Em sua tradição anual e precisa como um relógio suíço, a Ubisoft nos traz mais um Assassin’s Creed para o final de ano. No entanto, trata-se agpra de algo especial, pois temos o primeiro Assassin’s Creed dedicado à nova leva de consoles: é, portanto, a demo técnica e a base do que virá a ser (possivelmente) o futuro da série. Unity é um bom jogo que traz idéias brutas, porém, promissoras. Mesmo assim, sofre também na parte técnica por ser o primeiro título da série em um hardware novo.
O cenário nos leva à França, na época da Revolução Francesa. O capricho por parte dos desenvolvedores em recriar a época é notável, desde a vestimenta de cada NPC até as principais construções e seus acontecimentos históricos. Vale a pena ressaltar as descrições históricas com comentários humorísticos por parte dos desenvolvedores que ajudam a facilitar a leitura. No entanto, todo esse período histórico serve apenas como pano de fundo para a história principal do título.
Ainda temos a Abstergo e a história nos dias atuais (não entraremos em detalhes sobre ela para não darmos spoilers). Todavia, sua relevância é bem menor, comparando-se com os jogos anteriores. Para exemplificar, em determinados momentos a Animus que "você" está usando para visitar a história de Arno sofre alguns glitches (a história explica isso) e o protagonista é levado momentaneamente para outros períodos históricos. É algo interessante e literalmente quebra a narrativa.
A história principal é focada em Arno e Élise, que procuram vingar-se dos assassinos de seus pais, o que tem como consequência o envolvimento do conflito entre Assassinos e Templários. A história não é particularmente interessante, pois sempre há um planejador mestre por trás de cada evento e esses acontecem em rápida sucessão, sem qualquer impacto. As conversas e flertes entre Arno e Élise tornam os dois mais carismáticos, mas a história não é um dos pontos fortes do título.
No que tange à jogabilidade, Unity é um meio termo entre boas idéias, renovações e frustrações técnicas. O parkour característico da série agora permite mais movimentação – segurando "O" junto com o freerun fará Arno descer, enquanto o "X" fará com que ele suba ou pule, tudo de maneira bastante ágil. As animações continuam espetaculares, inclusive com novas adições, muito bem-vindas, considerando que víamos as mesmas desde sempre.
Como esta análise foi escrita por duas pessoas, sobre alguns elementos haverá discordância – e chegamos ao primeiro deles: o Luis acha que os comandos continuam imprecisos, o que pode resultar em momentos de frustração; já o Ivan pensa que a opção de guiar Arno para cima ou para baixo em seu caminho de parkour foi uma ótima adição, melhorando em muito a jogabilidade da série.
No combate, Arno tem várias armas à disposição, cada uma com um estilo diferente de jogo, além de contar com uma variedade de bombas e projéteis. Por outro lado, Arno não é super resistente a cortes e tiros, e os inimigos também deixaram de ter uma inteligência artificial burra. Portanto, em uma luta com três ou mais inimigos, há um risco real de morte ou a impossibilidade de se utilizar muitos itens de cura. O combate depende bastante do tempo para contra-ataques e saber utilizar os itens na hora certa, também não sendo incomum a existência de cenários em que você está cercado por 30 inimigos e a melhor opção será fugir. Infelizmente, o combate é afetado por ocasionais quedas de framerate, principalmente quando há muitos NPCs na tela.
As missões são as que melhor demonstram o potencial para futuros títulos da série e seus problemas atuais. As principais ainda consistem em assassinar fulano e seguir cicrano; no entanto, os assassinatos são tratados como fases maiores e com múltiplos caminhos, estratégias e objetivos opcionais a serem realizados. Esses objetivos opcionais normalmente pedem que você crie alguma distração, como uma fuga de prisioneiros ou queimar uma torre de vigia, mas também podem criar oportunidades para assassinar o alvo de maneira diferente, como envenenar o vinho. Isso leva a uma diversidade maior nessas missões e é algo que esperamos ver em títulos futuros da série.
