Assassin’s Creed (AC) Brotherhood é um jogo com duplo desafio. Além de ter a dura missão de oferecer algo novo e bom em relação ao fantástico AC II, lançado há 1 ano, ele é um jogo que já nasce com um certo preconceito por parte dos fãs devido à existência de um componente Multiplayer que, temíamos, fosse diluir a sensacional história da série AC e transformá-la em um caça-níqueis. Fiquem tranquilos. Brotherhood não tem uma campanha mais fraca, o Multiplayer é original, divertido e acrescenta em muito à série, e como se não bastasse, o jogo ainda corrige os pontos fracos de ACII.
Vamos recapitular um pouco. O primeiro AC, lançado em 2007, era um jogo com proposta inovadora executado de forma bem falha. O enredo excelente, que colocava o jogador como Desmond Miles vivendo seu antepassado Altair Ibn-Lahad, era atrapalhado por horas e horas de mini-missões tediosas e combate chato que intercalavam suas partes boas. Ainda assim, os momentos de Free-Run (ou Parkour, como queiram), heranças da trilogia Sands of Time, eram únicos e empolgantes. ACII veio em 2009, com o novo protagonista Ezio Auditore da Firenze, e modificou o sistema de jogo para um modo de missões a lá Grand Theft Auto. O combate ainda era a parte mais problemática, mas é inegável que ACII se tratava uma evolução fortíssima em relação ao primeiro jogo, e cadidato de peso a vários prêmio de Game of the Year.
Todos os AC possuem duas tramas: a trama-mestra, de Desmond, e trama central, do antepassado. No final de ACII, Ezio conseguiu acesso à câmara de Minerva, e agiu como uma espécie de "Profeta", passando a mensagem de Minerva a Desmond, que sincronizava sua vida com a do assassino italiano através do Animus. Entretanto, o motivo principal de Desmond ter encarnado Ezio, a procura dos poderosos artefatos conhecidos como "Pieces of Eden" (PoE), não foi resolvido – Desmond ficou apenas sabendo que Ezio tomara posse de um deles, e aí acabava ACII. Brotherhood coloca o jogador novamente no papel de Ezio, e continua do exato momento em que ACII parou. Ezio resolvera poupar o líder dos templários, Rodrigo Borgia (Papa Alexandre VI), e dedicar o resto de sua vida à procura dos outros PoE. Claro, nem tudo sai como planejado. Ezio volta para casa, mas sua Vila em Monteriggioni é brutalmente atacada pelo filho de Rodrigo, Cesare Borgia, comandante dos Cavaleiros Papais e então "de facto" líder dos Templários. O Assassino sai então à caça do Templário, e a trama nos leva a Roma, a principal cidade do jogo – embora você possa acessar algumas outras em missões específicas.
Enquanto isso, no presente, Desmond, Lucy, Shaun e Rebecca se abrigam em Monteriggioni para ativar novamente o Animus e colocar Desmond de volta à vida de Ezio, para descobrir a localização dos PoE. A trama de AC sempre se manteve madura e instigante, e Brotherhood não é diferente. Assim como Metal Gear Solid 3: Snake Eater e Call of Duty: Black Ops, a linha que separa a ficção da realidade em Brotherhood é bem tênue, de modo que muitas vezes você lê ou vê algo no jogo que o deixará pensando "mas isso aconteceu mesmo ou é invenção do jogo?". Muitos de nós temíamos que o Single Player ficasse descuidado com o pouco intervalo entre ACII e Brotherhood, mas a trama segue um ritmo muito bom e continua tão interessante quanto antes. O número de figuras históricas continua grande (Lucrezia Borgia, Maquiavel, Da Vinci, Barão de Valois e muitos outros) e a trama parece mais concisa que em ACII, evitando momentos forçados ou fora de contexto.
