Throne and Liberty – Review

A entrada da Amazon no mercado de games foi relativamente gradativa, mas inegavelmente planejada. Em uma indústria cada vez mais competitiva e no qual o sucesso de uma grande publisher não é mais tão garantido quanto já fora anteriormente, até mesmo uma das maiores empresas do mundo precisou caminhar passo a passo antes de pular de cabeça dentro do imprevisível.

Uma forma de se minimizar os riscos envolvidos em um grande projeto como os apresentados pela Amazon Games é trabalhar com equipes de talentosos desenvolvedores e, considerando o foco dado a jogos online, especialmente MMORPGs nesse primeiro momento, ninguém melhor para se trabalhar em conjunto do que a NCSoft, a desenvolvedora Sul Coreana responsável por dois dos maiores MMORPGs de todos os tempos: Lienage e Guild Wars.

Throne and Liberty, primeiro jogo dessa parceria, é fruto de um longo processo de desenvolvimento e polimento. Originalmente planejado como parte da série Lineage, o jogo passou pelo seu primeiro beta em 2016, finalmente recebendo o seu nome oficial em 2022 e sendo lançado exclusivamente na Coréia do Sul em 2023 pela própria desenvolvedora, chegando agora ao restante do planeta através da Amazon Games e, ao contrário de outros jogos da publisher, optou por um modelo free-to-play, tornando-o mais acessível em todas as plataformas.

Esse processo de polimento que o jogo passou é um excelente sinal do que os jogadores em servidores globais estão recebendo. Mesmo ainda estando dando seus primeiros passos, Throne and Liberty é um jogo surpreendentemente sólido, com um foco em sua narrativa um tanto quanto raro dentro do gênero, mas sem abandonar totalmente os elementos que tornam a NCSoft uma das principais desenvolvedoras de MMORPGs do mundo.

Ambientado no mundo de Solisium, o jogador assume o papel de um guerreiro que, quando mais jovem, presenciou um ataque a sua vila e, sem saber, acabou sendo o recipiente de um fragmento de estrela. Ao começar a perder o controle da mana em seu corpo, cabe a você então partir em uma jornada para não só controlar essas crises, mas, eventualmente, buscar coletar todos os fragmentos da Estrela de Sylaveth espalhados ao redor do mundo.

A história em si não é nada de extremamente especial ou marcante, mas é um tanto acima da média para um MMORPG. Muito disso se dá pela quantidade e qualidade das cutscenes existentes no jogo, com uma qualidade visual bem impressionante para elas, com efeitos, jogos de câmera e muito mais que ajudam a aumentar a imersão do jogador e te dão motivos o suficiente para seguir avançando, mesmo caso você seja um jogador solo, algo que deve acontecer bastante graças a natureza gratuita do título.

Não espere, no entanto, uma narrativa rica e complexa como outros expoentes do gênero, notoriamente Final Fantasy XIV, mas ainda assim, o jogo me pegou interessado nos seus próximos passos muito mais do que em experiências anteriores com MMOs, ainda que acabe se apoiando excessivamente em vários clichês que o fazem parecer quase uma coletânea de melhores momentos de outros títulos. Isso por si só já é motivo suficiente para atrair os jogadores e, dado o cuidado que também é visto nos diferentes elementos relacionados a PvE e PvP, ajudam a convencer seus amigos a darem uma chance ao jogo.

Um ponto um pouco surpreendente mas que é preciso apontar aqui é que, Throne and Liberty não dá ao jogador a opção de jogar com diferentes raças, disponibilizando apenas a possibilidade de jogar como um humano. Embora isso acabe se justificando um pouco, já que algumas das raças tradicionais de RPGs são inimigos aqui, a falta de elfos ou anões ou raças próprias acaba diminuindo a variedade dos personagens vistos no mundo. Ainda assim, cabe dizer, o jogo está claramente entre os melhores do gênero em termos visuais.