Já as missões alternativas são o conjunto de idéias interessantes e brutas do jogo. Há as missões cooperativas online, missões de investigação criminal, enigmas, distorções temporais, etc. De todas as missões, as distorções temporais são as que mais chamam a atenção. Como dito anteriormente, em momentos da história a simulação do Animus sofre alguns problemas e o jogador é teleportado para um momento diferente daquele da história. Os cenários escolhidos são interessantes por si só, mas o foco na jogabilidade plataforma nessas pequenas fases torna-as bastante gratificantes quando completadas, sendo ainda possível retornar a elas para um pequeno mini-game, no qual se deve recolher pontos em um tempo limitado. Isso logo se torna bastante viciante, caso você tente atingir as pontuações mais altas possíveis.
Há ainda as missões cooperativas em Unity. O modo multiplayer competitivo, presente desde Brotherhood, é substituído por esta nova opção. Tais missões estão localizadas no mapa e você as realiza da mesma forma como no single-player, mas com outras pessoas ajudando-o a completar o objetivo. Cada jogador se vê como Arno e as missões propriamente dita são divididas em dois diferentes tipos: cooperativo ou investigação. O primeiro caso coloca os jogadores em algum tipo de atividade, como seguir alguém até algum lugar, roubar algo, assassinar uma pessoa, etc. Já o tipo investigação é mais simples: vá para um lugar e pegue o item da missão.
Se um jogador morrer durante uma missão cooperativa, é possível que outro jogador o ressuscite. Nessas missões, se todos morrerem, todos renascem no checkpoint mais próximo. Já nas de assalto, se um morrer, a missão inteira falha e será necessário começá-la do zero.
As missões online funcionam quase como um modo separado e é bastante satisfatório você conseguir coordenar uma sequência de assassinatos para que o time não seja visto ao se infiltrar em uma base inimiga. Porém, encontrar as pistas e o verdadeiro culpado é algo bastante simples e esperamos ver esses tipos de missão melhor realizadas em jogos futuros.
Para o multiplayer (e também o single, mas em menos intensidade), você precisará evoluir Arno de várias maneiras. Primeiramente, temos o seu equipamento, dividido em diversas categorias: cabeça, braços, pernas, armas, etc. Você evolui cada parte comprando itens, como sempre o foi na série. Do mesmo modo, você ganha dinheiro com missões e investindo em infraestrutura da cidade. Uma diferença neste jogo é que há equipamentos que só destravam após completar determinadas missões, além de alguns em que é necessário completar ações no aplicativo do jogo desenvolvido para tablets/smartphones. Os equipamentos em uso podem ser melhorados com pontos Creed, que são obtidos realizando ações de assassino, como matar pessoas estando escondido. Há ainda outro sistema de pontos: os Sync, que são obtidos ao completar missões da história e cooperativas, sendo usados para destravar habilidades como a visão de águia, mais vida, etc. Toda essa evolução acontece naturalmente no modo história, mas se você quer participar das missões cooperativas o quanto antes, terá que ter paciência e evoluir primeiro para não passar vergonha na frente de seus amigos.
Muito já foi noticiado e discutido sobre os problemas técnicos de Unity, mas o leitor precisa se atentar que são poucos os efetivamente problemáticos. Sem dúvida, não é nada imersivo ver um NPC aleatório andando entre as paredes, subindo em caixas com um passo ou sendo arremessado para a estratosfera devido a um erro de colisão – mas esses casos não influenciam diretamente a jogabilidade com o jogador. Devido ao número de NPCs na tela (são muitos) há vários problemas de pop-up de texturas e instabilidade na taxa de quadros do jogo, tornando-se algo problemático em alguns cenários. Em outros momentos, a colisão do jogo falha e Arno estará escalando construções invisíveis ou ficará estranhamente apegado à geometria da cidade. Em cutscenes, você poderá acabar notando que um personagem tem poderes psíquicos e consegue levar o livro com sua força jedi, por exemplo. Tecnicamente falando, o jogo tem toda variedade de bugs possível, porém, novamente, são poucos os que afetarão o gameplay propriamente dito. Não há nenhum bug que trave o jogo ou impeça o seu progresso, ainda mais considerando os patches já lançados e os que estão a caminho.
Veredito
Finalizando, Unity é o Assassin’s Creed com o qual você já está familiarizado, com uma nova camada de pintura e algumas idéias brutas enterradas como missões opcionais. Serve efetivamente como uma janela do que poderemos esperar futuramente da série e da Ubisoft nos próximos anos, mas no momento seu brilho será ofuscado por outros lançamentos deste fim de ano.
Jogo analisado com cópia digital adquirida e com cópia física fornecida pela Ubisoft Brasil.