Bastion

Senhores jogadores, por favor, tomem seus assentos que a viagem no tempo irá começar. Bastion é um jogo lançado em 2011 para diversas plataformas (até mesmo o Chrome) e que, por motivos que eu desconheço, não deu as caras no universo Playstation… até agora. Após quase quatro anos de seu lançamento, o jogo chega finalmente ao PS4 e mais tarde para o Vita (donos de PS3, sinto muito). Será que, depois de tanto tempo, ainda vale a pena dar uma chance ao jogo?

Antes de começar a análise, um mea culpa: apesar de muito elogiado pela crítica e de toda disponibilidade do jogo em diversos meios, nunca joguei Bastion. Finalmente pude me redimir e posso dizer que me arrependi de não tê-lo jogado antes. Ele é muito bom! Por eu estar navegando pela primeira vez no mundo de Caelondia, não tenho como afirmar se essa demora de Bastion ao Playstation veio acompanhada de alguma novidade com relação ao jogo original – arrisco a dizer que não.


Você é um protagonista sem nome, chamado simplesmente de Kid pelo narrador, que vive na cidade de Caelondia, trabalhando na defesa de Rippling Walls, uma muralha que protege a cidade de intrusos e perigos existentes em sua parte exterior (isso deve soar familiar para fãs de Game of Thrones ou Attack on Titan).

Durante uma de suas patrulhas, um estranho acontecimento, chamado apenas de The Calamity, cai sobre a cidade, causando destruição e elevação de diversas de suas regiões ao ar, além de transformar grande parte da população em cinzas. Você, que de alguma forma sobreviveu, fez então o que todos os moradores foram orientados a fazer caso alguma tragédia um dia acontecesse: ir para Bastion, o porto seguro de Caelondia.


Bastion, entretanto, também sofreu as consequências da calamidade. Ao chegar à região, Kid a encontra incompleta e vazia, a não ser por Rucks, um senhor que também sobreviveu (e que é o narrador da história). Sem fornecer muitos detalhes, ele diz que é possível reconstruir Bastion e resolver a situação, mas para isso é necessário que você encontre Cores – núcleos de cristal utilizados no monumento central de Bastion. Cabe a você, então, partir em uma jornada na busca pelos núcleos, bem como por sobreviventes da calamidade, além de tentar entender o que diabos aconteceu.

A história do jogo é contada de uma forma bem interessante, por meio de uma narrativa em tempo real. Conforme você vai avançando, suas ações vão sendo comentadas por Rucks, que também vai fornecendo informações a respeito de cada região para qual você viaja e itens que você encontra, como se ele estivesse contando a história para alguém. Ele até mesmo chega a caçoar de você em certas partes quando, por exemplo, você rola e cai em um buraco. É por meio da narração que a história e o universo por trás do jogo vão sendo revelados. Para os que gostam, é um prato cheio, pois existe um conteúdo bem denso – ao todo, chega-se por volta de 3000 linhas narradas.


O jogo possui uma progressão bem linear, em uma estrutura parecida com fases de um jogo de aventura. Aproveita-se bem do princípio de que Caelondia está fragmentada em pedaços para explicar a maneira como você avança. Através de um mecanismo que te joga para o ar, você vê o mapa e escolhe a região a ser explorada. Isso, entretanto, é limitado, pois novas regiões só vão surgindo à medida que você termina de explorar as anteriores.

Um detalhe chato é o fato de que, assim que você sai de uma região, ela fica marcada com uma estrela e se fecha no mapa, não podendo mais ser visitada (com exceção das áreas de treinamento). O jogo meio que te força a avançar. Cada região tem seu propósito específico na história e, apesar de ser uma forma de fazer com que esta prossiga, isso acaba passando uma sensação de frustração em certos momentos, quando, por exemplo, você sente que se esqueceu de explorar algum canto ou deixou algum item para trás.


As regiões são bem simples, com áreas pequenas e sem muitas ramificações, oferecendo poucas opções de exploração. Você vai gastar cerca de 15 a 20 minutos para finalizar cada uma, à exceção dos momentos finais, mais bem desenvolvidos. Apesar de simples, as lutas contra os inimigos, a bela arte em 2D rica em detalhes e a narração sempre presente contextualizando sua situação, tornam a exploração agradável.

Existem também regiões de treinamento, em que você deve cumprir desafios específicos para cada arma presente no jogo, ganhando alguns itens conforme sua habilidade. Esses são locais que fogem à regra, pois podem ser visitados regularmente para cumprir os desafios. E são bem recomendáveis de se visitar para familiarizar com as armas e os pequenos detalhes que cada uma possui.


Apesar da simplicidade e limitações na exploração mencionados, não se engane: Bastion é um ótimo jogo! E um dos pontos em que ele brilha é no combate. O jogo é um action RPG, com as batalhas acontecendo em tempo real. Os comandos são fáceis de aprender, mas exigem destreza para dominar. Quadrado e círculo servem para usar as armas, R2 realiza um ataque especial, L2 é a defesa com escudo e X, a esquiva. A variedade, tanto das armas quanto das habilidades dos inimigos, torna o combate prazeroso, estimulando a experimentação e respostas rápidas, além de proporcionar momentos de tensão em partes mais avançadas.

