Certos jogos geram um pouco de esperança infundada nos jogadores. Talvez seja um senso mal estimulado de se querer dar uma chance para algo que já te decepcionou antes, mas certos relançamentos ou “versões melhoradas” de jogos acabam te fazendo acreditar que dessa vez vai ser diferente, única e exclusivamente para te decepcionar de uma nova maneira.
Essa é a história por trás de METAL MAX Xeno Reborn. Como o próprio título já indica, trata-se de uma versão “renascida” do vastamente criticado Metal Max Xeno, uma tentativa de corrigir os vários problemas que aquele jogo possuía. Acontece que, não importa quão grande seja o seu esforço de corrigir algo, muitas vezes é impossível quando aquilo já está fundamentalmente destruído.
Nesse JRPG desenvolvido pela Kadokawa Games e 24Frame, o jogador se vê em um universo exatamente igual aquele que o nome te fez imaginar. Só levemente seguro de possíveis quebras de marca registrada, o protagonista da nossa história é um dos poucos sobreviventes da humanidade em uma versão distópica e desértica do Japão chamada de Dystokio.
A (quase) extinção da humanidade por aqui veio em razão da derrota em uma batalha contra um sistema de gerenciamento ambiental chamado Noah. Essa inteligência artificial foi criada com a intenção de cuidar do mundo e tentar encontrar formas de salvar o meio ambiente.
Por motivos um tanto quanto óbvios, ela chega à conclusão de que o verdadeiro culpado por todas as catástrofes climáticas são os humanos e resolve que a melhor forma de resolver isso é erradicando-os da face da Terra. A missão de Talis, o protagonista, é sobreviver e para isso ele precisará derrotar uma gigantesca máquina chamada Catastrophus.
E esse é basicamente todo o plot do jogo. Talis tem a sua disposição sua mão mecânica, um tanque de guerra, alguns aliados e (eventualmente) um cachorro e a narrativa toda é basicamente só sobre Talis explorando o mundo para conseguir armas mais poderosas para derrotar Catastrophus na eventual batalha final.
O que é mais decepcionante nisso é que o mundo de METAL MAX Xeno Reborn tem algumas ideias bem interessantes e personagens com uma faísca de personalidade e carisma, mas ela consegue falhar em desenvolver qualquer ponto disso a todo momento. Em certos pontos a sensação que se tem é de que o jogo quer que você construa a sua própria história, mas os elementos que ele te dá para isso são tão desinteressantes que não há muito desejo ou motivação para que o jogador o faça.
É quase impossível imaginar um JRPG de mais de 20 horas de duração conseguir passar toda a sua duração sem prover um único gancho emocional ou reviravolta ou qualquer coisa que possa te prender. A sensação que eu tive é que alguém teve uma ideia muito interessante para o conceito do jogo (e da série como um todo, na real), mas sem orçamento ou ideia de como transformar aquilo em algo que as pessoas se divirtam jogando.
O jogo tenta se diferenciar com boas pitadas de humor, inclusive com finais “ruins” bem criativos, mas parece que falta algo. E nem é de se dizer que a Kadokawa não sabe como lidar com jogos com defeitos, visto que esse ano mesmo tivemos um outro jogo dela que é bastante divertido apesar dos sérios problemas que o jogo possui em Relayer.
Mesmo com tudo isso, a história ainda consegue ser menos decepcionante do que o combate. À medida em que você vai explorando os vários mapas da região do jogo (ao invés de um mundo aberto, ele conta com uma série de áreas grandes interligadas), você verá inimigos e pode atacá-los com uma de suas armas ou com as armas do seu tanque.
Isso naturalmente chama a atenção dos inimigos e quando uma barra de “perigo” é preenchida, o combate começa naquela mesma tela. A primeira vista, o sistema de batalhas é o seu típico JRPG por turno em que cada personagem precisa aguardar o preenchimento de uma barra de ação para poder atacar, com a diferença que você pode mover o seu personagem livremente enquanto isso.
Com toda franqueza, é um dos sistemas de combate mais chatos e entediantes que eu já vi na minha vida. Sistemas de ATB quando bem aplicados são alguns dos melhores sistemas de combate em todo o universo de videogames mas quando dão errado, como é o caso daqui, são capazes de destruir completamente todo e qualquer sentimento de diversão que possa ser extraído do combate.
Até mesmo a movimentação dos seus personagens parece um floreio bem inútil e mais uma forma de tentar diferenciar essa versão da original que contava com combates por turnos de uma forma mais tradicional. Junte a isso o fato da árvore de habilidades e equipamentos do protagonista e demais membros da party ser bastante limitado e desinteressante e temos uma receita para o fracasso.
Pochi, o Shiba Inu mascote da franquia, tenta ser a salvação do combate, servindo como um outro companheiro de batalha e como bom cachorro que é, está sempre ao seu lado. Infelizmente não é possível controlá-lo diretamente, mas há uma ótima dose de bom humor nas habilidades dele e forma como ele é genuinamente um dos pontos positivos do jogo.
O outro ponto positivo que se pode apontar é a vasta variedade de opções para customização do seu tanque. Você pode equipar vários tipos diferentes de armas ao mesmo tempo em diferentes pontos do seu tanque, sendo limitado apenas pelo peso e durabilidade delas (que costumam ser inversamente proporcionais um ao outro). Há tantas opções que a sensação que se tem é de que o jogo prefere que você jogue com o tanque do que com os personagens em si.
Dito isso, tecnicamente e visualmente o jogo ainda é muito limitado. Cabe dizer aqui que METAL MAX Xeno Reborn saiu em 2020 no Japão, sendo uma versão melhorada de um título originalmente de 2018. Mesmo com framerate melhorado e mais efeitos visuais ela ainda é bastante limitado, com os poucos elogios que se pode fazer ficando pelo design criativo dos monstros.
Um outro problema do jogo é que a interface de usuário e os menus são muito pouco intuitivos. Ele funciona no geral, mas há uma sensação de que não houve muito planejamento na forma de dispor as coisas por eles da forma mais rápida de se acessar. Os comandos em si funcionam e depois que você se adapta dá pra jogar, mas claramente precisava ter sido revisto também.
No geral, é difícil entender o que é que METAL MAX Xeno Reborn deveria ser. Talvez o seu maior mérito seja entregar um jogo entendiante e medíocre ao invés de uma experiência objetivamente ruim, mas se o seu destino é ser esquecido tal qual os humanos extintos em Dystokio, será que existe um propósito em existir?
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela PQube.
Veredito
Metal Max Xeno Reborn consegue cometer um dos crimes mais graves que um jogo pode fazer: ser chato. Sua história, gameplay, visuais e trilha sonora todos combinam para entregar um pacote nada marcante e totalmente desinteressante, tornando-o um jogo quase impossível de se recomendar.
Veredict
Metal Max Xeno Reborn manages to commit one of the most serious crimes a game can do: being boring. Its story, gameplay, visuals and soundtrack all combine to deliver an unremarkable and totally uninteresting title, making it an almost impossible game to recommend.