ONWIN365

Battle Chasers: Nightwar

Em uma época de RPGs cada vez mais ágeis e focados na maleabilidade e ação dos seus combates, as lembranças dos antigos jogos do gênero, com um ritmo mais lento, combates por turnos e horas e horas de grind para se estar no nível necessário para avançar, parecem relíquias de tempos antigos, um estilo cada vez mais abandonado pelos grandes RPGs de hoje em dia.

Battle Chasers: Nightwar, jogo desenvolvido pela Airship Syndicate, estúdio de ex-membros da antiga Vigil Games, e publicado pela THQ Nordic, é baseado na clássica, apesar de curta, série de histórias em quadrinhos do artista brasileiro Joe Madureira, mais conhecido para os fãs de videogame pelo seu trabalho na série Darksiders (jogo no qual também estiveram envolvidos o pessoal da Airship Syndicate), e faz com os RPGs por turnos o mesmo que faz para a HQ: moderniza e revigora algo que viveu seus tempos áureos nos anos 90, mostrando que ambos ainda são capazes de brilhar e conquistar em tempos atuais.

Nightwar começa em meio a uma batalha de naves aéreas, com os personagens principais sendo atacados por um grupo de bandidos sobre uma ilha misteriosa, onde são forçados a pousar e se separando no processo. A partir daí, os protagonistas precisam se reencontrar e descobrir uma maneira de fugir da ilha, não antes de se envolverem nos mistérios e conspirações do lugar.

Por mais que a história seja bastante clichê e inicialmente ela assuma um conhecimento prévio dos personagens das histórias em quadrinhos de Battle Chasers (afinal, em se tratando de um jogo que passou por financiamento coletivo, muito do seu público alvo são esses fãs de longa data), a maneira como o jogo progride apresenta-os muito bem para todos e o carisma dos personagens em si consegue sustentar mesmo os momentos mais previsíveis da história.

Muito disso vem da maneira como Battle Chasers brinca com estereótipos visuais. Por se inspirar muito nos tradicionais RPGs de mesa, BC:N manipula as expectativas do jogador ao colocar personagens como Gully, que, se visualmente lembra os tradicionais ladrões de Dungeons & Dragons, é uma jovem lutadora que herdou duas manoplas que costumavam pertencer ao seu pai, antigo companheiro do guerreiro Garrison, ambos acompanhados por um imponente golem cuja principal função é proteger Gully (e que é ótimo em magias de cura), chamado Calibretto. Aos poucos outros personagens vão sendo apresentados, dos personagens da HQ original, o mago Knolan e a caçadora de recompensas Monika, além do personagem original Alumon, um caçador de demônios criado para o jogo.

Gully, aliás, é o principal foco da história e a personagem mais bem desenvolvida, já que o enriquecimento das histórias pessoais dos personagens, apesar de acontecer em alguns momentos, no geral fica em segundo plano, sendo a enorme maioria dos diálogos focado no avançar da trama principal. Isso em si não é um problema, já que Battle Chasers: Nightwar tem uma narrativa de qualidade ajudada pela belíssima arte, em especial nas cenas expositivas que tomam o visual bastante quadrinhesco. O fato de todo o texto do jogo estar em português é ótimo, permitindo que os jogadores brasileiros possam aproveitar por completo a história (apesar de todo o áudio ser em inglês).

Por mais que seja visual e narrativamente bastante influenciado por tradições dos RPGs Ocidentais, quando se trata da sua parte mecânica, não existem dúvidas do quanto ele bebe de clássicos JRPGs, em especial pela sua principal qualidade, que é o seu combate por turnos. Os inimigos aparecem no mapa ou nas masmorras e, ao esbarrar com o jogador, a batalha tem início.

O combate é bem simples de se dominar e Battle Chasers faz um ótimo trabalho de apresentar novas mecânicas aos poucos. Se, no início, o jogador se limitará a atacar e defender ou usar uma das habilidades, com o passar das horas ataques especiais, magias ofensivas e defensivas e efeitos vão sendo apresentados e adicionando bastante a um jogo com sistemas profundos e com várias e várias estratégias que podem ser aplicadas.

