Análise – Mutant Year Zero: Road to Eden

Com certa quietude, 2018 foi um ótimo ano para jogos de estratégia por turnos. Principalmente no segundo semestre, quase todos os meses trouxe pelo menos um jogo capaz de saciar o desejo dos fãs por algo novo e com alguma pequena variação dentro do gênero para deixar a sua própria marca nele. Mutant Year Zero: Road to Eden não é só um dos últimos lançamentos, mas o melhor dentre eles neste ano e um dos que mais traz inovações em sua fórmula.

Baseado no RPG de mesa chamado Mutant, MYZ é, entre todos os jogos do gênero lançados recentemente, o que mais implementa a sua própria personalidade em cada aspecto do gameplay. O jogador assume o comando de um esquadrão de Patrulheiros, um grupo de mutantes cuja principal missão é investigar A Zona e encontrar recursos para A Arca. Mas… O que isso tudo significa? Bem, o mundo de MYZ é um um mundo pós-apocalíptico em que os humanos foram basicamente extintos após uma guerra nuclear, com alguns poucos sobreviventes fugindo para fortes no espaço e no fundo do oceano e o resto condenado a tentar sobreviver em um mundo inóspito, com humanos e animais sofrendo diversas mutações como resultado.

Mutant Year Zero: Road to Eden

A área ao redor d’A Arca, um dos últimos redutos habitáveis por essas pessoas é chamada de “A Zona”, um lugar onde é possível encontrar recursos para garantir a sobrevivência do restante da população, além de diversos vestígios da sociedade humana anterior às catástrofes, seja por destroços de carros e aviões, alguns artefatos raros e misteriosos como iPods, soldas e telescópios, bem como vários pedaços de sucata espalhados pelos vários mapas de jogo (e que funcionam como a sua principal moeda de troca por itens na Arca) e diversos tipos de inimigos, em especial Aberrações e robôs deixandos pelos antigos, um outro tipo de humanos mutados.

O jogador é compelido a explorar a Zona com uma equipe equipe de patrulheiros, a qual é composta, inicialmente, apenas dos dois principais protagonistas do jogo: Dux, um pato humanóide e resmungão, e Bormin, um javali humanóide forte com suas palavras e com suas ações. Ao longo do jogo você encontrará vários outros patrulheiros que se juntarão ao seu time (Farrow sendo a mais interessante entre eles), por mais que só seja possível ter três deles ativos a qualquer momento, todos possuem diálogos únicos e motivações simples, porém, bem estabelecidas e contribuem para manter a história e os diálogos, que alternam entre momentos sérios e algumas pitadas de humor, fluindo bem.

Mutant Year Zero: Road to Eden

A história em si gira em torno da tentativa de resgate de um patrulheiro chamado Hammon, um dos mais poderosos e inteligentes membros da Arca, que desaparece após tentar alcançar um item que ele acredita ser a chave para alcançar um dos lugares para onde os Antigos fugiram: o Eden, a base orbital onde os humanos estariam. No geral, o roteiro é bom e consegue entregar bem o arco que ela se propõe a contar, começando como uma premissa bem simples e executando bem o crescimento do nível da ameaça que os patrulheiros precisam enfrentar. ALgo que ajuda é que a ambientação do jogo, em especial a parte visual, com a vegetação dominando quase tudo e os poucos prédios estando em ruínas, contribuindo bastante para capturar bem a sensação de inospitalidade que o jogo deseja.

Uma das diferenças que MYZ traz é que ao explorar cada um dos mapas do jogo, ao invés de entrar direto no sistema de movimentação por turnos com quadrantes que ele utiliza para o combate, você tem a liberdade para se movimentar como em qualquer outro jogo, recolher recursos, seja sucata, itens equipáveis como novas armas, armaduras, chapéus ou granadas ou itens de cura, e conhecer bem o terreno onde as lutas acontecerão. O jogo também faz um bom trabalho ao apresentar novas variações dos inimigos a todo momento, aumentando a dificuldade e não te permitindo se sentir confortável demais, mesmo quando você possui a vantagem de terreno ou nível.

Mutant Year Zero: Road to Eden

Isso é importante pois Stealth é algo fundamental aqui, já que, não importa o quão preparado você esteja, enfrentar os inimigos todos de uma vez é a receita para perder, pois muito raramente você vai estar com nível superior ao deles. Durante a movimentação fora de combate é possível alternar entre andar mais rápido e com a lanterna ligada ou mais devagar com ela desligada. Obviamente, o feixe de luz aumenta o raio de percepção dos inimigos, tornando mais difícil se esconder deles, sendo fundamental saber o momento certo para usar a lanterna, o que é bem simples graças a existência de um botão dedicado para ela na fase de exploração.

Ao contrário, o objetivo é identificar os pontos fracos, os inimigos mais isolados e derrotá-los rapidamente, sem que eles possam alertar o bando e só no final enfrentar o núcleo principal dos inimigos (sempre há 4 ou 5 aberrações juntas e difíceis de separar). Para isso, o jogador conta com armas silenciosas e diferentes habilidades capazes de imobilizar os adversários ou ainda a possibilidade de posicionar cada um dos membros da party em um ponto distinto longe do raio de visão do alvo e só então começar o ataque quando ele não tiver chance de lutar contra, já que se o inimigo não for derrotado no turno em que ele lhe detectar, ele irá avisar ao resto e a luta virará contra ti bem rapidamente.

