Reviver franquias há muito tempo dormentes é uma proposição que sempre traz vários riscos. Não importa o quão conhecido o legado e impacto que determinados jogos tiveram em gerações passadas, sempre há a incerteza de que o status “cult” de um jogo não seria o suficiente para vender uma remasterização, remake ou até mesmo um novo título usando o mesmo nome.
Esse é o tipo de incerteza que parece pesar ainda mais em torno de algo como Brigandine. Conhecida por um dos mais impressionantes RPGs de Estratégia do PS1 graças a um sistema de mecânicas bastante profundo e uma narrativa envolvente com múltiplos pontos de vida, a série parecia destinada a ter um único título lançado (e adorado) pelos fãs do gênero, até muito recentemente.
Graças ao esforço da Happinet, ela revive agora com Brigandine: The Legend of Runersia, um título dedicado a trazer para a geração atual os conceitos mais interessantes do primeiro jogo e modernizá-los para uma nova audiência. E, olhando para o pacote como um todo, é difícil imaginar uma tentativa com muito mais sucesso do que o encontrado aqui.
The Legend of Runersia coloca o jogador no controle de uma de cinco nações distintas (ou uma tribo), cada qual responsável por dominar historicamente uma determinada região do seu continente. Cada uma dessas nações tem um ponto de vista distinto relacionado a poderosos itens mágicos conhecidos como Brigandines, poderosos pedaços de armadura criados com Mana e equipados por Rune Knights.
Enquanto essas nações passaram bastante tempo em paz umas com as outras, eventualmente as tensões entre elas e as diferenças filosóficas sobre como cada uma delas encara o poder/responsabilidade das Brigandines e a sua influência no mundo levam todas as seis forças do continente de Runersia a entrarem em conflito. Cabe ao jogador então escolher qual delas controlar e tomar as decisões corretas para levar o continente a ser unificado sob a sua bandeira.
Um dos pontos mais interessantes sobre Brigandine: The Legend of Runersia é a forma como a história é contada. Não importa qual das campanhas você escolha, ela se iniciará com uma longa apresentação sobre quem são as figuras mais importantes daquele mundo e o papel que elas desempenham politicamente no seu reino e nos demais e as razões por trás da guerra.
A partir daí, à medida que o jogador vai avançando na campanha, mais informações vão sendo dadas sobre os bastidores de cada reino, principalmente do seu. É a partir daí que a riqueza do universo de Runersia vai sendo apresentado e conquistando o jogador, mostrando que aquele ali é um mundo rico e com uma história pré-existente, não uma folha em branco sendo moldada apenas pelas suas ações.
Esta decisão ajuda bastante a dar mais impacto aos eventos da história, já que os personagens parecem mais reais. Os comandantes de cada nação possuem uma história entre si, o que leva a interações não só durante a campanha, mas até mesmo nos campos de batalha a depender de quais unidades estiverem em cada conflito, dando uma sensação de que cada combate e cada campanha é única.
Isso não quer dizer que a narrativa do jogo seja perfeita. Existe um sério problema com o ritmo do jogo, com a história se arrastando em diversos momentos em razão de longas sessões expositivas sobre determinados personagens, alguns que acabam nem tendo muito impacto. O elenco de personagens do jogo é bastante robusto, então é meio impossível dar profundidade a todos, mas o jogo se esforça e isso acaba afetando o ritmo da jogatina.
Os personagens em si são bem interessantes e complexos, sendo notório o cuidado dos roteiristas com eles, mas era necessário que mais tempo fosse dedicado à evolução dessas histórias, já que os personagens praticamente não mudam do começo ao final de cada campanha. Ainda assim, completar mais de uma história é recompensador, já que aos poucos é possível entender mais sobre o mundo, que é o que realmente vale a pena em termos da narrativa.
Pelo quanto o jogo se esforça e se dedica a sua narrativa, uma parte talvez ainda maior de Brigandine: The Legend of Runersia é o seu gameplay. Ao contrário de outros RPGs de Estratégia, aqui cada movimento é dividido em duas sessões, uma “Organization Phase” na qual você pode mover as suas unidades para uma das suas bases, enviá-las em missões para ganhar XP ou itens, invocar monstros para fortificá-las e todo tipo de ajustes necessários (como mudar de classe ou reorganizar suas equipes).