Vamos então às armas: você possui um bom conjunto delas, tanto de longo quanto de curto alcance, encontradas conforme avança no jogo. Cada uma tem suas vantagens e desvantagens sobre os diferentes inimigos, e podem ter um ou mais ataques especiais. Apesar da variedade, você pode carregar apenas duas delas e um ataque especial por vez, podendo trocá-los quando volta para Bastion ou em certas áreas. Isso cria um fator surpresa ao ir para uma nova região. Por não saber quais serão os inimigos e desafios a serem enfrentados, sua vida pode ficar mais fácil ou mais difícil, dependendo do conjunto de armas e ataque escolhidos.


As armas podem ser melhoradas utilizando-se itens específicos para cada uma. Estes são encontrados no cenário, recebidos como prêmio nos desafios de treinamento e também podem ser comprados utilizando-se de fragmentos, a “moeda” do jogo. Um fato legal é que cada arma está relacionada com certa profissão dos habitantes de Caelondia. Por exemplo: o martelo Cael Hammer é usado pelos Masons, aqueles que construíram a muralha. É também a arma inicial do protagonista em suas patrulhas.

Existe um problema no mapeamento dos controles, mais especificamente no uso do quadrado. Ele serve tanto para controlar uma das armas quanto para interagir com objetos específicos do cenário. Acontece que, na hora em que as lutas estão tensas, ou até mesmo quando você está simplesmente destruindo tudo o que vê pela frente, você pode acidentalmente acionar um objeto que encerra a fase ou que muda o cenário, fazendo com que a história prossiga e podendo deixar algum item ou colecionável para trás. Uma simples opção de remapear os controles seria bem-vinda.


Kid ganha XP conforme vence lutas e realiza ações específicas, como de costume. O sistema de evolução, entretanto, é um tanto curioso. O personagem vai somente até o nível 10 e, cada vez que sobe de nível, ao invés de receber incrementos nos atributos, é dado a você uma capacidade adicional de ingerir bebidas. As bebidas, chamadas de Spirits, oferecem diversos tipos de bônus que afetam a jogabilidade, como aumento de HP, redução de dano físico, entre outros. As bebidas podem ser alternadas em Bastion e estimulam a experimentação.

O jogo também trata a dificuldade de maneira curiosa. Existe um modo de dificuldade padrão, feito, segundo os desenvolvedores, para ser acessível a qualquer jogador. Contudo, em dado momento do jogo você terá acesso a um santuário, no qual você pode rezar para ídolos de deuses. Cada ídolo adiciona uma nova dificuldade ao jogo, como aumento do ataque dos inimigos, dano ao tocá-los, itens não irão dropar, etc. Em contrapartida, você recebe XP e fragmentos extra, realmente necessários caso você queira evoluir seu personagem e armas ao máximo.


Concluindo Bastion pela primeira vez, habilita dois modos extras de jogo. O primeiro é o New Game Plus, que permite jogar novamente (garanto que você vai querer) com todas as armas e experiências adquiridas, além de adicionar novos itens para aumento da dificuldade e customização do personagem.

O segundo modo é o Score Attack. Neste, você começa um novo jogo e carrega os itens do anterior, porém, seu personagem começa novamente no nível 1. A novidade neste modo é a possibilidade de poder acessar as regiões quantas vezes quiser, tendo seu desempenho avaliado com uma pontuação. Isso inclui uma leaderboard online, para aqueles que gostam de competição.

Vale uma ressalva com relação a começar um novo jogo: você pode escolher apenas um dos dois modos. Seu save é sobrescrito após a escolha, o que não permite arrependimentos. Eu, infelizmente, aprendi isso da pior maneira…


Com relação à arte do jogo, como já mencionado, é tudo muito bem feito e bonito. Acredito que ficará ainda mais bonito na tela OLED do Vita, quando a versão for lançada. O jogo possui visão isométrica, que permite admirar os cenários e sua riqueza de detalhes. Para os que não sabem, a desenvolvedora de Bastion, Supergiant Games, é a mesma de Transistor, sendo Bastion sua primeira cria.

Já com relação à trilha sonora, só tenho elogios. As músicas são agradáveis de ouvir e encaixam bem na temática, trazendo uma mistura de sentimentos de solidão e curiosidade, utilizando bastante do violão. Algumas, inclusive, são belamente cantadas.

Sobre a localização do jogo, fica uma dúvida. O código recebido é da Store americana, e neste havia somente áudio e legendas em inglês. Há a chance de que o jogo esteja com legendas em PT-BR em sua versão na store brasileira, e atualizaremos a análise caso isso se comprove. Caso não tenha localização, é realmente uma pena, pois Bastion tem uma ênfase forte na narrativa e perde-se bastante caso você jogue sem entender sua história.

Por fim, vale mencionar que o jogo será cross-save e cross-buy com a futura versão de Vita. Tal versão, entretanto, ainda não possui data de lançamento.


Veredito

Ainda vale a pena dar uma chance a um jogo lançado em 2011? A resposta é um alto e sonoro SIM. Bastion é um grande jogo feito por um pequeno time. Com um forte apelo narrativo, um combate prazeroso, e formas curiosas de customização de armas e personagem, é um jogo que irá proporcionar muitos momentos de diversão. A provável inexistência de legendas em português, entretanto, tira um pouco de seu brilho.

Jogo analisado com código fornecido pela Supergiant Games.

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90

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