Astria Ascending – Review

Mesmo os mais competentes artistas do mundo um dia irão tropeçar. Olhe com cuidado para o histórico dos maiores cantores e escritores do mundo com uma lista de produções longa o suficiente e para cada obra-prima, você eventualmente encontrará obras que eles prefeririam esquecer.

Por um longo tempo, Kazushige Nojima parecia ser o raro caso de um roteirista de jogos cuja produção seria composta de sucesso após sucesso. Afinal, de Final Fantasy VII à Kingdom Hearts 2, poucos roteiristas acumularam em décadas o que ele foi capaz de produzir em 8 anos.

No entanto, após sua saída da Square Enix, poucos sucessos vieram, na maior parte vindo por seu trabalho como freelancer para a própria SE, como em Final Fantasy VII Remake ou Kingdom Hearts 3. Ainda assim, seu nome segue tendo peso suficiente para que o anúncio de Astria Ascending, novo RPG da Artisan Studios, recebesse bastante atenção.

Astria Ascending

Embora a desenvolvedora canadense possuísse como seu único jogo o bastante criticado Super Neptunia RPG, o conceito de Astria Ascending é forte o suficiente para te convencer de que há bastante potencial nele. O jogo gira em torno de um grupo de heróis chamado de Fated Eight, um grupo de semideuses escolhidos a cada 3 anos para proteger o mundo de Orcanon e que, após concluírem o seu período de serviço, recebem como recompensa a morte.

O jogador conhece esse grupo de estranhas figuras durante os últimos 3 meses deles nos seus respectivos cargos, exatamente no momento em que, enquanto lidam com pequenas questões que precisam estar em ordem quando concluírem seu tempo, eles passam a precisar enfrentar uma das maiores crises já vistas naquele mundo.

Problemas começam a surgir quando em nome da sua “liberdade”, alguns membros das diferentes raças que compõem o mundo passam a parar de consumir uma fruta chamada harmelon, cuja essência é fundamental para manter a harmonia e a paz alcançada entre toda a sociedade. Essa decisão acaba abrindo espaço para que estátuas voltem à vida e comecem a destruir as cidades.

Astria Ascending

Em conjunto, a redução do nível de harmonia das cidades faz com que monstros conhecidos como Noises passem a infiltrar locais que antes eles jamais visitariam, graças à redução das proteções ao redor do mundo. Há um certo comentário a ser feito sobre o mundo ser posto em perigo por pessoas ativamente rejeitando formas comprovadas de proteção e precisando de “heróis” para salvá-las, mas não é algo que o jogo resolve falar sobre.

No entanto, espere alguns dos pontos mais comuns dos trabalhos do Nojima. Semideuses, ligações místicas e o zodíaco são todos elementos constantes em produções recentes do roteirista e que aparecem aqui. Se você é das pessoas que se incomodou com a vasta quantidade de terminologias apresentadas em Final Fantasy XIII, prepare-se para algo bem próximo disso, já que, apesar de nunca se perder em diálogos muito longos, o mundo criado em AA é bem explorado em diferentes pontos do jogo.

Temos aqui um universo de fantasia bastante único e com regras bem claras e elaboradas. As raças apresentadas são bastante únicas (com formas humanóides de peixes, leões, pássaros e cavalos), cada qual com suas próprias características e interesses. Os Fated Eight especialmente possuem personalidades bem distintas entre si.

Astria Ascending

Talvez minha principal reclamação com o jogo seja o fato dos personagens não serem muito bem elaborados ou terem suas histórias individuais exploradas a contento. Cada um deles se encaixa em um papel específico dentro dos Demi-gods, mas fora executar o que se esperaria do papel pré-designado (tanto na história quanto em combate), eles não vão muito além disso.

O mais estranho nisso é que, apesar de, teoricamente, a história se passar após 2 anos e 9 meses que esse grupo de Demi-gods está junto, a dinâmica e química entre eles deixa bastante a desejar. O jogo se esforça para mostrar que as aventuras vividas nesses últimos três meses os aproxima e dá um peso aos acontecimentos, mas ele nunca realmente se conecta efetivamente.

Isso significa que, enquanto a história consegue se manter interessante o suficiente para manter o jogador engajado de um ponto a outro, não é exatamente um grande mérito do título ou o que te fará ter interesse em seguir em frente. Para um jogo que gira tanto em torno do destino que aguarda os protagonistas, não há um verdadeiro peso para a narrativa.

