O que futebol americano, estratégia por turnos e a franquia Warhammer têm em comum? Sem sombra de dúvida, Blood Bowl II é a resposta perfeita para essa questão.
O game produzido pela Cyanide Studios e distribuído pela Focus Home Interactive é a versão digital de um cultuado jogo de tabuleiro lançado no final da década de 80 pela britânica Games Workshop. Ele dá sequência à série iniciada em 2009, quando foi lançado o primeiro Blood Bowl para PC, Xbox 360 e PSP.
O jogo coloca as raças do universo de Warhammer em pé de guerra mais uma vez, só que dentro das quatro linhas, e faz uma mistura hilária de futebol americano e estratégia em turnos recheada com bastante porrada e muitas piadinhas infames feitas pelos comentaristas da Cabal TV (entenderam o trocadilho?), Jim e Bob.
Para aqueles que nunca tiveram contato com a série e também não entendem muito a lógica de funcionamento do esporte estadunidense, Blood Bowl II pode parecer logo de cara um jogo bem chato, mas basta um pouco de paciência e uma olhada mais de perto para começarmos a entender seu sistema e marcar nossos primeiros touchdowns. Como é baseado em um jogo de tabuleiro, cada equipe realiza suas ações – pegar a bola, avançar no campo, etc – em turnos alternados. Uma partida é dividida em dois tempos e cada time tem oito turnos por tempo. Eles são formados por jogadores com diferentes especialidades como, por exemplo, os blitzers, com a função de parar o ataque adversário, ou os runners, que têm facilidade em se esquivar e avançar no campo adversário.
Claro que, por ser inspirado no universo de Warhammer, a pancadaria rola solta. Bloquear um adversário consiste em dar-lhe um belo golpe, fazendo com que ele caia no chão deixando rastros de sangue no campo. Trolls às vezes se rebelam e comem, literalmente, seus companheiros de equipe. Até mesmo o juiz pode ser comprado e facilitar a vida de um time. Ganha o jogo aquele que conseguir levar a bola mais vezes até a endzone adversária.
A aleatoriedade tem um papel importantíssimo no game. Todas as ações em campo são governadas por um sistema de dados que define o resultado. Quer bloquear um oponente? Jogue os dados. Quer fazer um passe? Jogue os dados. Lógico que as estatísticas de cada jogador aumentam ou diminuem as chances de sucesso de uma jogada. É fato que um blitzer orc tem uma força muito maior que um catcher elfo, com isso, nas vezes em que eles se encontrarem em campo, a chance de que o elfo leve a pior é de quase cem por cento, mas sempre existe aquela pequena margem de incerteza que faz com que nenhuma partida seja igual à outra. Cada jogada mal sucedida é punida com um turnover, ou seja, seu turno é encerrado e a vez é passada ao seu oponente. É muito importante saber calcular os riscos de cada ação para se dar bem.
Em comparação ao primeiro jogo da franquia, Blood Bowl II se apresenta muito mais polido e acessível aos iniciantes. O novo motor do jogo entrega gráficos e animações muito melhores, com riqueza de detalhes digna da nova geração de consoles. Todas as raças presentes estão muito bem retratadas e seu comportamento em campo espelha com fidelidade seus pontos fortes e fracos. Os menus estão mais simples e claros, facilitando o acesso às opções. A interface recebeu grandes melhorias e está mais amigável. É muito mais fácil analisar as possíveis jogadas e suas probabilidades de sucesso, os cards de comparação entre os jogadores são de simples entendimento e tudo que precisamos saber é mostrado na tela. Não é necessário gastar horas compreendendo detalhes técnicos das regras.
Para os jogadores que estão tendo contato pela primeira vez com o jogo, podemos dizer que a desenvolvedora pensou bastante em vocês. Aprender suas mecânicas básicas é uma tarefa extremamente simples, pelo menos para aqueles que se dispuserem a gastar um tempinho no modo carreira, que na verdade funciona como um longo tutorial. Somos colocados no papel de manager dos Reikland Reavers, o mais famoso time formado por humanos, mas que está passando por momentos difíceis e precisa retomar as glórias do passado.
Apesar de o roteiro ser um tanto clichê, por vezes até bobo, é através dele que iremos aprender os pontos básicos do jogo, suas regras e as táticas que podemos utilizar para lidar com as mais variadas situações. Cada partida da carreira nos ensina um novo aspecto do jogo. Após algumas partidas, os novatos já conseguirão dominar seus aspectos básicos. Para bater de frente com os jogadores veteranos no multiplayer, será necessário muito treino para entender a fundo as questões táticas.
Falando em modo multiplayer, a Cyanide Studios também fez um ótimo trabalho aqui. Para começar a jogar online é necessário antes criar um time partindo do zero. Você terá que escolher uma raça, contratar jogadores e pessoal para o staff da equipe, escolher um emblema e também um uniforme. Depois disso você poderá disputar amistosos e ligas online, jogando contra oponentes humanos espalhados pelo mundo. É possível também criar seus próprios torneios, personalizando as regras, determinando se haverá fase de grupos ou partindo direto para as eliminatórias. Nesse modo é interessante observar que seus jogadores vão ganhando experiência a cada partida, podendo receber upgrades que melhoram seu desempenho.
Seus jogadores também vão ficando mais velhos e sofrendo com o peso da idade até resolverem se aposentar. Há também o risco de alguns deles serem contundidos e ficarem inválidos ou até mesmo serem mortos durante as partidas, o que te obrigará a procurar no mercado de transferências outro jogador para substituí-los. Esse é outro ponto positivo do jogo, a desenvolvedora criou alguns mecanismos que permitem um certo nível de interação entre os fãs, como o mercado de transferências e a Cabal TV.
No mercado de transferências é possível monitorar e negociar jogadores que pertencem a equipes comandadas por outras pessoas, desde que sejam da mesma raça dos jogadores do seu time, mesmo que eles não estejam listados para transferência. Afinal, tudo tem seu preço, não? É possível também listar para transferência aquele jogador que já não tem mais utilidade para você e fazer uma grana para investir em outro aspecto do time. O mercado do jogo é dinâmico e a faixa de preço de determinado tipo de jogador é fixada de acordo com a demanda.
Outro ponto de destaque é a Cabal TV, em que é possível ver replays ou até mesmo acompanhar partidas online ao vivo, com comentários carregados de humor negro feitos pela dupla Jim e Bob (os dois, aliás, mesmo tendo falas um tanto repetitivas, dão um show à parte na narração). Esse é um prato cheio para os fãs do jogo e para aqueles jogadores que querem aprender sobre as principais estratégias utilizadas no modo multiplayer. A desenvolvedora dá a entender que existe uma pretensão em tornar Blood Bowl II um e-sport, que pode se tornar tão rentável quanto League of Legends e DOTA 2.
Veredito
Blood Bowl II é um jogo cativante e, mesmo com regras complexas, bastante acessível aos novatos. Os veteranos não vão encontrar tantas novidades, apenas melhorias gráficas e o modo multiplayer. Seus principais pontos negativos são: a falta de dublagem ou sequer legendas em português do Brasil; uma inteligência artificial que não consegue impor um grande desafio ao jogador; a falta de opções tanto para acelerar o turno dos oponentes controlados pela IA quanto para automatizar as ações de alguns jogadores de nossos times. No fim das contas, Blood Bowl II é o mais indicado para quem deseja conhecer a série e é imperdível para qualquer fã de jogos de estratégia em turnos e do universo de Warhammer.
Jogo analisado com cópia digital fornecida pela Focus Home Interactive.