Commandos 2 HD Remaster – Review

Ainda que tenha dado as caras lá no Playstation 2 (e também no primeiro XBox), Commandos 2: Men of Courage nunca foi considerado um jogo especialmente possível em consoles. Ainda que seja, intrinsecamente, um grande sucesso no PC como um RTS um tanto quanto diferente do usual na época do seu lançamento em 2001, quase 20 anos atrás, por personificar os integrantes do seu esquadrão, dando-lhes identidade, background e habilidades únicas, o jogo tem suas peculiaridades no que tange a jogabilidade, algo que parecia muito mais adequado ao teclado e mouse na época. Sua versão remasterizada, Commandos 2 HD Remaster, lançada em 2020 para PCs e também consoles da atual geração, trazia a dúvida sobre o quão possível seria jogá-lo com o Dual Shock. O resultado, ainda que traga ótimas soluções, ainda é capenga e apresenta mais baixos do que altos.

Antes de mais nada, é importante contextualizar do que se trata o game: em plena Segunda Guerra Mundial, somos convidados a acompanhar esse grupo de soldados de elite peculiares em missões de alto risco, mas fundamentais para a vitória dos Aliados. Teremos a disposição, em cada missão, especialistas como peritos em demolição, em combate corpo-a-corpo, infiltração disfarçada, e por aí vai. As missões em si consistem em atividades como invadir bases inimigas, derrotar figurões do exército adversário, destruir sistemas de defesa e de comunicações, etc. e para tanto, é possível uma série de possibilidades na abordagem.

No total de 10 missões na linha principal da campanha, o jogador irá enfrentar uma série de desafios intensos contra os inimigos do eixo – com foco em tropas alemãs e japonesas em diferentes países da Europa e da Ásia – em uma campanha que dura algo em torno de 20 horas, pelo menos. Não há qualquer alteração em relação ao conteúdo em si do jogo, e mesmo caixas e itens especiais estão exatamente onde deveriam estar. Derrubar adversários, imobilizá-los, levá-los a um local escondido e saqueá-lo continua sendo parte do modus operandi padrão do jogo e muito pouco (para não dizer nada) muda na abordagem do título. Claro, há momentos de combate armado direto, confronto contra grupos e veículos de guerra, mas Commandos 2 HD Remaster, tal como o jogo base, parte da premissa do stealth como principal mecânica de ação.

Enquanto uma sequência do primeiro jogo, Commandos 2: Men of Courage se tornou um grande hit do gênero RTS em seu lançamento por trazer novidades e inovações bastante consistentes e basicamente ampliava tudo o que tinha dado certo no game anterior. A possibilidade de girar a câmera, explorar ambientes externos e também o interior de alguns construções, utilizar habilidades especiais de cada membro (incluindo um simpático cãozinho) e sobretudo o carisma de seus protagonistas ao atender às ordens dadas pelo jogador o tornava algo especial. Não surpreende que a escolha pela remasterização seja diretamente deste, e não do primeiro ou do esquecível terceiro game da franquia. A liberdade que o jogo promete sempre foi seu grande diferencial.

Essa amplitude na forma como se encara cada objetivo, contudo, não é tão grande assim. A seleção dos commandos que estarão a disposição para cada missão já descreve muito bem a orientação para essa estratégia. Claro, você poderá decidir entre ir eliminando os inimigos em torno do ponto central antes de efetivamente cumprir aquilo que lhe foi atribuído, ou tentar percorrer o menor caminho possível fugindo do radar inimigo, mas os trajetos em si são bastante limitados em grande parte das missões. Não demora para percebermos que há formas mais indicadas para se vencer os desafios, e aí a percepção de autonomia se torna um tanto quanto questionada. A possibilidade de retornar e se desafiar a fazer de forma diferente se mostra interessante para aqueles mais obstinados a tentar novos meios de vencer.