Do lado do Gameplay, a maior, mais importante e mais bem-vinda mudança na série é o combate. AC sempre possuiu um combate um tanto quanto realista e altamente dependente de contra-ataques, e isso resultava em um combate tedioso. Em Brotherhood, o grosso do combate ainda é o mesmo, mas uma simples adição faz toda a diferença: os Killstreaks. Não, não tem nada a ver com Tactical Nukes ou RCXD. Em Brotherhood, ao eliminar o inimigo com uma execução (seja por contra-ataque ou por acertá-lo repetidas vezes), você pode apontar o analógico esquerdo para outro inimigo próximo e apertar o botão de ataque para Ezio executá-lo imediatamente, e repetir quantas vezes for necessário. Além de ser visualmente ótimo – Ezio lembra até mesmo o Batman visto em Arkham Asylum -, esses Killstreaks tornam o combate mais rápido e, principlamente, muito mais divertido. A quantidade de execuções diferentes com cada arma deixa tudo ainda melhor. Outras novidades incluem os dardos de veneno e a Besta (Crossbow), que ajudam em muito nas seções de Stealth.
A segunda grande novidade é a possibilidade de refazer a Irmandade de Assassinos. Ezio reconhece que não será capaz de eliminar sozinho o domínio que a família Borgia tem sobre Roma, e o jogador poderá recrutar alguns cidadãos de Roma para sua Guilda. Ao recrutar alguém, o novato estará no nível 1 e possuirá apenas o equipamento mais básico. O jogador terá, então, a possibilidade de chamar seus companheiros para ajudar em situações difíceis ou enviá-los em missões para adquirir experiência e dinheiro (muito mais usado aqui que em ACII). Tudo é feito através de uma interface bem simples, e é divertido evoluir seus aliados de novatos a máquinas de matar.
Outra bela adição ao Gameplay são os desafios específicos das missões. Para se conseguir 100% de sincronização em qualquer memória, existem condições impostas pelo jogo que devem ser cumpridas, como não matar ninguém ou eliminar o alvo de uma determinada forma. É uma maneira muito bacana de chamar a atenção do jogador para a amplitude de possibilidades do jogo, mas não é de forma alguma necessária para se completar o jogo. Andar a cavalo sofreu uma leve mudança também: agora, quando dentro das cidades, o jogador tem a opção de ficar em pé na sela, podendo pular de um cavalo para outro e fazer mortes visualmente espetaculares. As outras mecânicas não apresentam grandes novidades e o Free-Run continua tão bom quanto antes, e quem jogou qualquer AC anteriormente estará em casa, tanto no Single Player quanto no Multi.
O Multiplayer de Brotherhood é, em uma palavra, espetacular. Fazendo as vezes de agentes da Abstergo (atual fachada dos Templários), o jogador adentra o Animus para adquirir experiência no que concerne os métodos dos Assassinos. A mecânica é única, mas aplicada de forma diferente aos modos de jogo. Quando a partida começa, cada jogador recebe um outro jogador como alvo. Seguindo um radar bem intuitivo, posicionado no centro inferior da tela, o jogador deve rastrear esse alvo e matá-lo da forma mais silenciosa ou difícil que conseguir, ganhando pontos pela morte e recebendo, a seguir, outro alvo. O problema é que, como as partidas ocorrem em áreas abertas, existem vários NPC que possuem exatamente a mesma skin dos jogadores, e caso o jogador elimine alguém que não seja seu alvo, ele perderá pontos e receberá outro alvo. O jogador sendo caçado, então, tem que usar o ambiente da melhor forma possível, mesclando-se aos grandes grupos e agindo de forma a não chamar atenção (nenhum NPC corre, por exemplo). O assassino, por sua vez, também tem que ser discreto ao perseguir sua presa, de forma a não chamar sua atenção e iniciar uma sequência de fuga. É, basicamente, um jogo de gato e rato, em que cada jogador é ambos ao mesmo tempo.
Essa mecânica do Multiplayer é aplicada a 4 modos de jogos: Wanted e Advanced Wanted são "Free-For-All", em que todos podem ser alvos e caçadores ao mesmo tempo, diferindo-se no fato que Advanced Wanted não possui um radar tão preciso. Manhunt é uma espécie de Team Deathmatch, com dois grupos de 4 jogadores cada, que se alternam em dois rounds de 5 minutos como caçadores ou presas. Por fim, Alliance é um Deathmatch de 4 times com 2 jogadores cada, em que cada grupo recebe outro como alvo, mas é presa de um terceiro. Todos os modos de jogo são divertidíssimos e encorajam jogar de forma mais inteligente, aplicando muito bem o que fazemos no Single Player. Alliance, se jogado com um bom parceiro e com Headset, é diversão garantida por horas a fio.