As habilidades interagem em si de maneira incrível e nem sempre utilizar o ataque mais forte é a maneira mais inteligente de atacar, em especial pela mecânica chamada de “Sobrecarga”. Essa mecânica permite ao jogador acumular pontos extras com determinadas ações (no geral ataques simples ou habilidades de defesa e suporte) que podem substituir a utilização de Mana ou serem utilizados para aumentar a força dos ataques.

Além disso ainda existem outras habilidades, como ataques especiais chamados de Explosão, únicos de cada personagem, que podem ser tanto ofensivos quanto de suporte e que são desbloqueados através de missões secundárias; Bônus, que são modificadores que podem ser equipados com pontos que o jogador ganha ao evoluir os personagens ou encontrar determinados itens.

Outra demonstração da mescla entre RPGs orientais e ocidentais é a movimentação. O jogador explora a maior parte do mundo andando pelo mapa com visão isométrica, no qual o jogador pode visitar lojas nas cidades, participar em combates nas estradas ou entrar em masmorras (onde a visão e movimentação passa a lembrar um pouco mais jogos como Diablo).

A indicação dos objetivos é bem clara, sendo tudo bastante intuitivo, apesar dos ambientes bastante fechados, o que é compensado pelo jogo contar com uma enorme diversidade. Cada área única e diferenciada, além das masmorras serem geradas proceduralmente, fazendo com que cada visita a elas seja relativamente única. Sempre há novos segredos e salas a serem descobertas e a possibilidade de mudar a dificuldades das dungeons ao revisitá-las acrescenta bastante à experiência. Algumas decisões, inclusive, afetam a maneira como a história e as dungeons em si funcionam, acrescentando ainda mais variedade.

À primeira vista, o fato do jogo possuir apenas uma cidade passa ao jogador a impressão de que equipamentos e itens são limitados, no entanto, a influência de Diablo não se limita à visão das masmorras, afinal, temos aqui uma quantidade enorme de loot. Existem diferentes níveis de raridade para os mesmos itens e quanto maior a dificuldade da dungeon, melhores são os itens que o jogador encontra. É um pequeno detalhe, mas que acrescenta ainda mais ao jogo, apesar do nível dos itens estar vinculado ao nível do local, o que não torna tão atraente voltar às primeiras masmorras caso o jogador já esteja bastante evoluído.

Battle Chasers é um jogo incrivelmente recompensador e cada ação sempre traz algo positivo, tendo uma constante sensação de evolução e conquista que torna a experiência ainda mais agradável. Combinar isso com o belo e único estilo do Joe Madureira e a agradável trilha sonora de Jesper Kyd (responsável pela trilha de Darksiders) e a atmosfera e tom do jogo são muito bem estabelecidos e funcionam para manter o jogador imerso.

A única coisa que, infelizmente, atrapalha Battle Chasers: Nightwar são problemas técnicos. Do jogo travando em telas de loading antes das batalhas, ao jogador simplesmente travando e fechando em momentos aleatórios, problemas de inicialização de determinadas ações ou até mesmo de cenas. Isso tudo atrapalha bastante a experiência e, mesmo com alguns patches, não foram resolvidos até agora.

Battle Chasers: Nightwar, quando foi anunciado, parecia prometer um bom jogo, por mais que a mescla de influências poderia ter resultado em algo muito aquém do que a equipe envolvida poderia entregar. Felizmente, apesar dos problemas técnicos, o jogo supera todas as expectativas e é, sim, um produto de qualidade.

Veredito

Battle Chasers: Nightwar é um jogo incrível, que, mesmo com problemas técnicos e sendo desenvolvido por uma equipe pequena, vale a pena ser jogado tanto por fãs da série quanto por jogadores sedentos por mais RPGs por turnos. O combate refinado e criativo, as divertidas masmorras e bela arte fazem com que o jogo seja uma bela surpresa.

Jogo analisado com cópia digital fornecido pela THQ Nordic.

Winz.io

Veredito

90

Fabricante:

Plataforma:

Gênero:

Distribuidora:

Lançamento:

Dublado:

Legendado:

Troféus:

Comprar na

Veredict

Battle Chasers: Nightwar is an incredible game that, even with technical problems and being developed by a small team, it’s still worth being played by both fans of the original series and players wishing for more turn-based RPGs. The creative and finely-tuned combat, the fun dungeons and the beautiful art make the game a very nice surprise.