O cenário brasileiro de desenvolvimento de jogos tem recebido cada vez mais visibilidade ao longo das gerações, com jogos como Horizon Chase Turbo, Dandara, No Heroes Here, Chroma Squad e Blazing Chrome que entregam jogabilidades divertidas e qualidade acima da média. Eles são a prova de que com muito trabalho e dedicação é possível que estúdios pequenos alcancem novos patamares e se equiparem aos trabalhos de grandes desenvolvedores pelo mundo. No cenário de realidade virtual não é diferente e inclusive tivemos o excelente Pixel Ripped 1989, que está com uma sequência em produção pela Arvore Immersive. Tendo em vista tantos sucessos vindos de dentro do nosso país, nada parecia impedir que Vigilante Ranger se tornasse um grande hit dentre os títulos disponíveis para o PlayStation VR. Infelizmente, não foi bem o caso que presenciamos aqui.
Vigilante Ranger é um jogo de “tower defense” desenvolvido pela Sinergia Studio, sendo seu primeiro projeto como estúdio e lançado diretamente para o PlayStation VR. O título se passa em um universo fictício bastante inspirado em O Exterminador do Futuro em que as máquinas se voltaram contra a humanidade instaurando uma nova ordem mundial. Infelizmente, não crie expectativas para com o enredo, uma vez que este é apenas um pano de fundo contado através de uma breve cutscene ao início da experiência, não sendo mais trabalhado em nenhum outro ponto do jogo. Ao finalizar o título não há nem se quer uma cena que sirva como desfecho para narrativa que foi apresentada, colocando em questão a necessidade da existência desta última.
Em seu conceito, Vigilant Ranger já apresenta problemas em relação a forma com a qual é apresentado, uma vez que seus desenvolvedores o classificam como um tower defense, quando esse na realidade não o é. Para clarificar, primeiro precisamos rever os elementos que compõe o gênero, e o tornam o que ele é. De maneira resumida, podemos dizer que jogos de tower defense se baseiam em defender uma área ou objeto de variadas hordas inimigas com o auxílio de torres armadas construídas pelo jogador. Apesar de parecer simples, o gênero esconde por trás de si uma alta complexidade, ao combinar estratégia em tempo real e administração de recursos que criam uma curva de dificuldade interessante quando o conceito é bem implementado como o visto em Plants vs. Zombies ou Defense Grid.
Tomando como base o que foi apresentado, olhemos agora para a jogabilidade entregue em Vigilante Ranger. O título coloca o jogador em uma visão de primeira pessoa, na qual ele deverá fazer uso de diversas armas para mirar e atacar hordas inimigas no objetivo de defender a sua base. O cenário e estrutura aqui apresentados são os de um shooter arcade, muito próximo de títulos como Heavy Fire: Red Shadow e Blasters of the Universe, com a diferença que os inimigos não atacam o jogador.
A pequena confusão a respeito do gênero de Vigilante Ranger em si poderia não ser um problema, mas infelizmente não é esse o caso. O game design é muito prejudicado ao tentar-se construir uma experiência de tower defense, partindo de um first-person shooter, pois o título não exige nenhum tipo de estratégia ou administração por parte do jogador para eliminar os inimigos. Com isso, temos um gameplay raso, monótono e incrivelmente tedioso ao longo de todas as fases apresentadas.
O jogo possui cerca de 12 estágios distribuídos ao longo de 4 regiões específicas, que podem ser selecionadas a partir do menu de seleção de missões. Apesar de cada região apresentar um bioma diferente, elas não apresentam nenhum recurso que possa afetar diretamente a dificuldade, sendo algo puramente estético que não adiciona nada a experiência. Dentro de cada estágio haverão pequenas torres distribuídas ao longo do mapa, de onde o jogador poderá atacar os inimigos. Caso deseje ir para um ponto mais estratégico, basta olhar para uma outra torre posicionada no local desejado e você automaticamente será teleportado para ela. Isso acabou se tornando um problema, já que é bastante comum que o jogador teleporte acidentalmente enquanto mira nos inimigos.