Mutant Year Zero: Road to Eden

Enquanto a história é sólida, o combate é realmente o ponto mais brilhante e inebriante de Mutant Year Zero. Ele consegue capturar tudo o que há de melhor nos jogos de estratégia enquanto mantém algo que muitos jogos parecem ter com e que é fundamental para uma boa experiência, a clareza nas informações. Mesmo no modo normal, que é o modo mais “fácil” do jogo, sempre há uma tensão no combate, aquela sensação de que o menor dos erros de cálculo nas suas ações poderá colocar tudo a perder. Felizmente, você sempre saberá quais são as suas chances mesmo antes de agir algo facilitado pelo jogo possuir apenas cinco níveis diferentes de probabilidade de acerto (0, 25, 50, 75 e 100%) e o quanto as coberturas influenciam nisso (25% para meia-cobertura e 75% para a cobertura completa) e isso é especialmente importante pelo foco do jogo na discrição.

Fora essa clareza (e é algo que você só percebe o quanto é importante após não ter que lidar com a estupidez de tiros com 95% de chance de acerto errando sempre), é tudo muito similar a outros jogos do gênero: cada personagem possui dois pontos de ação que podem ser usados para movimentação, habilidades ou ataque (que é a única ação que, se usada logo de cara, gasta os dois pontos e encerra o turno). Na maior parte dos casos você irá se movimentar dentro de uma área delimitada por um raio branco (ou um raio laranja se você quiser usar os dois pontos) e depois atacando, com cada ação custando um ponto, apesar de certas habilidades lhe permitirem usar os dois pontos e depois atacar.

Mutant Year Zero: Road to Eden

Cada um dos patrulheiros possui um set de habilidades (chamadas de mutações) distintas e que pode ser adquiridas através do menu de customização da equipe e equipadas em uma outra parte do menu, sendo que cada personagem pode ter duas habilidades ativas e uma habilidade passiva equipadas ao mesmo tempo. Não é necessário evoluir cada um individualmente, já que a experiência é compartilhada entre todos, assim, é possível deixar os novos patrulheiros que se encontra ao longo do jogo em pé de igualdade com a equipe atual e passar a usá-los. Além disso, como mencionado antes, é possível equipar os personagens com diferentes armas (até duas ao mesmo tempo, sendo possível alterar durante sem gastar um ponto de ação), um chapéu e uma armadura (que o jogo mostra o tempo todo, o que pode render situações como um pato de cartola e uma raposa com um pinico na cabeça) e duas granadas.

Você pode também destravar outras habilidades (como mais dano a determinados inimigos ou a possibilidade de carregar três granadas) trocando artefatos por elas na Arca, customizar as armas com modificadores de dano ou mira que se encontra ou compra por aí, além de poder melhorá-las usando pedaços de arma que se encontra explorando. Para tanto, é possível retornar a Arca a qualquer momento fora de combate para melhorar seu equipamento e recursos, em especial comprar mais kits de emergência, já que salvo por algumas habilidades específicas, a cura é feita através dela (necessário ressaltar que o jogo possui permadeath, mas é necessário ativá-la ao começar um save através da opção “mutante de ferro”).

Mutant Year Zero: Road to Eden

Infelizmente, a única coisa que evita que o jogo seja obrigatório é a performance sofrível que ele possui no PS4 base. O jogo já não é tão bonito assim e ainda conta com quedas vertiginosas de framerate e pequenos travamentos em vários pontos. Se eles são basicamente a norma após quase todo combate, não surpreende que também aconteçam com frequência durante ele, com personagens se teletransportando de um ponto a outro ou o jogo travando levemente antes das ações. A trilha sonora também não é nada demais, com o destaque mesmo ficando pela dublagem de altíssima qualidade (e as legendas em português ajudam a entender a história do jogo).

No fim, em um ano em que não tivemos um novo X-COM, Mutant Year Zero: Road to Eden possivelmente o acabará como o melhor jogo de estratégias por turno a chegar aos consoles. Mesmo com os problemas técnicos, há muito pouco para reclamar sobre a história e, mais importante, sobre o gameplay. O jogo é obrigatório para os fãs do gênero (e possui uma lista de troféus digna do desafio que o jogo propõe), sabendo, inclusive, dosar bem as características específicas de cada um dos três níveis de dificuldade, o que é a cereja no topo do bolo que torna esse jogo tão fácil de se recomendar.

Mutant Year Zero: Road to Eden

Veredito

Um ótimo jogo cujos problemas podem ser solucionados com patches, Mutant Year Zero: Road to Eden consegue entregar tudo o que se esperaria de um jogo de estratégia por turnos, com ótimo gameplay e uma boa história servindo de base para um jogo que o desafia a cada turno da melhor forma possível.

Jogo analisado no PS4 padrão com código fornecido pela Funcom.

Veredito

88

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Veredict

A great game with issues that can mostly be solved with patches, Mutant Year Zero: Road to Eden manages to deliver everything you could want from a turn-based strategy game, with great gameplay and a good story working as the basis for a game that challenges you with each turn in the best way possible.