Um exemplo dessa orientação velada das melhores formas de ação está na manutenção de soldados com habilidades específicas, mas relativamente simples como por exemplo amarrar um adversário caído. Você pode fazer uma belíssima infiltração passando por cima do campo de visão dos inimigos com um escalador, mas quando chega no ponto principal pode não conseguir concluir a missão porque simplesmente não sabe atar um nó para amarrá-lo, o que significa que em poucos segundos ele irá se recuperar e voltar ao posto. Ou ainda ter que ultrapassar todo um campo cheio de inimigos para levar um alicate para o componente do grupo que consegue utilizá-lo para cortar uma cerca de arame farpado, ou ainda ter suas chances diminuídas porque o cara que consegue armar e desarmar minas terrestres foi derrotado antes da hora.

Essa expressão das limitações narrativas em favor da criatividade na abordagem é, contudo, o menor do problemas de Commandos 2 HD Remaster no Playstation 4. A coisa começa a complicar quando se percebe algumas das funções que foram mal adaptadas da versão de PC do jogo, a começar pelo mapeamento dos controle. Sim, há um grande esforço em tornar essa versão possível, e mesmo a interface de seleção de personagens ou de uso das habilidades especiais é pensada para o console, mas como a jogabilidade foi toda desenhada para outro sistema, há inevitáveis ruídos. A seleção de armas, por exemplo, é um terror para se considerar o tempo real. A interação com o cenário, todavia, é o maior dos terrores e falhas bobas – como a demora em se habilitar um comando – são o suficiente para levar um ótimo planejamento por água abaixo.

Perceba, a dificuldade nessa construção de uma jogabilidade robusta para o controle de mãos não é algo inerente ao gênero em si e Desperados III, lançado recentemente, é um ótimo caso onde se mostra que é possível sim trabalhar bem com o formato no Playstation 4. A remasterização de Commandos 2, contudo, tem seu grande problema na gênese, e há um problema mais grosseiro na interação entre os objetos em tela. O simples fato de não se poder saquear todos os objetos do adversário de uma vez só, solução já padrão no mercado e que independe do gênero, já evidencia essa falta de atenção aos pequenos detalhes que fazem toda a diferença quando em conjunto. É importante que o jogo ofereça desafio, mas sem artifícios que atrapalhem o jogador.

Para citar outro exemplo, subir em um poste é uma das habilidades especiais para um dos commandos. Claro que é possível, portanto, ficar lá em cima enquanto um inimigo passa e, assim que ele estiver de costas, descer e pegá-lo desprevenido. A falha na interação, que as vezes aparece e as vezes simplesmente não, mesmo que por uma fração de tempo, já pode levar o tempo exato para que sejamos descobertos. O mesmo vale para a ação de carregar um soldado abatido para que os aliados dele não o detectem. E aí pode acontecer o mesmo problema ao entrar por uma janela furtivamente, ou eliminar um inimigo de costas, e assim por diante. No vídeo disponível nesta análise, você perceberá algumas destas falhas já nas fases tutoriais de introdução, e poderá perceber o quanto isso pode ser prejudicial em missões de dificuldade mais elevada mais adiante.

A curva de aprendizagem do jogo, para piorar, é bem agressiva com quem está começando e mesmo que você já conheça o game original poderá se sentir bastante perdido no que fazer, no que pode usar, no que dará certo para diferentes situações e principalmente qual é o atalho certo. E aí entra mais um problema grave: a necessidade da experiência de tentativa e erro, o famoso empirismo, que confronta firmemente a ideia de que a solução planejada é mérito do jogador. Por exemplo, você só saberá que um trecho é basicamente um campo minado de duas formas: ou fica passando o detector de metais em basicamente cada metro de chão que avança, para sempre, ou explodindo alguém quando passa por uma mina e compromete tudo o que tinha planejado. Quer outro exemplo: em algumas elevações, só é possível saber se você pode ser visto ficando ali e testando. Se der certo, ótimo. Senão, começa de novo.