Astria Ascending

A parte que eleva a qualidade de Astria Ascending é o seu combate. O jogo se orgulha de ser uma versão mais modernizada dos tradicionais combates por turnos. Para isso, sua equipe é composta de 4 membros ativos, com a possibilidade de substituí-los por um dos personagens do banco a qualquer momento.

A principal mecânica nova do jogo fica por conta dos Focus Points. Trata-se de um sistema de pontos extras que podem ser usados para aumentar o seu dano em até 200%. Para tal, é preciso usar habilidades que recuperem FP ou explorar a fraqueza dos inimigos. No entanto, inimigos também tirarão proveito das suas fraquezas e podem usar isso contra você.

Astria Ascending não é um jogo difícil por si próprio, mas é necessário sempre ter cuidado com os seus movimentos. O sistema de FP te dá uma margem de erro considerável em batalhas corriqueiras e como ele é zerado após cada combate, há um espaço legal para experimentação enquanto se explora as diferentes dungeons do jogo.

Astria Ascending

Enquanto é útil durante combates normais contra inimigos comuns, é nas batalhas contra chefes que a importância e utilidade do FP realmente vem à tona. Chefes, no entanto, exigirão bastante cuidado para explorar suas fraquezas e usar seus melhores combatentes para maximizar o dano, com FP sendo mais um elemento além dos tradicionais buffs e debuffs de outros jogos do gênero.

Os Demigods são compostos de classes tradicionais de um certo JRPG, algumas com os mesmos nomes, outras com uma pequena alteração mas o mesmo funcionamento, sendo elas: Captain , Soldier,  Thief, Summoner, Scholar, Sorcerer, Fencer e Explorer. Com o progresso no jogo, é possível além do Job principal, dar a cada personagem um Main Job, Sub Job e Support Job, expandindo bastante o rol de habilidades à disposição.

Atrelado a isso está o sistema de progressão do jogo, chamado de Ascension Tree. É só um nome mais bonitinho de se chamar as tradicionais árvores de habilidades, então é fácil de se imaginar como elas funcionam. Cada árvore possui diferentes rotas que podem ser seguidas e cada novo Job aberto possui sua própria Ascension Tree, então há uma quantidade até surpreendente de personalização que pode ser feita com cada Demigod.

Astria Ascending

É difícil apontar algo a se reclamar do combate de Astria Ascending, salvo pelo fato de que, entre as batalhas, a exploração das dungeons é bem chata. Os mapas não são dos maiores então isso não chega a ser um incômodo tão grande, mas os momentos em que se passa andando de um lado para outro tem uma certa falta de propósito ou interesse, salvo por alguns pequenos puzzles para se resolver para abrir novos caminhos e baús a serem descobertos e abertos.

O jogo tenta remediar isso com missões secundárias que incluem auxiliar os cidadãos de Harmonia e completar missões de caça, além do minigame de J-Ster, uma espécie de jogo de cartas presente no jogo que, apesar das regras um tanto quanto confusas, consegue ser até bem divertido.

Por fim, cabe dizer que, felizmente, tanto o combate quanto a exploração e a narrativa ajudam bastante a apreciar talvez o verdadeiro ponto de destaque de Astria Ascending: o jogo é estupendamente bonito. Cada personagem possui uma identidade visual única e os cenários são incrivelmente belos. Adicione a isso a trilha sonora bem sutil mas primorosa e o jogo consegue ser um prato cheio para os olhos e ouvidos.

Astria Ascending

Astria Ascending é o tipo de jogo que talvez fosse melhor recebido em um momento em que o volume de bons JRPGs e jogos inspirados por eles não fosse tão grande. Tanto suas qualidades quanto defeitos são bastante notórios e o impedem de se destacar em um momento tão especial pro gênero. É bem fácil se divertir com ele, mas é inegável que existem várias obras melhores à disposição.

Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Dear Villagers.

Veredito

Astria Ascending é fortemente inspirado por JRPGs clássicos. Seu combate é seu ponto de maior destaque, mas uma narrativa que falha em prender o jogador como deveria, o que o impede de recriar os elementos que tornaram suas inspirações tão especiais.

70

Astria Ascending

Fabricante: Artisan Studios

Plataforma: PS4 / PS5

Gênero: RPG

Distribuidora: Dear Villagers

Lançamento: 30/09/2021

Dublado: Não

Legendado: Não

Troféus: Sim (inclusive Platina)

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Veredict

Astria Ascending is heavily inspired by classic JRPGs. Its combat is its strongest suit, but its narrative fails to hold of the player as it should, which keeps it from recreating the elements that made its inspirations so special.