Essa primeira etapa traz bastante coisa pro jogador administrar, ao ponto de se tornar quase excessivo. Felizmente o jogo pega leve no começo, te permitindo se acostumar com as opções antes de realmente ser forçado a pensar em cada mínimo detalhe das suas ações. Tudo é apresentado através de menus bem claros, ainda que algumas opções naturalmente fiquem relativamente escondidas pelo simples volume de coisas presentes.
No geral, o jogador sempre precisa ter unidades nas fronteiras com outras nações para defender suas bases e dominar mais territórios é necessário já que certos monstros só podem ser invocados em determinados lugares, mais bases te dão mais Mana para invocações e ter mais unidades te permite fazer mais coisas o que, por sua vez, facilitará na hora de tornar as suas unidades mais importantes ainda mais poderosas para as fases de combate.
Concluída a fase de organização, o jogo move então para a chamada “Attack Phase”, com o nome sendo bem auto-explicativo. É aqui que você irá escolher contra qual território inimigo suas unidades entrarão em combate direto e onde a parte de “RPG de Estratégia” fica mais aparente para o jogador. Isso não quer dizer que o jogo não traga suas próprias diferenças únicas para a fórmula.
A primeira e mais notória diferença é que, ao invés de seguir o tradicional tabuleiro parecido com xadrez, Brigandine opta por um mapa dividido em hexágonos. É uma diferença simples, mas visto como o combate é desenhado para que as unidades entrem em conflito direto, sem muito uso de verticalidade ou distância, é algo notório e que precisa de uma certa adaptação à primeira vista.
Cada unidade (incluindo os Rune Knights e monstros) possuem um certo número de habilidades que podem ser usadas em combate. Elas variam entre ataques diretos com um certo raio de ação, ataques mágicos e habilidades de cura e suporte variáveis. Cada unidade possui uma certa fraqueza, então organizar as suas unidades no mapa de forma a protegê-las e ainda mantê-las em um raio de ação efetivo é bastante importante.
Infelizmente, enquanto o combate é divertido e traz boas opções para o jogador, ele é bastante limitado. Basicamente todos os turnos giram em torno de avançar com uma unidade e atacar da forma mais eficiente possível, sabendo quais das suas unidades são “sacrificáveis”. O mais importante é sempre derrotar os Rune Knights, já que todas as unidades atreladas a eles recuam caso ele seja derrotado, mas é tudo bem simples e fácil de aprender.
Talvez algo que contribua pro combate não parecer tão interessante talvez seja a sua parte técnica. Brigandine conta com alguns dos retratos de personagem mais impressionantes desse último ano, mas os ambientes e animações são simplórias demais e fazem com que as partes de preparação do combate sejam visualmente mais belas do que o combate em si.
Um outro problema que acabou incomodando bastante é a performance do jogo. Brigandine foi lançado com sérios problemas no PS4 (e o jogo foi testado no console base e no PS5), com algumas campanhas travando no começo e problemas no enquadramento da imagem, tornando praticamente impossível jogá-lo. A maior parte desses problemas parecem ter sido resolvidos com os patches mais recentes, mas o estado em que o jogo foi lançado (só uma campanha pode ser “iniciada” e ainda assim com problemas) era bem complicado.
Dito isso, quando funciona (e ele tem funcionado muito bem depois das últimas atualizações), Brigandine: The Legend of Runersia é um jogo muito bom e que precisa ficar no radar dos fãs de RPGs de Estratégia, graças ao seu bom uso dos elementos clássicos da IP e modernizando vários pontos importantes, ainda que ainda precise de mais melhorias em uma eventual sequência.
Enquanto o seu combate acaba deixando um pouco a desejar, os elementos de estratégia, a quantidade de conteúdo, as campanhas e os extras desbloqueáveis são muito bem-vindos e rendem uma experiência bastante longa, divertida e que deverá agradar aos fãs mais clássicos do gênero.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Happinet.
Veredito
Brigandine: The Legend of Runersia é um bom jogo de estratégia que conta com um ótimo volume de conteúdo para manter o jogador envolvido por dezenas de horas. Graças às suas ótimas campanhas e bons elementos de SRPG, é um jogo que precisa estar no radar dos fãs mais apaixonados do gênero e da sua história.
Veredict
Brigandine: The Legend of Runersia is a good strategy game that has a lot of content to keep the player engaged for dozens of hours. Thanks to its great campaigns and good SRPG elements, this is a game that should be on the radar for the most passionate fans of the genre and its story.