O título dispõe de um arsenal composto de 6 armas com atributos distintos, que podem ser melhoradas com os pontos obtidos em cada uma das fases do jogo. Infelizmente, não é possível utilizá-las ao nosso bel-prazer, uma vez que cada cenário tem armas específicas que podem ser usadas (não é possível saber quais podem ser utilizadas a menos que se entre na missão). Além disso, cada torre disposta no mapa só comporta um único armamento pré-definido pelo game, limitando que o jogador fique em um único local caso queira usar uma arma que esteja melhor adaptado.
A decisão por limitar as armas que podem ser utilizadas em cada fase(e os locais em que podem ser usadas dentro delas), retiram toda a diversão do sistema de upgrades. Não há sentido que o jogador melhore os equipamentos que mais tenha afinidade se ele não sabe se poderá utilizá-los para início de conversa. Além disso, algumas armas não funcionam como deveriam, devido a problemas de colisão com os projéteis disparados. Por exemplo, o lança-granada é uma arma extremamente útil para controle de grupo devido a sua eficácia em causar dano de área, porém diversas vezes os projéteis atravessam o cenário ao invés de explodir ao contato com ele.
Outro grande problema presente em Vigilante Ranger são os seus péssimos controles. Pode-se utilizar um único PlayStation Move para se aproveitar o título, porém o uso deste é problemático. Com o uso do PS Move podemos mirar como se estivéssemos segurando a arma em nossas mãos, porém o jogo sofre devido a sua imprecisa captura de movimento. A arma não responde aos comandos com exatidão e o posicionamento dela em relação ao controle em nossas mãos é errônea(a arma em si flutua a cerca de 1 metro em relação da mão que segura o PlayStation Move). É quase impossível não se incomodar com os controles ao longo da experiência, quebrando totalmente a imersão do título.
Em relação a curva de dificuldade, Vigilante Ranger não oferece quase nenhum desafio ao jogador. Em certos estágios basta mirar em um único ponto e segurar o botão de disparo, para que se elimine quaisquer inimigos que aparecerem. Não há incentivo para que se mantenha a vida de nossa base intacta, uma vez que não existem recompensas além de pontos para se melhorar as armas disponíveis. O mesmo se aplica aos objetivos opcionais dentro dos estágios que oferecem só algumas dezenas de pontos adicionais se cumpridos.
Os inimigos são praticamente os mesmos ao longo de todo o jogo, variando apenas em velocidade, resistência e número. Com base na missão escolhida eles podem vir por mais de uma única rota, porém não há muita dificuldade em se lidar com eles. O jogo ainda tenta inserir batalhas contra chefes, que destoam completamente de sua proposta inicial e certamente são o ponto mais baixo oferecido pelo título. Nesses confrontos somos jogados em uma grande arena com algumas armas disponíveis que devem ser utilizadas para se eliminar o chefe que funciona como uma grande esponja de tiros. Não há estratégia ou dificuldade aqui, sendo necessário apenas alternar entre os pontos do cenário para evitar que o chefe possa acertar o jogador.
Graficamente o jogo é bastante pobre, com cenários pouco detalhados e texturas relativamente simples. Há alguns problemas com os efeitos de iluminação emitidos por algumas armas, que podem ser prejudiciais para aqueles que possuem fotossensibilidade. O design de interface carece de ajustes, uma vez que os itens do menu, como fonte e botões, são muito pequenos para se selecionar com o cursor. Sua trilha sonora é esquecível, se resumindo a uma única música que toca incessantemente ao longo de todos os estágio, com exceção da música do último estágio.
Jogo analisado no PS4 padrão com código fornecido pela Sinergia Studios.
Veredito
Infelizmente, Vigilante Ranger é um exemplo de jogo que não sabe direito o que deseja ser e que acabou tendo sua experiência totalmente destruída por isso. Entretanto, isso não quer dizer que coisas boas não possam sair de sua desenvolvedora. Espero que eles aprendam com esse pequeno erro e sigam de cabeça erguida rumo ao que pode ser um grande sucesso.
Veredict
Unfortunately Vigilante Ranger is an example of a game that doesn’t quite know what it wants to be and ends up having its experience totally destroyed by that. However, this does not mean that good things cannot come from this studio. I hope they learn from this little mistake and go head-on into what can be a great success.