–Fórmula desgastada –Finais do jogo são anti-climáticos –Missões Strike Force não são tão boas –Desempenho técnico inconstante