Não se engane, no entanto. Commandos 2 HD Remaster não é um desastre, longe disso, seja pelas peculiaridades de ser um jogo de duas décadas, seja pelos problemas de colisão e interação dessa versão. O game é extremamente divertido e desafiador, com ótimas soluções de level design. É criativo no estabelecimento de missões que são satisfatoriamente variadas e atende à demanda latente por RTS – atualmente raridade no mercado – para um nicho ainda muito fiel e entusiasmado. O grande problema desta versão é não conseguir traduzir para os sistemas atuais suas virtudes, ao ponto delas parecerem um grande atraso em relação ao que veio depois, transformando-as em vantagens apagadas pela forma truncada com que se porta nos sistemas atuais, ora de forma intencional, ora não. E aí entra a grande questão não de uma dificuldade pelo desafio – algo muito desejado e destacado na versão original – mas sim pela incapacidade de tradução de suas mecânicas para os dias de hoje, algo que é ruim e absolutamente frustrante.

A remasterização, ainda, tem a missão obrigatória de atualização do visual para o HD e para os padrões mais atuais de fluidez. E aqui também apresenta inconstâncias. Originalmente, o jogo é um primor para o que havia no mercado naquele momento. Trazia uma vegetação diversificada, com várias texturas de folhagens, e mesmo as construções eram bastante complexas e muito bem trabalhadas. Se num primeiro olhar as imagens que ilustram essa análise podem trazer bastante resplandecência e uma valorização desses elementos, basta aquele olhar mais apurado para ver algo que, uma vez percebido, não pode mais ser ignorado: mesmo que seja uma remasterização de um jogo antigo, faltou atenção aos detalhes e o que podemos ver é muita textura borrada, elementos serrilhados e personagens que parecem não pertencer àquele lugar.

Como um todo, porém, há ainda muito beleza na composição dos ambientes. São os detalhes que acabam prejudicando o conjunto da obra. Animações faciais – sobretudo nos elementos de HUD – são algo tenebroso em alguns momentos e aquilo que era caricato em 2001 se tornou simplesmente creepy hoje. Já as animações do jogo já são mais adequadas e funcionam bem ao seu propósito. De novo, vale a regra: visto de longe, esteticamente é até impressionante, mas se chegar um pouco mais perto… Uma pena também que a interface, além de ser complicada em demasiado para controles de mão, não é das mais afáveis para se ver do sofá de casa, com tipografia, descrições e detalhamentos pequenos demais, mesmo nas telas maiores da sala de casa. Outra adaptação que veio desajeitada de um jogo feito para a tela próxima do PC.

Commandos 2 HD Remaster não é mais do que um port da remasterização, que parece obviamente ter sido pensada para a sua plataforma original, o PC. Mesmo lá, algumas escolhas de atualização de controles e mesmo de reestruturação visual podem ser questionáveis, mas não há dúvidas de que a versão para consoles de mesa está muito aquém do grande legado que a franquia construiu entre o fim do século passado e o início do atual, o que é uma verdadeira lástima, uma vez que esse grande clássico merecia um tratamento mais adequado para uma nova geração de jogadores.

Jogo analisado no PS4 padrão com código fornecido pela Kalypso Media Digital.

Veredito

Commandos 2 continua sendo um jogo imperdível para os fãs de jogos RTS clássicos, ainda que entregue sua idade em algumas mecânicas já superadas. A remasterização HD, sobretudo no PlayStation 4, porém, traz tantas gafes da adaptação que apreciar o título acaba demandando um esforço muito maior do que deveria.

65

Commandos 2 HD Remaster

Fabricante: Yippee! Entretenimento / Pyro Studios

Plataforma: PS4

Gênero: RTS

Distribuidora: Kalypso Media Digital

Lançamento: 18/09/2020

Dublado: Não

Legendado: Não

Troféus: Sim (inclusive Platina)

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Veredict

Commandos 2 remains a must have game for fans of classic RTS games, although it gives its age in some mechanics already outdated. The HD remastering, especially on the PlayStation 4, however, brings so many gaffes of the adaptation that enjoying the title ends up requiring a much greater effort than it should.