Já que Final Fantasy XIV foi mencionado, cabe dizer que há uma um elemento que parece bastante inspirado no MMORPG de sucesso da Square Enix: o sistema de “classes”. A bem da verdade, Throne and Liberty não tem bem um sistema de classes, mas sim uma liberdade para trocar as armas equipadas a qualquer momento, podendo criar builds específicas para cada uma delas, sem a necessidade de se comprometer com apenas duas delas com um personagem e precisando criar outro caso queira testar um novo kit de habilidades.

Como aludido, em combate, o jogador pode equipar até duas armas simultâneas, sendo bem intuitivo trocar entre elas. O ataque é semi-automático, sendo necessário apertar o R1 apenas uma vez e o personagem atacando repetidamente a partir de então. Habilidades são mapeadas para uma combinação de R1 ou R2 + um dos botões de face ou direcionais, além do jogo contar com botões dedicados para esquiva, defesa (L1) e atalhos para comunicação. É bem intuitivo e prático, reforçando o quanto desenvolvedores modernos parecem ter encontrado respostas fáceis para as limitações que um controle traz para um MMO em comparação com o PC.

O combate em si acaba demorando um pouco para engatar, mas segue um sistema de te incentivar bastante a experimentar com as técnicas disponíveis, tentar entender como elas funcionam em conjunto e qual a melhor rotação possível para as armas escolhidas. O seu funcionamento é intuitivo, mas exige que o jogador busque entendê-las um pouco além do só equipar e usar. Isso exige um pouco de dedicação de tempo, mas é recompensador, especialmente pelo combate ir se tornando progressivamente mais legal a medida em que você vai evoluindo.

Dito isso, eventualmente você irá acabar se dedicando a um certo grupo de habilidades já que Throne and Liberty exige uma quantidade considerável de dedicação para otimizar o seu personagem. Embora seja fácil redistribuir seus stat points (que são ganhos ao subir de nível de personagem) como bem entender a hora que você quiser (já que resetar é gratuito), eventualmente será necessário optar por certas builds e dedicação no gasto de recursos para suas Habilidades de Especialização, mas também é possível experimentar com elas.

A única opção em que não é possível resetar são justamente os pontos de Domínio da Arma, uma parte importante da personalização caso você queira participar de eventos PvP e PvE no endgame. Cabe aqui dizer que há um foco enorme nesses eventos já que o caminho para chegar ao level cap (50) é relativamente tranquilo, com o grind realmente começando pelos recursos para melhorar essas customizações para participar juntamente com a sua guilda desses eventos. Infelizmente, não foi possível testar muito desse conteúdo, mas cabe apontar que elas estão por lá.

Visualmente, Throne and Liberty é bastante impressionante. O jogo roda muito no PS5 e não só as cutscenes são muito bonitas, mas o jogo em si é imensamente agradável aos olhos, com cenários, modelos de personagem e tudo mais sendo tecnicamente bem acima da média, até mesmo em momentos com dezenas de personagens em tela. O único ponto mais fraco fica por conta da dublagem, mas a trilha sonora também merece elogios.

Por fim, em se tratando de um jogo free-to-play, cabe falar um pouco sobre o sistema de monetização. O jogo conta com dois sistemas básicos, Collant, que é a moeda in-game utilizada para comprar itens e melhorias de armas e habilidades e é ganha cumprindo missões e vencendo batalhas; e Lucent, uma moeda premium que pode ser comprada com dinheiro real e permite além de comprar itens cosméticos, também ter acesso a aceleradores de progresso.

Esse sistema, embora não torne o jogo pay-to-win, acaba ajudando a cortar caminho para quem não quiser dedicar o tempo necessário para chegar ao mesmo ponto. O jogo também tem um Battle Pass, com uma versão gratuita e uma Premium que custa 500 Lucent, disponível na PS Store brasileira por R$53,90 e US$9,99 na PS Store americana, e dá acesso a vários itens cosméticos.

Dito tudo isso, Throne and Liberty é um ótimo MMORPG, especialmente considerando o fato de ser um título gratuito, e um passo na direção certa para a Amazon Games. Como todo jogo do gênero, muito dependerá do seu suporte a longo prazo para reter seus jogadores, mas os sistemas e a estrutura básica são muito divertidos e sólidos, sendo mais do que suficientes para sustentar um título de sucesso.

Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Amazon Games.