Os gráficos de Brotherhood são construídos na mesma engine de ACII, mas a versão PS3 recebeu uma melhoria considerável em relação ao jogo do ano passado, especialmente no que diz respeito a luz e sombra. Roma é a maior cidade de todos os AC, e é tão impressionante em seu visual e variedade quanto em sua escala. Os lugares históricos estão praticamente todos lá e muito bem detalhados, com o Castelo Sant’Angelo e o Coliseu recebendo méritos especiais por suas reproduções extremamente fiéis. Os pequenos defeitos de frame-rate de ACII também se foram, fazendo Brotherhood muito mais fluído. As músicas e a dublagem dispensam comentários e seguem o altísismo padrão de qualidade da série. A dublagem, em especial, é excelente em qualquer língua que você escolha jogar.
O que há, então, para criticar em Brotherhood? Sendo bem sincero: nada. Fãs da série podem chiar que Brotherhood é um caça-níqueis que marca o início da anualização – e subsequente decaimento de qualidade – da franquia, ou que ele oferece pouca inovação em relação a ACII. A primeira afirmação é injusta. Quem dera todos os caça-níqueis tivessem o esmero colocado em Brotherhood, e mesmo que se trate do início de um AC anual, Brotherhood responde apenas pela sua própria qualidade – que espero já estar bem clara a esta altura da análise. A segunda afirmação é simplesmente uma inverdade. O Multiplayer de Brotherhood sozinho vale a compra do jogo em seu preço "full-retail". A história segue ótima, mostra mais da trama-mestra do que o próprio ACII e continua em um rumo excelente, enquanto as melhorias do combate são amplas demais para ignorar, e oferecem muito mais dinamismo ao jogo. Pode-se argumentar que o cenário renascentista de AC está, agora, definitivamente esgotado, e acredito que toda a comunidade espera que o próximo AC seja numerado, em uma nova era e com um novo protagonista – mas, de novo, Brotherhood responde apenas pelo seu próprio conteúdo.
Conteúdo, aliás, não falta em Brotherhood. Se você seguir apenas as missões primárias, o jogo deve demorar cerca de 12 horas – e sua taxa de sincronização com Ezio não será nem de 50%. Existem memórias específicas das Guildas, contratos de assassinato, memórias de Cristina, Templos de Romulus, as máquinas de Da Vinci, Viewpoints, as Torres de Borgia, Subject 16… ACII já possuía muito o que fazer, e Brotherhood não fica atrás. O Single Player possui 9 sequências contra 12 de AC II, mas não se engane: platinar ACII era trabalho para mais ou menos 25 horas, enquanto que em Brotherhood, conseguir todos os troféus do Single Player demora cerca de 20 horas – nada mal para um jogo que ainda tem um ótimo componente Multiplayer para manter o jogador ocupado.
O conjunto de Brotherhood é fora de série. Poucos são os jogos que conseguem acrescentar um modo Multiplayer sem fraquejar em sua campanha. Brotherhood vai além, corrigindo os defeitos de ACII e fornecendo um Multiplayer extremamente original e divertido. Se você já olhou a recomendação, pode ficar até mesmo um tanto surpreso – afinal, recomendar qualquer jogo na ps3brasil com 100% é equipará-lo ao soberbo Uncharted 2: Among Thieves. Não há nada a temer: Brotherhood é merecedor de tal incumbência como poucos. Nulla è reale, tutto è lecito.
Outra opinião – Ivan Nikolai Barkow Castilho
O primeiro Assassin’s Creed foi um título que mostrou potencial, mas que não foi bem aproveitado. Já o segundo é um jogo sensacional, com uma variedade nas missões e lugares incrivelmente detalhados. Brotherhood segue exatamente o segundo de onde ele parou e continua, por incrível que pareça e em apenas um ano de desenvolvimento, incrível.
A ambientação de Assassin’s Creed: Brotherhood é algo que impressiona qualquer jogador com a riqueza de detalhes e fidelidade. As missões são bastante variadas, há inúmeras coisas a serem feitas (bandeiras e penas a serem coletadas são apenas a ponta do iceberg) e o modo multiplayer é uma adição interessante, que só vem para deixar o game 110% completo.
Todo jogador deveria conferir essa franquia a partir do segundo jogo. O único problema de Brotherhood é que, ao contrário de AC II, quem não jogou o anterior, terá problemas em entender a história. Mas jogue ambos, garanto que não se arrependerá.