Ao longo dos anos, a série Pro Evolution Soccer se tornou sinônimo da relação contenciosa que jogadores e desenvolvedores muitas vezes tem. Seja quando ainda se chamava Winning Eleven ou com o atual relançamento como eFootball PES 2020, poucos jogos de esporte tentam tanto mudar e melhorar e encontram resultados tão variados quanto ela.
Salvo por alguns pequenos deslizes e passos em falso ao longo dos anos, PES tem mantido uma consistência na qualidade do jogo dentro do campo, algo que se repete com essa edição. O ritmo do jogo ainda é mais lento do que o da concorrência, se focando mais em simular o jogo com a maior similaridade possível do que colocar as partidas em um ritmo de ação frenética.
Como se esperaria de qualquer partida de um dos grandes campeonatos do mundo, posicionamento dos jogadores, as escolhas táticas feitas antes e durante os 90 minutos e saber explorar os espaços e o timing de cada ação são fundamentais para sair vitorioso de campo, dependendo-se menos das estatísticas de cada jogador do time e mais das habilidades da pessoa por trás do controle.
Um importante reflexo disso é o quanto a inteligência artificial dos demais jogadores em campo se adapta e reflete ao estilo de quem os controla. Como acontece na vida real, cada um dos outros 10 membros da equipe reage a quem está com a bola, tomando decisões que melhor se encaixam ao momento do jogo naquele determinado ponto, sendo bastante raros os momentos em que não há diferentes formas de como lidar com a situação.
Para tornar o leque de opções do jogador ainda mais rico, uma das grandes adições deste ano foi a inclusão dos dribles de “finesse”, novo sistema que dá ao jogador formas maior controle sobre os movimentos, resultando em mais liberdade e efetividade na hora de criar espaços ou passar por defensores. A profundidade das opções que esse sistema traz é impressionante e demanda séria dedicação para aprender, mas é bastante recompensadora quando funciona.
Com esse refinamento da forma como os dribles funcionam, os chutes também foram afetados, se tornando mais sensíveis ao contexto e posicionamento do corpo do jogador em relação tanto a bola quanto ao gol, reduzindo ainda mais a efetividade de se simplesmente correr e chutar sem pensar direito no que se está fazendo, uma evolução natural do que já vinha sendo feito nas edições anteriores e que agora tenha o efeito de simulação que a Konami parece ter em mente.
Naturalmente, isso só funciona porque a física do jogo melhorou bastante ao longo dos anos, estando há quilômetros de distância da época em que tudo flutuava e mal era possível implementar chuva no jogo sem quebrá-lo completamente. A bola realmente parece um item separado, nunca estando presa aos pés de um jogador, algo que torna qualquer dividida ou contato entre os jogadores mais naturais, algo possível graças a sérias melhorias nas animações.
Com esses ajustes no campo, é quase impossível sentir que qualquer coisa no jogo é automático. Passes, lançamentos, cruzamentos e chutes precisam ser efetivamente planejados ou toda a ação ofensiva vai por água abaixo e em momento algum parece que há um sistema de “travamento automático” dos passes e cruzamentos, fazendo com que o jogo em si flua como se esperaria de uma partida de futebol real.
Isso acaba tornando PES 2020 talvez o melhor simulador dentro de campo já lançado, exatamente por exigir que o jogador pense e reaja ao invés de simplesmente aprender algumas “manhas” e aplicá-las incessantemente como costumava ocorrer em edições passadas da série, sendo um jogo muito mais recompensador para quem estiver disposto a entender e aprender as minúcias das mecânicas que o jogo apresenta.
Ainda existem sérios problemas com juízes que não marcam faltas claras e punem faltas contestáveis exageradamente, a inteligência artificial simplesmente esquecendo como se defende e goleiros fazendo defesas impossíveis simplesmente para terem apagões bizarros na jogada seguinte. Ainda há muito a ser melhorado aqui e, se não chega a destruir a experiência, ainda é um incômodo considerável.
Como sempre, ao mesmo tempo em que costuma fazer valer o investimento dentro de campo, a série volta a deixar a desejar fora dele. Os problemas e restrições com licenças já são algo conhecido há muito tempo pelos fãs da série e não vale a pena bater nesse ponto todos os anos. Talvez o maior problema para os jogadores brasileiros seja o quão desatualizados os times daqui estão, algo que não afeta tanto os times internacionais.
