Project CARS 2

Quando lançado em 2015, o primeiro Project CARS prometia ser o simulador definitivo, com imensa variedade de pistas e carros, condições climáticas dinâmicas, ciclo de dia e noite, e uma física altamente realista. De fato, muito disso se cumpriu. Porém, a estrutura do jogo deixou muito a desejar; o modo carreira parecia um pouco vazio, sem instigar o jogador a competir pelas diferentes disciplinas; os menus complicados e os controles não tão precisos foram alguns dos pontos falhos do primeiro jogo.

Para trazer à luz a sequência, bastava organizar melhor a estrutura do jogo, adicionar alguns carros e pistas, corrigir alguns erros, e pronto, teríamos em mãos um excelente jogo. Mas eis que a Slightly Mad Studios, fazendo jus a seu nome, resolveu ir além e não apenas melhorar o que já era bom, mas sim trazer uma tonelada de novidades.

Começando pelas categorias disponíveis, algumas delas já presentes no jogo anterior, como GT3, por exemplo, que recebeu ainda mais atenção, especialmente com a inclusão da marca Porsche e as variações do clássico modelo 911. O Rallycross, que nos últimos anos tem angariado um grande número de fãs, especialmente desde que o campeonato oficial começou a ser organizado pela FIA, em 2014, também está presente em Project CARS 2 com carros e pistas oficiais.

A Formula Indy, presente no primeiro Project CARS apenas por meio de DLC, está agora representada com os carros que competiram na temporada 2016, além de várias pistas oficiais, como Laguna Seca, Long Beach, Watkins Glen, Sonoma, Road America, e, claro, Indianapolis, tanto com o traçado oval quanto o misto.

Aliás, Project CARS 2 vangloria-se de possuir a maior quantidade de pistas em qualquer jogo já lançado para consoles. Ao todo são mais de 140 traçados em mais de 60 locações. E o mais interessante é ver pistas que sequer existem mais, como os antigos traçados de Hockenheimring, Spa-Francorchamps, Monza e Silverstone, por exemplo. Além disso, pistas como Daytona, do calendário oficial da NASCAR, Mount Panorama, do campeonato australiano de turismo, e Mônaco, da F1, também marcam presença. Isso sem falar das obrigatórias Le Mans e Nürburgring Nordschleife, palcos perfeitos para presenciar o ciclo de dia e noite, com o novo sistema de clima dinâmico, que agora afeta ainda mais a dirigibilidade dos veículos, com poças d’água que se formam conforme a chuva aumenta, fazendo com que o carro aquaplane, para depois secarem ao longo da corrida, à proporção que o clima melhora. Em casos extremos, e dependendo obviamente da localização da pista, também é possível que ocorra uma nevasca, deixando a sensação de se estar em um rinque de patinação a mais de 300 km/h.

A jogabilidade também foi refinada. É possível sentir melhor as variações de terreno e ondulações da pista na direção do carro, deixando tudo menos imprevisível e muito mais sob o controle do jogador. Apesar disso, mesmo com todos os ajustes de assistências de tração, estabilidade e direção ligados, Project CARS 2 não é um jogo muito amigável com quem não é familiarizado com simuladores de corrida. Outro fator que colabora para isso é a linha tracejada sobre a pista, que deveria indicar o traçado ideal e os pontos de frenagem. Porém, por ser totalmente imprecisa, torna-se não somente desnecessária, como até mesmo chega a atrapalhar em muitos momentos, fazendo com que o jogador freie muito antes do necessário, ou pior, perca totalmente o ponto de frenagem e vá parar na caixa de brita ou no muro.

Já para quem gosta da simulação, mas não tem a paciência de passar horas jogando até encontrar o ajuste perfeito para o carro, o jogo oferece um sistema de ajuda muito eficaz. Basta pedir auxílio ao engenheiro no início das corridas, dizer qual o problema encontrado pelo jogador, e o próprio engenheiro fará o ajuste. Seja um problema na regulagem das marchas, como pouca aceleração, ou velocidade final baixa, ou ainda se o carro estiver saindo de frente nas curvas, ou com a suspensão muito rígida, enfim, o sistema funciona de maneira muito intuitiva e é de grande auxílio na hora das corridas.

O modo carreira segue exatamente os mesmos moldes do jogo anterior. Cabe ao jogador decidir se quer iniciar nas categorias de baixo e subir gradativamente, ou começar diretamente nas principais competições do automobilismo mundial. Em ambos os casos, o jogador não fica preso a uma única categoria. Entre uma corrida e outra, surgem convites para participar dos mais variados eventos. Também é possível criar afinidade com as marcas depois de competir por um determinado período com seus carros, podendo assim tornar-se piloto oficial daquela montadora.

No quesito gráfico o jogo oscila entre momentos estonteantes, como o pôr do sol durante uma tempestade, com os raios refletidos na água acumulada na pista, e outros nem tanto, com objetos sumindo ou aparecendo no horizonte não tão distante, serrilhados e quedas de framerate. Nenhum desses problemas técnicos, todavia, chegam a estragar a experiência, mas, sem dúvidas, tiram um pouco do brilho de Project CARS 2.

Os danos nos veículos continuam excelentes. Batidas lado a lado, que em um primeiro momento podem parecer inofensivas, logo se mostram mais graves, ocasionando problemas na direção ou até mesmo na suspensão. Em colisões mais fortes é possível que peças se acabem se soltando, como para-choques que ficam pendurados, ou até mesmo rodas que se desgarram do eixo.

O design de som, que já era excelente no primeiro jogo, em Project CARS 2 é simplesmente espetacular. Nada se iguala a ouvir o ronco de um Nissan GT-R rasgando as florestas de Nürburgring. Cada detalhe do som, como os estouros do escapamento, a suspensão rangendo ao subir na zebra, os discos de freio sibilando em curvas mais fechadas, está tudo fielmente reproduzido. No fim das contas, ganhar ou perder pode ser apenas um detalhe. Aproveitar Project CARS 2 com o volume alto é quase uma experiência transcendental.

Jogo analisado com código fornecido pela Bandai Namco.