Na já naturalmente pitoresca história da Falcom e da localização dos seus jogos para o Ocidente, a existência de um título crossover entre dois dos seus principais títulos sempre ocupou um lugar de especial destaque pelo quão estranha a sua própria existência é. Afinal, títulos crossovers não são necessariamente a coisa mais frequente na indústria como um todo, salvo por alguns bens populares, ainda mais no meio de 2010. Especialmente entre duas séries da mesma desenvolvedora. Em um jogo de luta.
Tá, essa segunda parte nem tanto, já que é justamente o gênero que mais costuma receber esse tipo de jogo/atração especial. Mas, ainda assim, a existência de Ys vs. Trails in the Sky: Alternative Saga é estranho por si só. Um jogo de luta de arena em 3D lançado em 2010 exclusivamente para o PSP e que nunca havia chegado por aqui, juntando as duas principais séries da histórica desenvolvedora japonesa. Mas um crossover que, novamente, acaba funcionando da forma mais estranha possível e imaginável mesmo que caminhe por territórios familiares.
O jogo traz um elenco de personagens todos extraídos de um recorte bem restrito de ambas as séries, ainda que dois dos mais aclamados nisso. De um lado, Ys vem representado por personagens extraídos todos de Ys Seven, o título mais recente da franquia naquele ponto. Do outro lado, The Legend of Heroes vem representado pelo elenco de Trails in the Sky, também a única parte daquela que viria a se tornar uma das mais épicas sagas da história dos RPGs que já havia sido lançada naquele momento (Trails from Zero seria lançado no Japão 2 meses depois). isso faz com que o relativo robusto elenco de 16 personagens jogáveis seja todo composto por esses jogos, salvo por uma participação especial e a mecânica de assists.
Mas, em se tratando de um jogo de luta, tão importante quanto o elenco é o sistema de combate e, bem, nisso já seria quase impossível Ys vs. Trails errar. Afinal, o jogo utiliza o sistema de combate de Ys Seven, utilizando o “bump system” que tornou o jogo um dos mais populares de toda aquela IP. Isso significa que todo o sistema de combate gira em torno de um botão de ataque, um botão de pulo, um de esquiva e um de guarda.
Apesar de ser um sistema relativamente intuitivo, ele é um dos mais profundos que um RPG de Ação tem para oferecer. Tudo começa pela riqueza de combos disponíveis para ataques aéreos, que são afetados pela trajetória do modelo do personagem, há um sistema de parry que dá acesso a dano crítico no contra-ataque e até um ataque especial ativado ao segurar dois botões que consome 20% da sua barra de energia para empurrar seus adversários para trás. Combine R2 com um dos botões de face e você terá acesso a diferentes habilidades que consomem SP, o que é recuperado ao sofrer ou causar dano.
O jogo traz uma dinâmica bem interessante de incorporar problemas de status como envenenamento, congelamento, confusão e mais ao jogo, o que traz um elemento estratégico bem interessante ao título. Guardas e dash não são infinitos, sendo restritos por uma barra de stamina que, caso se esgote, deixa o jogador temporariamente paralisado. Por fim, há uma última barra chamada EX Gauge, a qual ativa um ataque especial único de cada personagem com L1 ou pressionar L1 e R1 para invocar um personagem de suporte que luta ao seu lado por um pouco de tempo.
É bastante coisa quando se considera que é um jogo de luta lançado em 2010 e inspirado em um RPG de Ação de 2009, mas um que, em comparação com a profundidade oferecida por jogos de luta modernos, acaba sendo bastante interessante à primeira vista sem nada que o torne tão longevo assim mesmo entre os fãs mais hardcore do combate. Dito isso, ele traz várias amenidades úteis para um jogo como esse, com batalhas online para até 4 jogadores com direto a netcode via rollback. Ainda assim, o principal ponto aqui, mais do que as mecânicas, é o fanservice para os fãs da Falcom e, sinceramente, nesse ponto o jogo realmente entrega exatamente o que você deve esperar.
Nesse ponto, o jogo brilha muito pela quantidade gigantesca de modos de jogo que ele oferece. Além do já mencionado modo online, chamado de Network Mode, o jogo traz um Arcade Mode, no qual você irá enfrentar uma série de inimigos em uma batalha sequencial, um Free Mode que te permite montar lutas solo ou em duplas e um Story Mode, que é a principal estrela aqui. Nele, os personagens dos dois universos são convocados para uma terra chamada Xanadu que está sendo ameaçada por um dragão chamado Galsis num plot muito simples. Galsis é o responsável pela invocação deles e está fazendo lavagem cerebral para que eles aterrorizem o mundo. Cabe a você então derrotar os heróis, libertar a mente deles e montar uma rebelião contra Galsis.
Curiosamente, se você é um fã dos jogos da Falcom pela história, não espere absolutamente nada comparado com nenhum outro jogo dela. O plot é bem fraco (e bastante atrapalhado pela dublagem em inglês horrorosa que o jogo traz), apesar de se esforçar para justificar o crossover. Dito isso, são cinco caminhos diferentes a seguir, com Adol, Estelle, Geis, Cloe e Tita como protagonistas, com cada um rendendo entre 2 e 3 horas para se completar.
Ao longo das batalhas (tanto aqui, quanto nos outros modos), seus personagens vão ganhando experiência e Mona Points que podem ser utilizados para comprar novas habilidades, armas ou colecionáveis no Mona’s Shop. Entre batalhas é possível então melhorar seus personagens para melhor enfrentar as batalhas que virão pela frente ou até mesmo rejogar capítulos anteriores para grindar experiência. Felizmente o jogo te permite personalizar seus loadouts para o combate, sem a necessidade de ficar ajustando luta a luta.
Em termos de remaster, o jogo traz algumas melhorias bem-vindas. Não espere nenhuma revolução gráfica, afinal ainda é um jogo de PSP em 2D e feito com recursos limitados, vide a estrutura de visual novel no modo história, mas é agradável de se olhar. Pro quão ruim a dublagem é, a trilha sonora é um absurdo a parte, com algumas das melhores canções já compostas em RPGs compiladas aqui e algumas boas faixas inéditas. No mais, espere um autosave, uma seção Collection para ver wallpapers, vídeos e ouvir suas músicas e tudo mais que se esperaria.
No geral, Ys vs. Trails in the Sky: Alternative Saga é um bom jogo de luta muito no ponto em que se esperaria dele: o fanservice. Se você é um fã de uma das duas ou, preferencialmente, de ambas as franquias, há muito de diversão a se tirar das interações e ver personagens como Estelle e Kloe, oriundas de um RPG por turnos, lutando em uma trocação franca em uma arena 3D. Para quem já não era fã antes? O jogo é um divertido, mas, hoje em dia, bem comum jogo de luta que diverte, mas de forma bem limitada.
Ys vs. Trails in the Sky: Alternative Saga está disponível para PS4, PS5, Switch e PC. Esta análise é da versão PS5 e foi realizada com um código fornecido pela Refint/games.