Por melhor que seja poder contar com os uniformes oficiais dos times, os nomes dos jogadores estão corretos e existem ferramentas disponíveis através do modo de edição para se resolver o restante. É claro, não é o ideal e pode gerar alguma frustração pros jogadores que só querem pegar o controle e partir pro campo, mas pelo menos existe alguma forma de se resolver sem depender tanto da desenvolvedora.
Outro problema do jogo e que não pode ser resolvido pelos jogadores está nos seus modos de jogo. Ao longo da divulgação da edição desse ano, a Konami fez questão de pontuar o quanto foi feito de investimento em revitalizar a tão popular Master League. A inclusão de cutscenes dinâmicas dá um ar de refinamento maior ao modo, mas parece só um floreio para tentar colocar o jogo no mesmo patamar que outros jogos de esporte, sendo que existem outros pontos mais importantes a serem corrigidos.
O modo em si talvez seja o melhor dos que o jogo traz, mesmo com a estranha escolha de te forçar a escolher uma lenda como seu avatar, acabando com a opção de criação do seu próprio técnico. A ML traz uma gama de sistemas e opções para o jogador bem impressionantes, com o sistema de transferências e salários funcionando muito melhor dessa vez (mesmo que os times adversários ainda tomem decisões bizarras no mercado), além todo tipo de dados analíticos e informações gerais dos jogadores para te permitir tomar as melhores decisões.
É claro, seria muito melhor acessar essas informações se a interface do jogo não fosse uma série de menus estranhamente estabelecidos, escondendo informações que deveriam estar mais claras dentro de opções que você nunca cogitaria acessar. É uma sensação que os jogadores de jogos de gerenciamento como Football Manager vão conhecer muito bem, mas que ainda são especialmente frustrantes aqui, ainda mais por se estar usando um controle.
Se você quer algo relativamente mais simples, as outras opções existentes são o Become a Legend, o modo carreira obrigatório de jogos de esporte, mas muito mais básico aqui do que nos concorrentes, não havendo nada de muito especial nele, e o MyClub, a resposta do PES para os Ultimate Team da EA, que funciona muito melhor do que na concorrente.
O MC funciona como nos anos anteriores, sendo necessário usar olheiros para adquirir jogadores, se preocupar com a química entre os jogadores, contratos e tudo o mais que vem com esses modos. É relativamente fácil se ter um time bom, mas, como parece ser obrigatório, a incorporação de microtransações aqui é bastante incômoda, passando a sensação de se estar sempre forçando o jogador a usá-las para ter acesso às estrelas necessárias para se competir online.
A questão das microtransações se torna ainda mais notável pela enorme ênfase que o jogo coloca nas lendas do esporte, constantemente tentando te convencer a gastar um pouco para se adquirir a mais nova estrela dos anos 80/90/2000 para fazer parte do seu time dos sonhos. É claro que é tentador montar um time com Maradona, Ronaldinho Gaúcho, Messi e Cruyff, mas isso acaba dependendo muito de sorte ou gastos além do preço do jogo base.
Falando das partidas online, seja no MC ou em amistosos, é que tá um dos maiores pontos fracos do PES 2020. A ausência de servidores dedicados é notório e as vezes torna muito difícil conseguir jogar uma partida. Isso se tornou um pouco menos comum recentemente, mas ainda existem horários em que o tempo de espera entre uma partida e outra é maior do que o ideal e em que problemas de conexão são constantes.
No geral, a decisão do jogador quanto a se eFootball PES 2020 é o jogo certo para ele depende da sua prioridade. Os problemas aparecem nas questões acessórias, como licenças, a demora pra atualizar os elencos, o funcionamento dos modos de jogo, netcode, interface de usuário problemática… Mas, se a prioridade é o jogo dentro do campo, é incontestável o quão fantasticamente bem o jogo simula a sensação de uma partida de futebol e isso torna todo o resto tolerável.
Veredito
A iteração mais recente da série é um acerto digno do legado que ela carrega consigo, mesmo que alguns dos problemas que a vem afetando voltem a aparecer. Os modos e opções ainda estão abaixo da concorrência, mas, dentro do campo, eFootball PES 2020 é imbatível.
Jogo analisado no PS4 padrão com cópia digital fornecida pela Konami.
Veredito
Veredict
The latest iteration of the series is a hit worthy of its legacy, even if some of the problems that have been affecting it are back. The modes and options are still behind its competition, but, inside the pitch, eFootball PES 2020 is unbeatable.